CAPÍTULO 1: A TROCA

Conto de escritor.sincero como (Seguir)

Parte da série A VIDA QUE NÃO ESCOLHI

BOA NOITE, TUDO BEM? TRAGO PARA VOCÊS MAIS UM ROMANCE ESCRITO POR MIM. DESSA VEZ, VOU FOCAR EM UMA COISA MÁGICA, A TROCA DE CORPOS, VOCÊS VÃO ACOMPANHAR A SAGA DE SAMUEL E JONATHAN, DOIS JOVENS QUE NÃO TEM NADA HAVER, MAS QUE PRECISÃO TRABALHAR JUNTOS PARA ESCAPAR DE UMA SITUAÇÃO INUSITADA. ESPERO QUE GOSTEM:

- Eu não aguento mais, Jonathan. – disse Samuel ficando desesperado.

- Não vamos desistir. – falou Samuel, tentando arrombar uma porta de ferro para livrar o amigo.

- Você está muito machucado, não vai conseguir. Foge! Foge!! – gritou Samuel chorando e sentando no chão.

- Ei, Samuel. – chamou Jonathan ofegante e sentando no chão, próximo a porta, sem se importar com o fogo que se espalhava no galpão. – Você lembra como a gente se conheceu?

Antes de saber qual o problema aflige, Samuel e Jonathan, a nossa história volta para uma época onde os dois não se conheciam.

O verão na cidade de São Paulo é o inimigo de muitos brasileiros, principalmente, aqueles que possuem uns quilinhos a mais, como o caso do adolescente, Samuel Costa. Amante de K-POP, ele gosta de dançar, mas não se sai muito bem nesse quesito. O jovem é um participante assíduo dos eventos de cosplay, inclusive, já ganhou prêmios de melhor fantasia.

Apesar de ter poucos amigos, Samuel, é fiel a eles, principalmente, de Lana, uma adolescente de personalidade forte, e que não leva desaforo para casa. Os dois sempre realizam maratonas de doramas coreanos, sabem até mesmo a fala deles. O amor de Samuel pela cultura japonesa é tão forte que ele fez a mãe o matricular em um curso de Japonês, e pasmem, o jovem era fluente na língua.

Samuel mora com a mãe, Isabella, e a tia, Antonella, que juntas montaram um serviço de buffet, apesar do trabalho e desavenças, a família dele é unida. Ele não é próximo ao pai João, que vive viajando pelo país fazendo várias coisas erradas, como ajudar traficantes e participar de ilegais. No fundo, Samuel, não sente a falta dele, pois, o amor de sua mãe é suficiente para preencher qualquer buraco em seu coração.

- Boa tarde, meu amor. – diz Isabella, entrando com vários pacotes.

- Boa tarde, Bella. O que é isso? – perguntou Samuel, levantando para ajudar a mãe.

- Uns produtos que vamos usar para o bolo de carnaval de uma empresa.

- Família, cheguei! – grita Antonella.

- Como se essa precisasse de uma entrada triunfal. – comenta Isabella. – Onde você estava? Eu precisei carregar todos os pacotes.

- Irmã, nem te conto, sabe a vizinha do 490? Ela veio me acusar de dar em cima do marido dela, logo eu, um anjo em forma de gente.

Samuel e Isabella se olham e riem bastante, eles sabiam, que Antonella adorava paquerar o vizinho do 490. Na verdade, nos três anos que moravam no prédio, a tia já havia ficado com todos os homens disponíveis. Naquela semana, a última de férias, Samuel, se preparava para participar do primeiro evento de Anime do ano. Ele trabalha em uma fantasia de Transformers, só que havia um problema, o peso do jovem, afinal, nas férias, Samuel, ganhou pelo menos 10 quilos.

- Acho que alguém deveria fazer uma dietinha. – comentou Lana.

- Aff, eu devo ter engordado pelo menos dois quilos. – diz Samuel revoltado.

- Hum rum. Enfim, amigo. Agora precisamos de outra fantasia. – olhando no celular e fazendo uma expressão de surpresa. – Você não vai acreditar.

- O quê? – questiona Samuel.

- O gatinho do Jonathan Godoy vai tocar no Anime Plus. O nome da banda é Black River.

- Quem é esse?

- Para, somente o maior gatinho da nossa escola. Dizem que ele repetiu de ano e vai estudar com a gente. – diz Lana, com uma expressão apaixonada no rosto.

- Hello, estou com um programa real aqui. Preciso de uma fantasia. O El Diablo vai participar do concurso também. Não posso ir de qualquer jeito.

- Aff, quando você vai superar esse cara? Ele só te fez sofrer.

- Por isso mesmo, vou derrotar o Nando, então, preciso do cosplay perfeito.

Enquanto isso, Jonathan Godoy praticava com a banda ‘Black River’. Ele era um típico adolescente padrão, mas que escondia mais camadas de que qualquer um em seu grupo de amigos. Em casa, o jovem guardava um caderno com várias composições, só que por vergonha, ele escondia de todos.

Jonathan perdeu a mãe ainda muito novo, e não aceitava o fato de seu pai, Gláucio, ter casado com Wal, uma moça que poderia muito bem ser sua irmã mais velha. E apesar de estar sempre rodeado de pessoas, ele se sentia só, para o jovem, muitas pessoas só se aproximavam por causa da influência de seu pai.

Na banda, Jonathan amava ter todos em suas mãos, então, vez ou outra, ele jogava com seus amigos. Por exemplo, Jonathan sabia que Kleiton e Henrique, baixista e baterista da Black River, haviam brigado por uma garota, logo, tratou de juntar seus colegas para uma reunião. Claro que, para ter total controle sobre a situação, ele manipulava tudo.

- Chega. A nossa apresentação é no sábado, prestem atenção, por favor. Não quero ninguém brigando, ainda mais na banda, não você esteja errado Kleiton. – soltou Jonathan.

- Eu estou sempre certo. – afirmou o baterista da Black River. – Vou guardar essas tranqueiras, já volto. – saindo da sala de ensaio.

- Ei, Henrique. Cá entre nós, você sabe que está certo, né? Falei aquilo para massagear o ego ferido do Kleiton. – disse Jonathan.

- Eu entendo. Que seja. – Henrique se espreguiçou e guardou o baixo.

- Voltei.

- Ei, hoje vamos tomar umas brejas no Buracão. Vamos? – convida Henrique.

- Não posso, a chata da minha má drasta vai fazer uma festinha em casa. Prometi ao meu pai que iria.

- Puxa, beleza. Nos vemos no sábado, então.

