capitulo 01 - pink and blue

Conto de GibGab como (Seguir)

Parte da série A cor da loucura

Mais um novo capitulo. Como eu já cansei de dizer, eu estou tendo um pouco de dificuldade porque não planejei nada para os capítulos que antecedem outros importantes; tive dificuldade nesse e terei nos dois ou três próximos capítulos. Eu tenho muita coisa planejada, mas entre as coisas que planejei estão espaços e lacunas em branco. Hoje eu decidi jogar mais uma isca para o que está vir.

Alequino, obrigado, significa muito, continue comentando e lendo.

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Que lugar era aquele? Eu não saberia dizer. Dava para ver as brechas entre as tabuas das paredes, isso me deixava com a visão prejudicada, pois a luz solar forte irritava os meus olhos. Que lugar era aquele? Eu não saberia dizer. Eu senti um cheiro familiar, um cheiro forte, um odor podre, o fedor de carne já se decompondo, um sinal claro de morte. Eu tentei gritar, mas eu estava amordaçado, não podia falar. Que lugar era aquele? Eu não saberia dizer, mas ele estava lá.

A porta se abriu e dela entrou alguém com uma mascara de couro preto e um jaleco branco. Eu não quis acreditar, eu sabia quem podia ser, mas eu não quis acreditar. A figura medonha aproximou-se, colocou luvas e me observou como se quisesse lembrar de algo.

Enquanto o mascarado procurava algum coisa, eu dei uma boa olhada e vi que alguém se escondia atrás de sua sombra. Ele era pequeno e eu já o conhecia, acabei de conhecer, na verdade. Atrás do mascarado, encostado na parede de madeira, estava o Diego. O Diego era um belo garoto, mas ele não parecia o mesmo de antes; ele estava branco como papel, inclusive, dava para ver suas veias de tão branco que ele estava. O mascarado, o vento e até as moscas que rondavam o local pararam. O Diego caminhou lentamente até o rapaz de jaleco e, sem piedade da minha mente, tirou a mascara do seu rosto. Como eu pensava, já era obvio, além do limite do obvio, era mesmo o Matheus. Depois de acabar com as minhas esperanças, o garoto retira a mordaça.

- Você não é o Diego, é?

- Você está aprendendo, está muito mais esperto que antes.

- Isso não faz sentido, você não pode existir de verdade.

- Claro que não. Eu estou aqui porque você é louco, completamente ma-lu-quinho.

- É isso que você quer que eu pense?

- Talvez, mas isso não é útil, quer dizer, se você não conseguisse viver com a culpa e se matasse, ai sim, isso seria bastante útil, mas não, você tem que atrapalhar o meu trabalho.

- Quer dizer que o seu trabalho é me matar?

- Não exatamente. O meu trabalho é garantir que você esteja morto o mais rápido possível.

- Ah é. E qual seria a diferença?

- Você vai saber a diferença. Não serei eu que irei mata-lo.

- Nesse momento eu não quero saber se vou morrer hoje ou amanhã, então me responda: você é ou não é uma ilusão da minha cabeça.

- Ora! Mas o que será que o magoou tanto para perder a vontade de viver.

- Não queira mudar de assunto!

- Você precisa mesmo saber disso, não é? Isso te atormenta. Eu vou te contar um segredo: eu nunca iria ajuda-lo porque o meu dever é fazer justamente o contrario, eu tenho que atormenta-lo até a morte.

- Então me diga o que você é?

- Ah é claro, no momento, com esse corpo, eu pareço uma bicha mirim, ou quem sabe, um exemplo claro de prostituição infantil masculina passiva.

- Você sabe que não estou falando disso.

- Tem razão, eu sei, mas o mistério faz parte do meu charme. De qualquer forma você logo saberá, eu sou muito famosa. É só procurar.

- Pelo visto, você não vai me tirar daqui, vai?

- Não, mas algo me diz que esse não é o fim – disse Lilith, enquanto colocava a mascara de volta – A propósito, eu soube que a antiga igreja abandonada está sendo reformada e, em breve, irá voltar a funcionar

Tudo voltou ao normal; foi exatamente como antes, o tempo parou e depois voltou a fluir. O Matheus não era bobo, ele sabia que qualquer um, considerando a situação vigente, saberia que era ele debaixo daquela mascara, então ele a tirou do rosto. Eu tentei fazer cara de surpresa, mas isso nem era possível, pois a cada segundo que fazia expressões de surpresa, eram duas de tédio. Depois de tanto procurar, ele tirou uma seringa e, sem eu poder fazer nada, injetou em mim algo que me deixou. Eu estava muito tonto, mas ainda não havia desmaiado; ainda tinha tempo para falar com ele, então ele mesmo removeu a mordaça.

