Capitulo 02
Parte da série Essas Coisas Que Eu Mal Sei
Levei minha mão ao encontro da dele e nos cumprimentamos. Não lembro muito bem dos fatos e das palavras que trocamos naquele momento de encontro. O que mais me impressionou foi o seu olhar penetrante e límpido que me deixava tonto e hipnotizado. Estela não percebeu nada. Ainda bem! Não queria magoar minha melhor amiga, e aquela atração que sentirá por Marcus, certamente não podia continuar, foi o que pensei de imediato.
Marcus e Estela me deixaram em frente a minha casa, e minha amiga logo avisou que sua mãe estava preparando um almoço delicioso à beira da piscina para me recepcionar. Disse-me que dividiu o segredo da minha chegada com ela, pois precisaria de ajuda para organizar a recepção.
Assim que vi Rebeca, me atirei em seus braços e um choro compulsivo e emotivo saio de meu peito. Rebeca era a figura materna que sempre tive, já que Su mais parecia uma irmã mais velha, do que uma tia, ou uma mãe. Amava Rebeca imensamente, e ela sentia o mesmo por mim. Não nos desgrudamos um segundo. Ela foi comigo ao meu quarto e me ajudou a desfazer as malas, enquanto eu contava as minhas aventuras em terra italiana, e ela me colocava por dentro dos últimos acontecimento no condomínio.
- Esse Marcus, namorado de Estela é de família muito rica. - disse ela. - O pai é um juiz muito importante e esta sempre nos noticiários da televisão, e a mãe é uma fundadora de uma instituição de caridade famosa... é uma pessoa muito bondosa e bem quista na sociedade. É um rapaz de ouro, Estela tirou a sorte grande.
- Que bom! Fico feliz e tranqüilo em saber que Estela está namorando uma pessoa desse nível, afinal, ela e o Estevão são os irmãos que nunca tive... Mas me fale de você e de Guto.
- Ah!! - Disse ela um pouco irritada - Inventou que quer casar, vê se pode?
- E você não quer?
- Vê se eu tenho idade pra casar, Chris? Já estou beirando os 50 anos.
- Mas para o amor não tem idade, Rebeca. Quero ter uma conversa séria com ele para ver quais são as reais intenções com você.
Rimos e nos divertimos, depois fui para o banho. Abri o chuveiro e deixei que água tomasse conta do meu ser. Queria esquecer o rosto e o olhar do Marcus, mas aquela cena não sai da minha cabeça. Desliguei o chuveiro, me enrolei na toalha e quando adentrei de volta em meu quarto encontro Marcus, sentando em minha cama folhando uma revista italiana que havia trazido na viagem. Fiquei estático, observando e logo em seguida ele levantou o rosto e desferiu o último golpe para me apaixonar de vez. Sorriu. Aquele sorriso apertado, tímido, mas encantador.
- Desculpa invadir o teu quarto, mas vim te buscar para o almoço e Rebeca me deixou entrar.
A custo me refiz do susto e logo respondi:
- Fique a vontade, Marcus... Vou me arrumar e logo estarei pronto.
Dirige-me ao closet e ele me seguiu ainda com a revista em mãos. Comentou a respeito de algumas reportagens, coisas que não dei atenção, já que estava por demais nervoso. Tentei demonstrar tranqüilidade, mas meu corpo tremia. Segurava a toalha com força, com medo que caísse e eu ficasse nu em sua frente. Com tudo, ele não me olhava, ainda mantinha a atenção na revista. Peguei as primeiras peças de roupas que vi, passei por ele e voltei ao banheiro. Já vestido, voltei ao quarto.
- Estou pronto! Vamos chamar Rebeca para ir conosco. - Assim que terminei a frase desloquei o meu corpo para a saída do quarto e ele me puxou pelo braço.
- Não é necessário. A Rebeca foi levar a sua sobremesa preferida que ela mesmo preparou... ela já deve se encontrar na casa de Estela.
Depois que terminou a frase, Marcus continuou segurando-me pelo punho. Tenho certeza que ele sentiu o quanto eu fiquei nervoso com o toque dele. Transpirei e isso foi notório, meu coração palpitava, e isso o deixou constrangido. Soltou o meu braço e nos dirigimos à casa de Estela.