Do estúdio para a casa, Jonathan não demorava tanto, mas ele fazia questão de pegar o metrô sempre para o lado oposto. Jonathan sentava em um dos assentos, ligava seu MP3, e viajava nas músicas. No trajeto, o jovem acabou adormecendo. Quem também pegou o metrô foi Samuel, a mãe, havia esquecido a máquina do cartão de crédito e pediu do filho que lhe entregasse.

Samuel sentou em uma cadeira na frente de Jonathan, ele ficou admirando a beleza do rapaz por alguns segundos, o momento teve até mesmo suspiros apaixonados. Para Samuel, Jonathan era um sonho muito distante, sabe, aqueles que são quase impossíveis de serem realizados. Um grupo de mulheres entrou no vagão, elas estavam acompanhadas de seus filhos, a bagunça acabou acordando Jonathan.

- Olha, mamãe. Aquele homem é gordo. – apontando para Samuel.

- Er, menino. Que falta de respeito, não se deve falar com as pessoas assim. – dando uma bronca na criança. – Moço, desculpa. – pediu olhando para Samuel.

Jonathan acabou rindo da situação, Samuel, ficou com tanta vergonha que desceu na estação seguinte, mesmo ela não sendo a parada final do jovem. Com lágrimas nos olhos, Samuel seguiu até o banheiro, onde encontrou um homem bêbado que começou a fazer várias perguntas indiscretas para ele. Realmente, aquela não era a noite de Samuel. Depois de entregar uma caixa para a mãe, ele seguiu para casa e fez a janta de seus irmãos, Suellen e Silvio, gêmeos idênticos.

- Samuel! Olha o que eu ganhei. – mostrando uma caneca para o irmão.

- Que linda, Suellen, quem te deu?

- A professora. A gente deveria pintar, mas eu preferi deixar ela branca mesmo.

-A sua cara fazer isso. Eu vou colocar a comida de vocês, vão tomar banho.

- Eu não quero. Tomei ontem. – contestou Silvio.

- Os dois, banho, agora. Caso contrário, sem leitura hoje. – ameaçou Samuel, sem olhar para os irmãos, já que cortava verduras na cozinha.

Enquanto esquentava a janta dos irmãos, Samuel, lembrou do que passou no metrô, primeiro o garotinho fazendo aquele comentário desnecessário, depois Jonathan que riu da situação, e em seguida, o homem bêbado perguntando se ele tinha “tetinhas de moça”. Aquilo, meio que fazia parte da vida de Samuel, só que algumas vezes machucava demais.

No fim da noite, ainda restava mais uma missão para Samuel, ele sempre lia para os irmãos, e a leitura da vez era ‘As crônicas de Nárnia’, um dos livros favoritos dele. Suellen e Silvio, prestavam atenção a cada palavra dita por Samuel, que adorava criar vozes para os personagens. Depois de derrubar as pestinhas, Samuel, seguia para o quarto e tocava teclado, claro que ele usava um fone, né? Afinal, acordar os irmãos significava ter que voltar ao serviço de babá.

Jonathan chegou em casa atrasado e não escondeu a chateação de estar ali. Ele sempre achou os amigos de seu pai esnobes e retrógrados. Por outro lado, Wal, paparicava o enteado de todas as formas possível, com o saco cheio, Jonathan pegou um prato de salgadinhos e seguiu para o quarto. Ele tirou o violão da caixa e começou a dedilhar algumas notas. Em seguida, o jovem folheou o caderno de composições e tocou uma música. Jonathan riu e deixou o instrumento de lado, ele não gostava das próprias músicas, achava que o amor era algo que não valia a pena.

- Jo Jo, com licença. – Wal pediu, entrando no quarto.

- Eu já disse um milhão de vezes para você bater. É tão burra que não sabe o que isso significa? – indo até a porta e batendo. – É assim que se faz. E outra, o meu nome é Jonathan!

- Desculpa, eu, quer dizer, vi que trouxe um prato de salgadinhos, mas não pegou suco. – deixando a garrafa em cima da mesa.

- Valeu, mas tô de boa. Agora pode sair do meu quarto, por favor. – com um tom irônico.

- Tudo bem. – diz Wal, arrumando o vestido e saindo em seguida.

- Merda. Ela acha que vai me comprar com gentilezas? Qual é, muito mané.

O grande dia chegou, Samuel e Lana, foram até o parque de eventos do bairro, o local sediaria o Anime Plus. Eles seguiram para o banheiro, onde Samuel se transformaria Thanos, da Marvel. Com muita dificuldade a dupla terminou. Lana, chamou a atenção de todos, ela se caracterizou de Gamora. O Anime Plus lotou naquele sábado, muitos fãs e admiradores da cultura japonesa e coreana se reuniram para celebrar.

Para Jonathan e seus amigos, aquilo era uma verdadeira palhaçada. Eles só decidiram tocar no evento pelo cache, apesar de Jonathan não precisar. Ele gostava de atenção. No repertório, o grupo adaptou algumas músicas de desenhos famosos, como Pokémon, Digimon, Cavalheiro dos Zodíacos, entre outros. Antes de subir ao palco, Jonathan, tirava um momento sozinho, ele seguiu para os bastidores e encontrou Samuel, foi inevitável, pela segunda vez, Jonathan, riu de Samuel.

- Qual é a graça? – perguntou Lana, de forma agressiva.

- Calma, pantera. Não foi nada demais. Só que o Thanos não dizimou a galáxia, né? Ele comeu mesmo.

- Seu babaca. Até te achava gatinho, mas acho melhor partir tua cara – partindo para cima de Jonathan, mas sendo impedida do Samuel.

- Vem, não vale a pena. A competição começa depois deles. Vamos nos preparar. – pediu Samuel.

- Sorte sua, seu babaca, branquelo. – diz Lana, cuspindo no chão. – Se eu te pegar, olha. – batendo uma mão na outra, dando socos.

- Uuiiii, que medo. – brincou Jonathan, voltando para o camarim.

- Que ridículo! – exclama Lana que pega o celular e começa a deletar várias fotos.

- O que você está fazendo?

- Apagando as fotos desse idiota. Como eu fui gostar de um homem assim? – questionou Lana.

- Eu não estou preocupado com esse comentário.

- Eu não entendo, de verdade, o que acontece com essas pessoas, sabe? Tem cada um sem noção. Não esquenta amigo. Sua fantasia é linda.

- O El Diablo está aqui.

Se tem uma pessoa que Samuel odeia é El Diablo, seu nome era Fernando, um rapaz magro, cheio de espinhas, mas que arrasava em um cosplay, naquele dia, o jovem estava vestido de Bumblebbe. Ele chamou a atenção de todos na festa, o público pirou quando viu o robô. Samuel quase tem um treco, afinal, ele se vestiria de Transformers também. Lana até que tentou resistir, só que acabou tirando uma selfie também.