- Então, você ainda continua roubando do seu tio?

- Não seja tolo. Qualquer substancia que eu roubasse dele, já estaria fora da validade há muito tempo.

- E como conseguiu essa coisa, então?

- Qualquer um consegue tudo na internet, hoje em dia.

- Então você se tornou o tipo de pessoa que passa o tempo todo na internet procurando formas de morrer e de matar outras pessoas?

- Não, eu não quero morrer. Eu serei imortal se o mundo souber do que eu sou capaz.

- Sim faz todo sentido do mundo, essa sua lógica de psicopata, mas mudando de assunto, você usa vestido agora? - Eu olhei para o canto direito da cabana, onde estavam dois vestidos infantis, um azul e um rosa - Eles não cabem em você, não são do seu num... - eu desmaiei antes que pudesse terminar a frase.

Que lugar mais apropriado para acordar quando tudo que eu precisava era um pouco mais de calma. A minha mãe acariciava meus cabelos e o meu pai me olhava sorrindo, era um sorriso de alivio. Eu permaneci deitado, recebendo todo o carinho da minha família, aproveitando aquele momento de paz e tranquilidade. Agora só me restava fazer de conta que o que havia acontecido antes foi apenas um pesadelo. A minha linda família fez uma fila para falar comigo; a primeira foi minha mãe, que fez questão de desfazer a minha teoria do pesadelo.

- Olá, filho. Você está bem?

- Olá. O que vocês fazem aqui?

- Mas você não se lembra? Você quase se afogou enquanto nadava no lago.

- Como assim? Eu não lembro disso.

- Você faltou a aula para ir ao lago, nadou e quase se afogou. O Matheus viu quando você se desviou do caminho para o ponto de ônibus, então resolveu segui-lo para que não se metesse em confusão. Ele viu quando você entrou no lago e quando você estava se afogando, e o salvou, mas, em seguida, você desmaiou. Ele verificou os seus batimentos e sua respiração antes de trazê-lo para casa. Ele é um bom garoto, eu não sei por que vocês não se falam mais.

- Eu devo agradecê-lo?

- Seria bom. Porque o sarcasmo?

- Nada, deixa pra lá.

- Hum sei. A propósito, você está de castigo.

- Castigo? Eu quase morri, sem falar que já sou muito velho pra esse negocio de castigo.

- Ok, então veja como uma punição mortal e sem piedade como todo adolescente vê.

O meu pai me deu uma bronca de sete horas, eu não reagi. O Victor também era muito severo, ele era um irmão pai, mas, dessa vez, ele foi muito paciente comigo e me disse coisas que me confortaram, mas que, ao mesmo tempo, me deixaram confuso. Eu nunca vi o Victor tão atencioso como naquele dia.

- Oi. Como você se sente?

- Oi. Eu estou bem, obrigado.

- Você não se lembra de nada?

- Não, nadinha - eu menti.

- A culpa é minha, eu deveria te proteger mais.

- Claro que não, Victor. Você já me vigia 20 horas por dia. Como você poderia me proteger ainda mais?

- Eu faço isso porque eu te amo. Eu não poderia pedir um irmão melhor que você.

- Eu também te amo, mas porque está dizendo isso?

- Como assim? Eu não posso?

- É que parece que você vai morrer.

- Fique sossegado, você ainda terá que aguentar o seu irmão grande e chato por muito mais tempo.

- Você é o melhor irmão do mundo.

- Sabe, Rodrigo, um dia todos nós iremos deixar esse mundo, sendo uns tarde e outros cedo, mas ninguém está livre do grande descanso final. O importante é aproveitar as pessoas, pois um dia elas podem não estar mais aqui para você demonstrar o quanto gostava delas.

- Eu não sei por que você disse isso, mas eu concordo.

Dessa vez o medo e a vergonha não iriam me impedir; eu estava com muita raiva para sentir medo. Caminhei pela rua, sem hesitar em chegar aonde pretendia, a casa do Matheus. Eu parei em frente á casa, respirei fundo, entrei sem bater na porta e fui direto para seu quarto. Não foi como eu queria; quando cheguei ao quarto, me vi em uma situação parecida com a da escola. Ajoelhados ao redor de uma tabua ouija, que estava em cima da cama, estavam Matheus, Ana e... Amanda. Eu realmente venci o medo, mas devo ter me esquecido da vergonha.