O Almoço foi ótimo. Agora mesmo, enquanto escrevia esse relato, não resisti e fui ao álbum de fotografias, onde esse dia ficou eternizado em minha vida. Estavam todos os presentes... Tia Eliane, tio Jorge (pai de dos gêmeos), Estevão com sua noiva, Miriam, Rebeca e Guto e por fim, Estela e Marcus.
Os dois pareciam perdidamente apaixonados, e isso foi se comprovando ao passar do tempo. Estela me confidenciava o quanto estava amando e sendo amada e eu... bem... eu a ouvia e ficava feliz por tudo que estava acontecendo em sua vida. O Marcus não era o primeiro amor impossível pelo qual me apaixonei, e com certeza não seria o último. Guardei todo o sentimento que senti somente pra mim e mais ninguém. Ele sempre foi muito atencioso comigo, mas mantínhamos certa distancia. Por algum tempo pensava que ele pudesse sentir alguma atração por mim, pois me olhava de um modo estranho, mas depois com o tempo, parei de pensar nisso e o amor que sentia por ele adormeceu.
Durante todo o ano de 2000 me dediquei ao cursinho pré-vestibular. Tinha dúvidas qual profissão seguir e sempre vinha em minha mente a pessoa do meu pai, vestida de médico com aquele jaleco branco. Pensava em homenageá-lo, mas não sentia que tinha talento para a medicina. Su me aconselhou a fazer um teste vocacional, e seguindo seu conselho, optei por fazer direito.
Na faculdade, já em 2001 conheci Adriano, ficamos amigos e por fim acabamos namorando. Como já trabalhava dês de cedo à questão da minha sexualidade, e não escondia de ninguém o que era e de que realmente gostava (isso não quer dizer que eu era sumido, mas se me perguntasse, eu sempre respondia a verdade, que era gay), Adriano viu em mim um suporte para seus problemas, já que seus pais não sabiam e ele mesmo não aceitava e nem se via como um gay. Nossa relação nunca foi de amor, propriamente dito, mas sim de amizade e cumplicidade. Ajudava-o no que podia para trabalhar a libertação dos paradigmas da sociedade que predinham o Adriano, que quase sempre estava em depressão.
Em 2002, Estevão subiu ao altar como Miriam. Como muito orgulho, eu fui um dos padrinhos do casamento, assim como Estela e Marcus. Os Dois por sinal continuavam apaixonados. Com o tempo, Estela e eu já não nos víamos com tanta freqüência. Ela envolvida com sua faculdade, seu trabalho e com Marcus, e eu também envolvido com meus estudos e com os problemas do Adriano.
Nesse mesmo ano, Su me passou todos os bens que a mim me pertenciam. Eram imóveis, ações de empresas, títulos de capitalizações... enfim, tudo que meus pais me deixaram. Su sempre foi muito honesta comigo e administrou com sabedoria tudo que foi meu. Meu tempo ficou mais escasso ainda, com tudo isso para administrar, mesmo com Su me auxiliando em tudo que precisasse.
Enfim chegamos à 2004! O ano em que tudo aconteceu! Já com 25 anos, ainda morava na mesma casa, junto de Rebeca e no mesmo condomínio de Estela. Nos encontrávamos raramente, já que com o tempo adquirimos novos a fazeres e com isso novas amizades. Mas o nosso carinho e afeto continuavam o mesmo. Quando nos encontrávamos, sempre era uma alegria e o mesmo acontecia com Estevão.
Logo em janeiro de 2004, estava sozinho em casa, já que Rebeca estava de férias e havia ido visitar seus familiares em nossa cidade natal, fui surpreendido com a visita de Marcus. Era noite e notei que um carro havia estacionando em frente a minha casa. Assim que ele abriu a porta percebi que não estava bem. Corri para ajudá-lo e quando cheguei perto um forte cheiro de bebida alcoólica tomou conta de meu nariz. Marcus estava bêbado. Dizia palavras sem nexo, coisas que eu não entendia. Coloquei seus braços ao redor de meu ombro e o levei para sala. Assim que deitou no sofá, apagou. Tirei seus tênis, seus óculos e o acomodei. Liguei par casa de Estela, mas a empregada me disse que todos estavam no litoral naquele fim de semana, inclusive Estela. Então liguei para o celular, mas o mesmo estava desligado.
Me deparei com Marcus, o cara, namorado da minha melhor amiga, que me despertou uma paixão súbita à seis anos atrás, deitado em meu sofá, completamente inconsciente... O que deveria fazer??