- Qual é. É o bumblebee. Uma oportunidade única.

- Então, Samuca? Que fantasia legalzinha. – comenta Nando. – Pera aí. – tirando a máscara amarela. – Assim é bem melhor. – olhando Samuel de cima a baixo. – Bem, já vi resultados piores. Boa sorte.

- E o seu bumblebee está na cor errada. – respondeu Samuel.

- Enfim, quem vai decidir são os jurados. Agora, com licença, os fãs querem tirar fotos. – falou Nando.

A banda de Jonathan subiu ao palco e começou a apresentação, muitos fãs de animes se aproximaram para curtir o som. Eles pegaram pesado no repertório, a primeira música foi ‘Cha-la head-cha-la’, do Dragon Ball, em seguida, ‘Digimon Digitais’, do desenho Digimon. Enquanto isso, Samuel tentava arrumar sua fantasia para o campeonato de cosplay, Lana, por outro lado, decidiu atrapalhar a performance de Jonathan. A amiga de Samuca, chegou para um de seus colegas, que dançava ao som da ‘Black River’.

- Ei, sabia que o vocalista falou que Boruto é melhor que Naturo? – perguntou Lana para Rick, um amigo.

- Mentira, que palhaçada. Só existe o Naruto! – exclamou Rick.

Rick falou para alguns amigos, e a fofoca se espalhou mais rápido que pólvora. Quando a ‘Black River’ tocava a música tema de Pokémon, o público começou a vaiar, alguns discutiam, sem entender, Jonathan, continuou tocando, mas alguém subiu no palco, tomou o microfone, mesmo assustado, o vocalista da banda não saiu de perto.

- É verdade? Você acha Boruto melhor que Naruto? – perguntou um jovem.

- Eeer... – Jonathan coça a cabeça, sem saber o que responder. – Quem é Boruto? – questiona.

Todos começam a vaiar Jonathan, e em coro cantam: “Ih! Fora! Ih! Fora!”. Sem muita opção, o trio deixa o palco. Jonathan ainda sem entender a situação, busca na internet, e descobre que a confusão toda era por causa de um desenho, quer dizer, um anime, bem famoso por sinal. Samuel conseguiu pegar parte da polêmica, mas sua cabeça não saia do concurso.

O apresentador do evento, acalmou o animo dos participantes e anunciou que começaria o grande desfile de cosplay. Muitos competidores disputavam o prêmio, que era basicamente, um troféu velho e um vale lanche, só que para Samuel, aquilo significava guerra. Ele e Lana apresentaram uma das cenas mais impactantes de ‘Vingadores: Guerra Infinita’, o público aplaudiu a apresentação da dupla, uma grande atuação por parte de Lana, que inclusive derramou algumas lágrimas.

A performance de Nando era uma das mais aguardadas naquela noite. Ele entrou como um carro e ao som de música eletrônica se transformou em Bumblebee. Samuel ficou furioso, afinal, a ideia era dele. Muitos flashs e aplausos, o apresentador encerrou a disputa e pediu um tempo para a apuração dos votos. Lana e Samuel, não se aguentavam mais de curiosidade, depois de 10 minutos, que pareceram duas horas, o resultado chegou.

- E quem ganhou o prêmio de melhor cosplay do Anime Plus é. – tirando o nome de um envelope. – Fernando, com o bumblebee.

Todos aplaudiram a vitória de Nando. Ele subiu ao palco, agradeceu a todos, e mandou um beijo para Samuel. Apesar da derrota no prêmio principal, Lana e Samuel, ganharam como melhor dupla, pelo menos, um troféu eles levaram. Quando chegou em casa, o Thanos, assustou toda a família, a tia Antonella, quase o acertou com uma vassoura. Samuel passou 3 horas no banheiro para tirar a tinta roxa de seu corpo, enquanto tomava banho, o jovem conversa com Lana, que sofria o mesmo processo.

- Muitas expectativas para segunda? – perguntou Lana colocando o celular apoiado na pia do banheiro.

- Não. Só espero que acabe logo.

- Deus, essa tinta não sai nunca. Minhas orelhas estão esfoladas. – reclamou Lana. – Bem, espero que saia até segunda. Amigão, vou dormir. Estou mortinha da Silva.

- Tudo bem. Beijos. – pegando o celular e desligando.

Enquanto, Samuel preparava para dormir, Jonathan, pulava a janela de casa para farrear. Ele adorava dançar, principalmente, música eletrônica. Depois de muito álcool, os amigos de Jonathan, desmaiaram. O jovem seguiu para outra festa, mas uma coisa chamou sua atenção, um bar de drags. O segurança o deixou entrar sem muitos problemas.

Pela primeira vez, Jonathan, assistia a um show de drags, ele ficou fascinado com as performances. De repente, o rapaz identifica um dos colegas de escola, com muito esforço, Jonathan, consegue despistar da pessoa, e sai. Depois de perambular pela Avenida Augusta, ele chega na Avenida Paulista, e espera a abertura das portas do metrô.

O domingo seguiu de forma tranquila para Samuel. Ele acordou cedo, arrumou o material para a escola, e baixou vários episódios de seu dorama favorito. A mãe e a tia precisariam sair para organizar um batizado, então, a partir daquele momento, Samuel entrava no modo ‘Super Nanny’.

- Atenção, os dois, eu preciso terminar dois episódios do meu dorama, então, sem confusão. – falou, Samuel, em tom sério para os irmãos.

Já Jonathan acordou após às 16h, ele desceu e bebeu água. Seu pai e madrasta não estavam em casa, mas o jovem encontrou um prato de comida a sua espera. Com uma ressaca colossal, Jonathan, passou o resto do domingo sonolento. Ele acordou com Dona Joana, a empregada da casa, o chamando para tomar café.

- Mas já é segunda-feira? – ele perguntou sem se mexer.

- Essa juventude de hoje. – colhendo várias roupas de Jonathan do chão. – Você tem 10 minutos para se arrumar. Anda.

Na casa de Samuel, as coisas eram uma loucura, não se sabia quem era mais irresponsável, as crianças ou os adultos. Isabella e Antonella, formavam uma bela dupla no trabalho, mas em casa, o caos operava. Samuel pegou a mochila, se despediu de todos e seguiu para a escola, ele era bolsista, e sabia a importância daquilo para sua mãe. Mesmo sendo alvo de bullying, Samuel, nunca desistiu de buscar o melhor.

Jonathan desceu e sua madrasta já havia servido o café. Rabugento, ele começou a servir um prato pequeno. Wal tentava puxar assunto, mas era sempre cortada pelo enteado. Gláucio não entendia esse ódio gratuito que Jonathan sentia por sua esposa. O silêncio imperou naquela manhã, todos comiam e olhavam para seus celulares. Antes de sair, Gláucio ofereceu carona para o filho, que não aceitou.