- Olá, Ro. Porque não senta aqui com a gente? É divertido porque a Sra. Keller não gosta.

- Não, eu só vim agradecer o Matheus. Mas quem é essa Sra. Keller.

- Infelizmente é minha mãe.

- Ah! É verdade. Eu já tinha até esquecido.

- Eu também acho que você deveria ficar - disse o Matheus, se levantando.

- Está bem, eu fico.

Amanda estava muito calada e o clima não estava muito agradável. Acabou que eu mudei de ideia e fui embora, mas antes, não pude deixar escapar a oportunidade de saber o que ele falava quando eu não estava por perto. Como eu pensei, quando acreditavam na certeza da minha saída, Matheus e Amanda conversaram um pouco sobre mim.

- Um dia quem sabe...

- "um dia quem sabe" o que?

- Um dia quem sabe, vocês voltem a serem amigos.

- Você sempre está pensando nos outros. Eu peço desculpas, mas esse já é um caso perdido. Não existe mais amizade.

- Isso é o que vamos ver.

No dia seguinte, eu caminhava até o ponto, quando, mais uma vez, o Diego. Parece que dessa vez ele não veio a mando do Matheus. Ele veio me convidar pra bater uma bola com os outros garotos da idade dele, vê se pode. Eu pensei e disse comigo mesmo: “eu cansei de tentar fazer as coisas certas há muito tempo, mas o velho hábito não me deixava fazer o que eu queria. O que eu queria naquele momento era voltar no tempo, voltar a ser criança e não perder mais meu tempo com o Matheus. Teria algo que me fizesse sentir mais criança que isso?”

Eu não sei como, mas o Arthur e o Yuri souberam por que eu faltei a aula e também onde me encontrar. Nós ficamos até a hora do almoço. Todos os pirralhos já haviam ido para suas casas, mas nós ficamos um pouco com o Diego, até que, ele não aguentou e foi embora, nos deixando a sós, os três. Nós nos deitamos á sombra de uma arvore e começamos a falar sobre o bom dia que tivemos.

- Eu nunca corri tanto em toda minha vida.

- Não seja rabugento, Yuri. Esse foi o melhor dia de todos. Aquele pirralho do Rodrigo é demais – disse o Arthur, empurrando o Yuri com o ombro.

- É verdade, Rodrigo; seu pirralho é demais.

- Ele não é meu pirralho. Que eu saiba, tá mais pra pirralho do Matheus.

- Não vamos perder tempo falando daquele garoto. Eu não sei por que você gosta de pôr o nome dele em tudo. Uma coisa não tem nada haver com a outra.

- Calma, Arthur. Agora o Rodrigo é todo seu. Hahaha...

- Eu não vi graça nessa sua piadinha. Vamos, já está ficando tarde - eu me levantei e sinalizei com a mão para irmos embora. O resto do dia foi normal, na verdade, melhor, pois eu pude comer o que queria e fazer o que queria. Eu já estava estranhando, castigo suspenso, prato preferido no almoço e no jantar, família toda reunida, TV nova e bolo de chocolate como sobremesa. Diante de todos aqueles e outros mais paparicos, eu só tive um desgosta, o meu pai estava muito doente e de cama. No outro dia, eu senti a consequência de alguém como eu ter um dia perfeito: Meu pai piorou e teve que ir a um hospital. O que me deixou mais preocupado, foi o fato de ele ter que ir para outra cidade, mas depois eu soube que foi a pedido dele próprio.

Já estava noite, eu não tive nenhuma noticia do meu pai, a luz havia acabado em todo o bairro; eu estava cheio de preocupações. O que me restava? Ao menos uma daquelas preocupações, eu tinha que tirar da cabeça. Eu vesti um moletom preto e sai caminhando, até chegar no lugar em que o Arthur me levou na noite em que dormi em sua casa. Sentado em frente ao letreiro luminoso coberto com uma lona, estava a pessoa que era responsável pela maioria dos meus problemas. Aquela seria a solução para um dos problemas que me preocupava.

- Boa noite, Rodrigo.

- Boa noite, "Matheus" - eu enfatizei o seu nome.