O universo escolar, tão calmo e discreto, só que não. Na Escola Marisa Teixeira, os alunos eram tudo, menos discretos. Samuel chegou cedo, ele e Lana, queriam sentar juntos novamente, afinal, o jovem não se sentia bem sentando ao lado de estranhos, principalmente, os que faziam bullying com ele. Antes do sinal bater, a dupla já havia escolhido as carteiras que sentariam durante o resto do ano.

- Olha, carteiras novas. Mas acho que uma mesa para dois alunos vai ficar difícil, né? – perguntou Lana.

- Sim, eu preferia as carteiras antigas, pelo menos a gente vai conseguir passar cola mais fácil, um ponto positivo. – afirmou Samuel.

- Sabe de uma coisa? Estou me sentindo em um dorama. – comentou Lana, pegando seu estojo. – Será que meu senpai* vai aparecer?

- Teu senpai eu não sei, mas o Enem está na porta. Quer mesmo fazer publicidade?

- Claro. Meu sonho. E a tua opção ainda é arquitetura?

- Sim. Se deus Goku permitir.

Aos poucos, os alunos foram entrando, alguns rostos novos se destacavam. Jonathan chegou no tempo limite, com grandes óculos escuro no rosto, sinal da ressaca que tinha. Claro, que a abelha rainha da sala, Lorena, não demorou para demarcar território. Lana assistiu a toda cena rindo, ela sabia que Lorena faria de tudo para por as garras em Jonathan, já Samuel parecia distraído, na sua cabeça, Nando, deveria ter ficado em último lugar na competição.

- Samuel. Terra para Samuel. – diz Lana estralando os dedos próximo ao rosto de Samuel.

- Oi?

- Olha, o papelão que a Lorena está pagando. Ridícula. O boy mal chegou. Mas bem que ele merece, né? Tomara que pegue herpes dela.

- Ela sempre faz isso. Lembra que no ano passado foi o Jota.

- Verdade, e ano retrasado foi Vagner. Essa menina não sossega a periquita.

- Boa tarde, alunos. – disse o diretor Bartollo entrando na sala.

- Bom dia, diretor!! – os alunos dizem em coro.

- Credo, precisa gritar. – comenta Jonathan, visivelmente incomodado.

- Então, antes de começarmos as aulas vou passar as diretrizes para vocês que vão se formar esse ano.

Duas horas de chatice. O diretor Bartollo explicou para os alunos tudo o que eles já sabiam, principalmente, sobe o Enem, uma das provas mais importantes do ano. Jonathan cochilou parte desse tempo, no outro, desejou morrer. O último aviso do diretor deixou todos os estudantes revoltados, por causa de um caso de bullying no último ano, os estudantes da Escola Marisa Teixeira, estudariam em carteiras diferentes, seria feito um sorteio para selecionar as duplas.

- Eu não acredito, e se eu pegar alguém burro? – pergunta Lana para Samuel.

- Isso é a última coisa que me preocupa. – responde Samuel parecendo mais nervoso que o normal. – Droga.

A professora de português, Selma, ficaria responsável de selecionar as duplas. Antes do sorteio começar, Jonathan passou mal e precisou sair da sala. Muitos alunos riram das caretas que ele fez. Selma anotou o nome de todos os alunos, colocou em uma urna e iniciou a seleção. Lana foi o primeiro nome sorteado, e em seguida, Lorena. Samuel fez de tudo para não rir da amiga. Uma por uma, as duplas eram montadas, e Samuel, acabou sobrando.

- Bem, Samuel, acho que você fica com o Sr. Godoy.

- Ótimo. – diz Samuel, olhando para Lana.

A professora deu continuidade a aula, depois de muito vomitar, Jonathan retornou e ficou assustado ao ver todos em lugares diferentes. Meio desconfiado, o jovem caminhou até sua carteira e sentou ao lado de Samuel. Eles se olharam, mas não esboçaram nenhuma reação. Já Lana queria se matar, Lorena, fazia a linha falsa amiga, algo que a jovem detestava.

- Olá. – falou Jonathan. – Tomei um susto, pensei que ainda estava bêbado.

- Olha, cara, eu não quero confusão, ok? Vamos ficar a nossa, esse ano focarei no Enem, então, preciso de boas notas.

- Tudo bem, calma, estressadinho. – colocando óculos de volta.

- Silêncio. – pediu Selma. – Abram o livro na página 4, por favor.

A aula aconteceu de forma tranquila. Os alunos foram liberados para o intervalo. Lana e Samuel decidiram lamentar a decisão do diretor na lanchonete da escola, eles eram melhores amigos da merendeira, a dona Clotilde. Naquela manhã, o lanche seria mingau de banana, o preferido de Samuel. Jonathan aproveitou o intervalo para dormir, afinal, a ressaca ainda imperava em seu sistema.

O segundo tempo seria educação física, Samuel, havia feito amizade com todo o corpo docente da escola, então, conseguiu a liberação da aula. Ele aproveitava para colocar em dia as disciplinas de química e física.

Lana recebeu um recado no celular, um novo parque abriu na cidade, ela em seguida, enviou uma mensagem para Samuel. Eles combinaram de ir no final da aula. Lorena, por sua vez, encontrou Jonathan, e os dois também decidiram conhecer o parque. Após a aula, parte dos estudantes seguiram para o local onde o ‘Parque Sonhos’, estava.

- Olha só, que gatinha. – disse Henrique. – A apresenta as amizades, Jonathan.

- Lorena, esses são Henrique e Kleiton.

- Olá, meninos. O Jonathan me contou da ‘Black River’. Vocês já têm uma nova fã.

- Queria que todas as nossas fãs fossem assim. – afirmou Kleiton.

Todos ficaram decepcionados, o Parque abriria apenas no sábado, então, era necessário esperar toda a semana. O grupo de Jonathan, esbarrou com Samuel e Lana. O encontrou não podia ser mais desconcertante, nessa hora, Lorena derrubou um copo de suco que segurava. Henrique e Kleiton acusaram Samuel de ter feito aquilo, mesmo não tendo provas.

- Foi essa rolha de poço. – afirmou Henrique.

- Você me molhou toda, tinha que ser o ‘Samugordo’. – soltou Lorena, realmente chateada.

- Ei, garota. Você pensa que é quem pra falar com meu amigo assim? – perguntou Lana. – Ele não fez nada, com certeza, tú se desequilibrou por causa da tua tinta de cabelo.

- Me respeita, menina, você sabe com quem está falando? – questionou Lorena.

- Sim, com a babaca que eu vou ter que dividir a carteira até o final do ano.

- Oh. – Lorena fez uma careta e pareceu ofendida.

- Ei, galera. O gordinho já pediu desculpa. – disse Jonathan. – Vamos esquecer tudo isso.

- Qual é, Jonathan. – interveio Kleiton.

- Bem, já que nos resolvemos, com licença. – pediu Samuel, quase levando Lana arrastada.

- Ei, cara. Por que fez isso?

- Meu caro, Henrique. O gordo vai pagar. Vamos fazer a vida dele miserável neste semestre. – explicou Jonathan, rindo e olhando para Samuel.

Na terça-feira, Samuel chegou na escola e levou sua inscrição para o curso de desenho computadorizado. O jovem deixo a mochila em cima da carteira e sentou com vontade, ele soltou um grito abafado e percebeu que haviam várias tachinhas em sua cadeira. Jonathan entrou na sala um tempo depois, e riu da situação, Lorena apareceu e agradeceu o amigo. Depois da aula de biologia, Samuel levantou para o intervalo, Jonathan colocou o pé na frente e o jovem se esborrachou no chão. Todos na sala riram da situação.

- Amigo! – exclamou Lana ajudando Samuel. – Cuidado.

- Ei, ‘Samugord...’, digo, Samuca, cuidado para não machucar alguém. – pede Jonathan antes de sair da sala.

Jonathan e Lorena armaram mais um plano para humilhar Samuel. Eles aproveitaram o horário do lanche, entraram na sala e passaram cola na carteira. Lorena adorou o plano, afinal, ela ainda estava possessa por perder uma de suas blusas favoritas. Com o serviço completo, a dupla deixa a sala. No refeitório, Samuel, ainda se recuperava da queda.

- Que vergonha. – ele diz colocando a cabeça contra a mesa.

- Relaxa. Acontece. Quem nunca caiu? – pergunta Lana. – Agora, olha isso. – mostrando um panfleto para Samuel. – Esses são os brinquedos do ‘Parque dos Sonhos’. Amigo, a gente precisa ir.

- Eu vi na página oficial deles. Espero que não fique lotado.

- Precisamos garantir nosso lugar.

A próxima aula seria de física, o pesadelo na vida de Samuel. Jonathan retornou para a sala, para distraí-lo, Lorena chegou e disse que não estava mais chateada com a situação da farda, e abraçou Samuel. O jovem sentou e a prestou bastante atenção na aula. Jonathan mal podia esperar para o fim daquela aula. Lana também queria ir embora, não aguentava ter que ficar ao lado de Lorena. Após muita chatice, o sinal toca, o professor pede para que os alunos peguem em suas mesas a programação das aulas. Samuel levanta de uma única vez, e sua calça rasga. Ele não percebe, mas os alunos começam a rir, alguns dão gargalhadas.

- Droga! – exclama Lana, levantando e ficando atrás do amigo.

- O que foi? – perguntou Samuel.

- Digamos que o Bulbassauro quer sair da pokébola. Migo, tua calça rasgou.

- Merda. – pegando na calça e sentido o tecido rasgado. – Me ajuda.

- Professor, tivemos um problema técnico. – ajudando Samuel a sair.

Lorena vai até a mesa de Jonathan e o agradece. Ela diz que gravou um vídeo e envia para o jovem. Enquanto isso, Samuel, morria de vergonha no corredor, ele conta para Lana que não sentiu o tecido rasgar. Aquela era a única farda que Samuel possuía, isso significava que ele precisaria comprar outra.

Jonathan chegou em casa e compartilhou tudo nas redes sociais. Henrique e Kleiton quase morrem de rir ao assistirem ao vídeo, principalmente, quando veem o desespero no rosto do jovem. Sem ter muito o que fazer, Jonathan, decide tomar banho de piscina e encontra Wal no jardim.

- Filho, o seu pai viajou.

- Eu te disse para não me chamar de filho.

- Puxa, Jon Jon, eu te crio desde quando você tinha 10 anos. Pega leve comigo, eu amo você e seu pai. – diz Wal, deixando os produtos de jardinagem no chão.

- Você não cansa de ser destratada? Eu detesto você. Sabe quando vou ser teu amigo? Nunca. Você está com papai há quantos anos? Seis? Bem, eu soube que no sétimo ano de casamento sempre rola uma crise, se eu fosse você tomaria cuidado.

- Não fale isso, por favor. Eu amo seu pai.

- Bem, acho que papai vai preferir um modelo mais novo. Você tem quantos anos, 27? Foi um prazer te conhecer, Wal. – finaliza Jonathan piscando para Wal e indo em direção a piscina.

- Esse menino não aprende.

Isabella ficou chateada com o descuido de Samuel. Ela deu um sermão de meia hora no filho. Para a família Costa, o dinheiro estava escasso e mais uma conta não iria ajudar em nada. Samuel teve que ativar o modo ‘Super Nanny’ naquela noite. Os pestinhas só sossegaram quando o irmão terminou de ler o último livro de ‘As Crônicas de Nárnia’.

- Para eles, porém, este foi apenas o começo da verdadeira história. Toda a vida deles neste mundo e todas as suas aventuras em Nárnia haviam sido apenas a capa e a primeira página do livro. Agora, finalmente, estavam começando o Capítulo Um da Grande História que ninguém na terra jamais leu: a história que continua eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor do que o anterior. Fim. – fala Samuel, se emocionando, mas não deixando transparecer para seus irmãos.

- Como assim fim? – questiona Silvio. – Eles... eles morreram?

- Eu não gostei desse final. E a Susana? Não vai para Nárnia? – questionou Suellen cruzando os braços.

- Bem. É uma história confusa, eu sei, eu mesmo não entendi quando li pela primeira vez, mas Aslan, tipo levou todos aqueles que amavam Nárnia, para a verdadeira Nárnia. Um lugar que não existe dor, sofrimento, e essas coisas. Bem, agora vocês precisam dormir.

- Samuel, eu vou para a verdadeira Nárnia? – pergunta Silvio.

- Acho que todos vamos, maninho. Você não precisa pensar nisso agora. Amanhã a gente começa a ler ‘O Pequeno Príncipe’. Boa noite.

Na quarta-feira, uma forte tempestade foi anunciada pelos jornais, mas o comentário do dia era a calça rasgada. ‘Samuel Calça Rasgada’, um aluno gritou quando viu Samuel entrar na escola. A semana passou e todos os tipos de acidente aconteceram com ele, desde escorregar em uma casca de banana até cola presa no cabelo, Samuel e Lana, tentavam encontrar uma ligação entre as situações, porém, não conseguiram chegar a lugar algum.

- Amigo, pelo menos a semana está acabando. Vamos aproveitar o parque, né?

- Claro, Lana. Preciso de um pouco de adrenalina.