- Não se preocupe, eu não vim pra tentar nada de ruim contra você.

- É difícil de acreditar, mas eu não tenho medo.

- Isso é fundamental para o que eu vim fazer aqui.

- Como sabia que eu estaria aqui?

- Eu soube que o seu pai está muito doente. Esse parece um ótimo lugar para por os pensamentos em ordem. É demais ver todas essas coisas amontoadas, não é? Parece uma confusão de tempos, épocas diferentes.

- O que você veio fazer aqui? Por favor, eu preciso saber o que você quer de mim.

- Mas já não basta eu estar aqui com você?

- Você não entende. Eu nunca tive alguém que pudesse confiar o bastante para contar o meu segredo, além de você, é claro.

- Mas eu também não tenho.

- A Amanda, você já contou a ela, mesmo que indiretamente, mas ela está tão apaixonada por você que não enxergar a verdade.

- Eu quero propor uma coisa.

- Eu estou ouvindo.

- Nós éramos mais felizes quando éramos amigos, apenas amigos. Hoje eu nem sei o que somos um para o outro.

- Eu acho que eu era mais feliz antes de conhecer você.

- Olha, eu só quero ficar perto de você, mas toda vez que ficamos muito próximos, acontece algo de muito ruim.

- Então me deixa em paz. Foi você que quis me afastar. Porque essa mudança agora? Não está melhor assim com cada um no seu lugar?

- Eu não quero ficar mais distante de você.

- Eu não me importo mais. Tudo aquilo foi um erro.

- Mas a nossa amizade foi o único acerto. Nós tivemos momentos bons.

- Sim, momentos seguidos e antecedidos de outros ruins.

- você não lembra dos nossos passeios? Da jaqueta que dei pra você? Eu nem gostava daquela banda. Eu escolhi ela por que... Bom, eu lembrei que um dia você me perguntou se eu gostava de rock?

- Eu não sabia disso. Eu também não gosto da banda, mas fiquei feliz por você ter me dado de presente, porque era um presente seu.

- Vamos esquecer tudo que aconteceu de ruim.

- O que você quer dizer com isso? Porque se for o que eu estou pensando, a resposta é não.

- Não, não é isso. Eu só quero voltar a ser seu amigo.

- Eu não sei. Eu já tentei.

- Não, você tinha segundas intenções e sabe disso. Dessa vez vamos fazer direito.

- Você tem razão, eu não fui sincero.

- Então, o que me diz? Vamos tentar.

- Certo, eu aceito, mas você sabe que tem que mudar.

- Eu já mudei - ele tirou os seus olhos de mim e os direcionou para algo que estava atrás de mim - E como prova disso... Aí está - ele continuo olhando detrás de mim, o que me fez virar de costas e perceber que se tratava do Arthur, que já vinha em minha direção.

Os dois passaram um pelo outro, sem dizer ao menos um oi. Eu não conversei muito com o Arthur; aquele não era o dia certo para isso.

- Boa noite.

- Boa noite.

- Eu soube o que aconteceu com o seu pai. Não se preocupe, ele vai ficar bem.

- obrigado. Você gosta mesmo desse lugar, não é?

- Sim, mas eu não vim por isso.

- Por que você veio, então?

- Todos estão te procurando. Eu sabia que você estaria aqui, então depois que soube, não foi difícil encontrar você.

- Então vamos.

- Mas você não quer falar um pouco sobre isso. Somos amigos, ou melhor, irmãos.

- Me desculpa, não vai dar. Eu não to com cabeça pra isso.

- Não, tudo bem, eu entendo.

A luz voltou e eu também. O meu irmão demonstrou alivio quando me viu chegando. Eu nem liguei muito pra reação da minha família. Enquanto todos me davam sermão, inclusive os meus melhores amigos, eu liguei a TV e me sentei como se nada mais importasse. Os gritos foram tantos que eu tive que intervir e gritar ainda mais forte; foi o bastante para silencia-los. O silêncio me possibilitou ouvir o noticiário local: ”Gêmeas desaparecem próximo ao centro da cidade. As gêmeas Alice e Elizabeth, de oito anos, foram vistas pela ultima vez perto do centro da cidade. Os pais relatam que se perderam das garotas enquanto subiam a escada rolante (lotada) de um shopping. Como foi descrito pelos pais, as garotas tinham o cabelo castanho crespo e usavam vestidos rosa e azul”.

CONTINUA...

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