Jonathan terminava uma obra de artes na sala, enquanto, Lorena vigiava a parta. Ele fez um desenho grotesco de Samuel com as calças rasgadas. O sinal tocou e os alunos retornaram. Lana viu o desenho na lousa e correu para apagar, mas Samuel ainda conseguiu ver, ele olhou para a sala, e todos riam bastante. Jonathan sorriu com a reação dele. Samuel apenas sentou na carteira em silêncio.

- Belo desenho. – desdenhou Jonathan. – A pessoa que fez isso capitou bem a sua essência. Feio por dentro, e por fora.

- Me deixa em paz, babaca. – olhando para o caderno.

O coração de Samuel queria chorar, mas ele estava tão acostumado com esse tipo de situação que achava melhor esquecer, depois do colégio, o jovem se mudaria de cidade e procuraria novas oportunidades de ser feliz. Jonathan, apesar de ser um tremendo idiota, também se sentia da mesma forma, em seu coração, aquela cidade não era para ele.

O sinal bateu, antes de sair da cadeira, Samuel verificou se não estava grudado. Ele e Lana seguiram para o Parque dos Sonhos. Apesar do céu cinza, muitas pessoas foram conferir a novidade. O local estava diferente, alguns brinquedos foram substituídos. O grupo de Jonathan, o ajudaria a pregar mais uma peça em Samuel. Eles se encontraram na praça de alimentação e iniciaram o plano maluco. A ideia seria prender Samuel em uma das atrações, um tipo de tubo de ensaio que dava voltas no ar.

O forte vento começou a soprar e levou embora uma faixa de segurança que estava no ‘Ciência Maluca’. Sem saber do que aconteceria, Samuel decidiu testar a sorte em um dos brinquedos. Era uma máquina que previa o futuro. O jovem colocou o bilhete, fechou os olhos e desejou uma resposta animadora. ¬¬¬¬“VOCÊ AINDA VAI ENCONTRAR AQUILO QUE PROCURA. LEMBRE-SE, SEJA FIEL A SI MESMO”.

- Que tipo de conselho é esse?

- Amigo. Consegui mais bilhetes. Vamos no ‘Ciência Maluca’?

Eles seguiram até o tal brinquedo. Ao chegarem lá, encontraram Jonathan, que parecia preso em um dos tubos. Ele pediu ajuda de Lana e Samuel, mesmo contra vontade, os dois decidiram ajudar. Quando eles abriram a capsula, Jonathan, tentou puxar Lana para dentro, mas a jovem o aplicou um golpe de karatê e jogou o rapaz de volta no brinquedo. Ela só não percebeu que Henrique e Kleiton empurraram Samuel também.

- Ei, seus babacas! – gritou Lana, correndo e aplicando mais golpes de karatê nos dois.

- Para. – pediu Kleiton caindo no chão.

- Ei. – disse um dos fiscais do parque. – Esse brinquedo não está funcionando. Cadê a fita de segurança?

- Como assim não funciona? – pergunta Lorena.

Do nada, o brinquedo começa a levantar. Os tubos eram erguidos a 20 metros do chão, em seguida ficavam girando de um lado para o outro. Desesperado, o fiscal do parque pede para a segurança cortar a energia. Samuel olha para Jonathan, que está muito nervoso. Como diz a frase ‘não há nada tão ruim que não possa piorar’. A chuva que ameaçava a cidade caiu, nossa, e como caiu. Lana, Kleiton, Henrique e Lorena, assistiam aflitos.

- Isso é tudo culpa de vocês. – puxando as orelhas de Kleiton e Henrique. – Se alguma coisa acontecer com o Samuel, eu juro, que... – apertando mais forte.

- Não. – disse Kleiton, ficando de joelhos. – Foi sem querer.

- Espera, ai. – pediu Henrique.

- Está muito alto. – Lorena olhando para cima, mas com dificuldade por causa da chuva.

No alto, Samuel e Jonathan, começaram a se desesperar, o brinquedo começou a vazar, e a água enchia as cápsulas. Eles sentaram nas cadeiras, mas os cintos não prendiam, ou seja, se o brinquedo começasse a rodar, adeus. O nervosismo de Samuel passou, ele ficou muito puto com Jonathan, que gritava como uma criancinha.

- Cala boca! – gritou Samuel. – Isso é tudo culpa tua, né? Você é o maior cretino. Vamos morrer, e tudo por sua causa.

- Desculpa, tá. Eu não sabia que tua amiga lutava karatê. – se aproximando de Samuel.

- Foi você, né? Tudo o que está acontecendo comigo? Os desenhos, a cola, as tachinhas. O que eu fiz para você? – questionou Samuel.

- Você mexeu com uma amiga.

- Amiga? Você conhece a Lorena há uma semana. Eu sou um cara legal, tá. Ao contrário de você! – gritou Samuel.

- Você não me conhece! – respondeu Jonathan.

- E você, acha que me conhece? Transformou a primeira semana de aula em um inferno... – colocando uma das mãos no vidro.

- Desculpa, se eu passei dos limites. Eu... desculpa. – colocando a mão na mesma posição de Samuel.

Um forte raio cai em cima do brinquedo. Todos que estavam próximos correram a procura de um abrigo. Samuel e Jonathan sentiram a eletricidade passando por seus corpos, seus olhos se conectaram, uma forte luz dificultou a visão dos dois, então, o brinquedo começou a girar para todos os lados. Samuel conseguiu se segurar, mas por causa da rotação desmaiou, já Jonathan não teve tanta sorte, com o impacto bateu a cabeça.

- Meu Deus! – gritou Lana. – O que está acontecendo?

A cabeça de Samuel estava doendo muito, ele acordou, mas não conseguiu abrir os olhos. De repente, o jovem começou a ouvir vozes que ficavam mais altas. Samuel viu uma mulher vestida de preto na sua frente, ela se aproximou, o olhou e saiu do quarto. Wal, a madrasta de Jonathan entra e percebe que o jovem está acordado.

- Onde estou? – pergunta Samuel, tentando levantar.

- Filho! – grita Gláucio abraçando Samuel.

- Quem é você? – pergunta Samuel.

- Calma, vou chamar o médico. Ele disse que a confusão ia acontecer. – diz Gláucio saindo da sala.

- Filhinho. – fala Wal aos prantos. – Fiquei tão preocupada.

- Você não é a minha mãe. – comenta Samuel, ainda zonzo.

- Filho, para, por favor. Eu já chorei tanto.

No outro corredor do hospital, Lana, estava impaciente, a jovem andava sem parar. Isabella e Antonella chegaram desesperadas, o médico explicou tudo o que havia acontecido e o jovem ainda dormia com a ajuda de medicamentos. Parece que Samuel havia surtado por algum motivo relacionado ao acidente.

- Ele sofreu um trauma muito forte. Vamos esperar ele acordar para fazer novos exames. – diz o médico.

- Lana, você pode fazer um grande favor? As crianças estão em casa. – tirando dinheiro da carteira e entregando para Lana. – Você cuida deles, por favor?

- Eu cuido, sem problemas. Me avisa sobre qualquer mudança no quadro do Samuca.

Samuel ainda não conseguia entender o que estava acontecendo. O jovem pediu um copo de água de Wal. Ele aproveitou a situação para fugir, a cabeça dele ainda doía bastante, mesmo assim, o jovem continuou. Samuel viu uma placa com o seu nome e entrou em estado de choque.

Samuel viu a si mesmo deitado na maca. Ele olhou para as suas mãos e percebeu que aquele não era o seu corpo. Samuel foi até o espelho e gritou. Seus olhos encheram de lágrimas, uma enfermeira viu a movimentação, mas ele conseguiu se esconder.

- Meu... meu... meu Deus. O que está acontecendo? – pensou o jovem indo em direção a seu corpo. – Sa...Sa.. Samuel, acorda. – batendo em seu rosto.

- Hum... onde? – diz Jonathan abrindo os olhos. – O que aconteceu?

- Quem é você? – perguntou Samuel.

- Que pergunta mais idiota, sou eu o Jonathan. – abrindo os olhos e se assustando ao se ver. – Que porra é essa? Eu morri?

- Jonathan, oh céus. Não. Não. – diz Samuel andando de um lado para o outro. – Isso não pode ser verdade.

- Você pode me explicar o que eu estou fazendo andando? – questionou Jonathan.

Samuel tentou levantar Jonathan da cama, mas teve dificuldade, afinal, agora o jovem cantor estava com 30 quilos a mais. Eles foram até um espelho e Jonathan desmaiou ao entender tudo. Nervoso, Samuel, começou a bater no rosto de Jonathan, que agora estava preso em seu corpo. Ele viu um vidro de álcool, colocou em um pano e deu para o colega cheirar. Aos poucos, Jonathan recobrou os sentidos.

- Cara, eu tive um pesadelo horrível. Eu estava preso no corpo do ‘Samuel Calça Rasgada’ – rindo e gritando ao ver seu rosto.

- Não foi um sonho, gênio. A gente trocou de corpo. Eu tô desesperado.

- Meu Deus. Tenho tetinhas. – pegando nos peitos. – O que vamos fazer?

- Não sei, estou tão desesperado quanto você.

- Jesus! – gritou Jonathan olhando para cima. – O que eu fiz de errado?

- Agora você é religioso, é? Bonito para a tua cara.

- Precisamos buscar ajuda médica.

- Não podemos contar nada. Vão querer fazer testes na gente. Igual como fazem na Área 51. – disse Samuel levantando com facilidade.

- Ei, me ajuda aqui. – pediu Jonathan levantando com dificuldade. – Cara, eu estou tremendo. – mostrando as mãos tremulas para Samuel. – Isso só pode ser uma viagem da nossa cabeça.

- Você lembra do acidente? Você não sentiu uma energia diferente? – perguntou Samuel.

- Sim, mas recordo de uma luz branca também. Meu Deus, isso só pode ser castigo. Caralho, puta que pariu.

- Ei, olha a boca. Eu não falo palavrão, não.

- Samuel, estamos fodidos, fo-di-dos! Você tem noção? – perguntou Jonathan.

- Estamos mesmo. Eu preciso voltar, a tua mãe foi pegar um copo d’água.

- Ela não é nossa mãe, digo, minha mãe. Ela é Má Drasta. Se chama Wal. O nome do papai é Gláucio. – diz Jonathan, no corpo de Samuel.

- Papai? Enfim, o nome da minha mãe é Isabella, e da minha tia Antonella.

- E seu pai?

- Ele morreu, quer dizer, figuradamente, na verdade, ele nos abandonou. Tenho dois irmãos, Silvio e Suelen.

- Oh, eu não sabia, sinto muito, eu.

- Não temos tempo para lamentar, Jonathan, precisamos sair dessa confusão. Eu já vou.

- Entendi. Você vai voltar, né?

- Claro que vou, idiota. E fique sabendo que isso é tudo culpa tua. – protesta Samuel, gritando e falando baixo ao mesmo tempo.

- Eu já pedi desculpa. Eu fui castigado. Estou com uns 300 quilos.

- 110, tá. Perdi três.

- Tá bom. – diz Jonathan com um tom sarcástico.

- Tá. Merda, eu já vou. Te encontro depois.

Jonathan deitou na cama, e não demorou nada para Isabella entrar aos prantos. Ele estranhou, mas tentou tranquilizar a mãe de Samuel. Wal entrou no quarto e reparou que Jonathan não estava lá, Samuel, no corpo de Jonathan, entrou e assustou Wal. O jovem deitou na cama e agradeceu pelo copo de água. O médico entrou junto com Gláucio. No acidente, Jonathan, havia batido a cabeça várias vezes, porém, quem sentia a dor era Samuel.

- Doutor, o meu filhinho vai ficar bem? – pergunta Wal pegando nas mãos de Samuel.

- Até o momento, os exames não deram sinal de nenhuma lesão grave, por precaução, o Jonathan vai ficar em observação essa noite. – explica o médico.

- Claro, doutor. Qualquer coisa. – ressaltou Gláucio, pegando na mão do filho. – Sinto muito, filhão.

- Tudo bem. Eu estou bem, né? – pergunta Samuel.

O coração de Samuel parece que ia pular do peito de Jonathan, o jovem pegou o celular e ficou se olhando na câmera frontal. Wal viu a cena, e garantiu para Samuel que os pontos na cabeça não deixariam marca. Samuel agradeceu, e a madrasta de Jonathan, estranhou. Lorena, Henrique e Kleiton, visitaram o amigo, quer dizer, pelo menos eles pensavam desse jeito. Samuel não aguentou, e soltou os cachorros em cima dos amigos de Jonathan.

- Calma, cara. A ideia foi tua. – argumenta Kleiton.

- A gente até falou que era arriscada, mas você insistiu. – fala Lorena pegando na mão de Samuel. – Ainda bem que nenhum de vocês se machucou.

- E como está o chupeta de baleia? – perguntou Henrique.

- Ei, mais respeito comigo, digo, pelo Samuel. A partir de hoje, a gente vai deixar ele em paz.

- Como assim? Você disse que estava decidido a fazer da vida dele um inferno. – ressaltou Henrique.

- Não mais, passamos por uma situação muito delicada, então, eu revogo a minha decisão. – garantiu Samuel.

- Você está bem? Nunca te vimos desse jeito. – questionou Kleiton.

- Estou ótimo, e não, graças a vocês. Agora eu preciso descansar.

Após dispensar os amigos de Jonathan, Samuel desabou, o jovem pensou na situação e não conseguia colocar lógica nela. Enquanto isso, Jonathan era paparicado pela mãe de Samuel. Inicialmente, ele ficou assustado com o escândalo de Isabella, mas entendeu a preocupação dela, e claro, se aproveitou completamente da situação. Suco, comidinhas gostosas e carinho, um prato cheio para ele.

- O médico disse que você pode ser liberado hoje. – avisou Isabella dando sopinha na boca de Jonathan.

- Tem certeza. Acho que a senhora deveria pedir uma tomografia. Sabe, eu, tipo que não me sinto eu, entende?

- Não, filho. Você tem certeza que está bem?

- Sim, mamãe.

- Mamãe? – Antonella faz uma careta e ri de Jonathan. – Que formalidade é essa, garoto? Nunca chamou Isabella de “mamãe”.

- Foi o acidente, titia.

Na casa de Samuel, Lana tinha que conter os pestinhas, eles pareciam ter comido açúcar puro, estavam com uma energia fora do normal. Lana, depois de muito batalhar, colocou os dois para dormir. Os gêmeos pediram para que a amiga de Samuel lesse ‘O Pequeno Príncipe’. Sem muita opção, Lana, abre o livro e lembrou de quando era uma criança, ela chorou ao terminar a leitura daquele livro.

- Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, ‘Histórias Vividas’, uma imponente gravura. Representava ela uma jiboia que engolia uma fera. Eis a cópia do desenho.

- Você precisa fazer uma voz diferente para cada personagem. – observou Silvio.

- Ei, quem está lendo aqui sou eu. Vocês são difíceis de agradar, hein. Posso continuar, por favor?

Naquela noite, Samuel teve um pesadelo. Ele sonhou com o acidente, mas dessa vez, o jovem via toda a situação pela perspectiva de Jonathan. Samuel acorda gritando, e se assusta ainda mais, quando vê Wal coberta com uma gosma verde no rosto. Ela acende a luz, e explica para ele que se trata de uma máscara de limão com gengibre. Wal senta próxima a Samuel, pega em sua mão, e pergunta o que aconteceu.

- Tive um pesadelo com o acidente, Wal. Nada demais.

- Olha, eu sei que temos as nossas diferentes, mas você precisa parar de ter esse ódio gratuito por mim.

- Eu, eu, me desculpa. Deve ser a adolescência. Sabe que é uma fase complicada, né?

- Sim, já fui uma, e garanto, não fui fácil. – diz Wal rindo. – Sério, Jonathan, você pode contar comigo para qualquer coisa.

- Obrigado, Wal.

A madrugada passou sem muitas novidades, na manhã seguinte, Jonathan, acordou e pensou que tudo já tinha voltado ao normal. “Fim do pesadelo”, ele disse para si. Ao pegar na barriga, ele se tocou que ainda estava preso no corpo de Samuel. Jonathan não conseguia encaixar as peças. Ele lembrou do acidente, das luzes e da sensação magnética, mas não lembra do momento que trocou de corpo com o colega.

Antes de sair do hospital, Jonathan, procurou Samuel. Eles trocaram informações básicas, como por exemplo, a casa onde moravam, o quarto e o nome das pessoas próximas. Eles também decidiram trocar os chips de seus celulares. Jonathan seguiu para a entrada do hospital e ficou surpreso com o carro de Isabella, era uma fiorino rosa que estava caindo aos pedaços.

- Claro. – ele disse revirando os olhos. – Bem, se eu sobrevivi ao Ciência Maluca, isso vai ser fichinha.

- Amor, vai atrás tá. E fica abaixando quando chegarmos em alguma batida policial. Você conhece as regras. – explicou Isabella.

Samuel ainda estava zonzo, a batida na cabeça de Jonathan foi algo sério, por esse motivo, os médicos pediram repouso total. Ele recebeu uma mensagem de Lana, ela queria saber do estado do melhor amigo. Samuel garantiu que tudo corria da melhor maneira possível. Do nada, uma senhora entrou no quarto e assustou Samuel. A mulher era muito velha, os cabelos brancos cobriam parte de seu rosto, mas o seu perfume adocicava o ambiente. Ela vestia um tipo de túnica branca, caminhou lentamente pelo quarto e pegou na mão do jovem.

- Vocês precisam tomar cuidado. A troca pode ser permanente. – avisa a mulher.

- Como assim? Você sabe o que aconteceu?

- O universo precisou agir para que nada de grave acontecesse com vocês. Samuel e Jonathan, são pessoas diferentes, mas precisam trabalhar juntos para retornarem.

- Trabalhar juntos? Eu nem conheço o Jonathan. E isso é tudo culpa dele. Senhora, eu preciso voltar, por favor. – pede Samuel.

- Dos dois, você é o que tem mais coração, vai guiar o Jonathan para encontrar a verdade que ele precisa. – ela disse saindo do quarto.

- A verdade que ele precisa? Ei, senhora. – fala Samuel levantando com dificuldade e caindo no chão. – Droga. Que perna fraca, hein, Jonathan. – Quem é essa mulher? O que ela quer de nós?

Enquanto isso, Oliver Pontes, acordava de mais uma balada, ele havia estudado com Jonathan, no último ano, e ao contrário do colega, não reprovou na escola. Ao lado dele, três pessoas diferentes dormiam, uma moça e dois rapazes, todos pelados. Oliver levantou e seguiu para a cozinha, com dor de cabeça, ele preparou um café e ligou a televisão.

- Boa tarde. – disse a moça entrando na cozinha. – Como você se chama?

- Sou o Oliver, dono do apartamento. E você?

- Berê, nossa a balada foi ótima, hein. – comentou a moça servindo café.

- Foi é.

O noticiário anunciou o acidente no Parque de Diversões, a primeira imagem que apareceu foi a de Jonathan, em seguida, uma foto de Samuel. Berê comentou sobre a situação, e Oliver virou para assistir, a conexão foi imediata. Os olhos de Samuel pareciam furar a alma do rapaz.

- Tadinhos, né? Ficar preso em um brinquedo louco, nada haver. – ressaltou Berê.

- Qual é o nome do gordinho? – perguntou Oliver.

- Eu não ouvi direito. Bem, obrigada pela transa, mas eu preciso ir. – ela disse saindo.

- Ei, e os teus amigos não vão? – questionou Oliver.

- Eles não são meus amigos. – ela afirmou antes de abrir a porta e sair.

- E você, gordinho? Quem é você? – ele indagou olhando para a foto de Samuel.

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