Capitulo 03

Parte da série Essas Coisas Que Eu Mal Sei

Como não conseguia contato com Estela e Marcus continuava inconsciente, resolvi levá-lo pra o quarto de hóspedes. Novamente enrolei seus braços em meu pescoço e com dificuldade subimos as escadas. Durante o trajeto ele dizia frases sem nexos como "ela não pode fazer isso comigo"; "eu a amo e ela me deve respeito"; "eles vão me pagar caro por tudo"; Pedia que ele ficasse calmo e que no outro dia eles iriam conversar.

Depois que coloquei na cama, fui ate a cozinha buscar água, e quando voltei, Marcus havia vomitado no tapete ao lado da cama, suas roupas cheiravam a álcool e a suor. Não havia condições de ele dormir naquele estado. Tirei sua roupa, e enquanto fazia isso a paixão que estava adormecida em meu peito deu sinais de vida; Não queria pensar em outra coisa se não ajudá-lo, mas não conseguia... era algo incontrolável.

Marcus estava vestindo uma camiseta branca, que molhada com o suor a deixava transparente, tão transparente que dava para ver seu belo abdômen trabalhado, seu peitoral bem feito e peludo. Por baixo da bermuda de sarja, estava com uma sunga azul marinho. Coxas grossas, bem desenhadas, peludas e lindas, o pau estava meia bomba, o volume era iminente e tentador.

Depois que o despi, enrolei novamente seus braços em meu ombro. Ele era pesado, 190 cm de altura e bem distribuídos. Coloquei sentado no boxe do banheiro e liguei o chuveiro. Ele acordou com a água caindo em seu rosto. Começou a chorar baixinho, era quase um sussurro. Tive pena, mas procurei não demonstrar isso.

- Vamos brother - dizia eu ajoelhado junto a ele - tem que reagir, vai se deixar entregar para um porre? Não pode, o mundo é muito maior que isso.

Ele não respondeu, apenas surrava baixinho palavras incompreensíveis. Desliguei o chuveiro e dei a mão para ele levantar, foi quando ele me abraçou. Um abraço forte, apertado, caloroso, angustiado e molhado. Queria corresponder a aquele abraço, mas não consegui. A imagem de Estela sempre vinha em minha cabeça. Dei dois tapinhas nas costas dele e entreguei a toalha. Fui até o meu quarto e peguei uma cueca e um pijama meu pra ele. Tínhamos quase o mesmo tamanho, e a minha roupa serviu perfeitamente nele.

- É melhor tu dormir aqui hoje... não é bom que teus pais, ou até mesmo Estela te veja assim.

- Obrigado, Chris... amanhã com mais calma eu conto tudo que aconteceu.

- Não se preocupe com isso agora. Amanhã conversamos.

O deixei sozinho no quarto e fui para o meu. Estava intrigado com as frases sem nexo que ele dizia. Deveria ter acontecido algo de muito grave, mas o que? Liguei mais de uma vez para o celular de Estela, mas continuava desligado. Praticamente fiquei a noite toda acordado pensando no que estava acontecendo. Relembrado o dia que o conheci e a paixão fulminante que despertou em mim, que a muito custo consegui controlar. Mas depois daquela noite e de praticamente vê-lo nu, com toda a certeza o vulcão adormecido estava prestes a explodir.

Levantei cedo e encontrei Noêmia, nossa empregada, já na copa preparando o café. Pedi que fizesse uma badeja com frutas, café, pães e suco. Adentrei em seu quarto sem fazer barulho. Não queria acordá-lo, queria que visse o café posto ao seu lado quando acordasse. Deixei a bandeja sobre o criado mundo e me virei em direção à porta.

- Chris, espera! – ele sentou-se na cama e esfregou as mãos nos olhos.

- Não queria te acordar, está cedo ainda... durma mais um pouco e quando acordar, tome seu café.

- Já estou acordado à um tempo, queria te pedir desculpas pela forma que cheguei em tua casa.

- Não se preocupe com isso. Somos amigos. Agora tome teu café... eu vou para a academia, devo voltar em uma hora.

- Seria muito abusado se pedisse que você me fizesse companhia?

Aquele sorriso tímido, de canto, apertado, pelo qual me apaixonei, voltou naquele rosto de homem, mas com um olhar de menino. Não consegui dizer não, e acabei por me sentar na cama e com ele tomar o café.

- Estou muito envergonhado de tudo que fiz ontem. Estela nunca ira me perdoar.

Não queria ser indiscreto e perguntar o que havia acontecido, deixei que ele desabafasse e se fosse de sua vontade, ai sim me contar.

- Calma, brother! Vocês têm um relacionamento longo, maduro... brigas são normais.

- Mas eu passei do ponto.

- Estela te ama, Marcus. O amor tudo perdoa.

- Isso é verdade, eu estou disposto a perdoar, mas e ela? Acho que ela não me ama mais.

- Não se precipita, brother... não sei o que aconteceu, mas com certeza nada pode apagar o amor que vocês tem um pelo outro.

Ele suspirou fundo, depois falou:

- Ela está em outra! Ela terminou comigo dias antes do natal.

Fiquei surpreso com a revelação, e com certeza deixei demonstrar isso com a expressão do meu rosto.

- Ta surpreso?

- Eu pensei que a relação de você era...

- Há muito tempo vivemos de aparência, e se dependesse dela, já não existiria relação nenhuma a mais tempo ainda. Eu que insistia... não sei viver sem ela.

- Se eu puder ajudar em alguma coisa...

- Foi por isso que vim aqui ontem. - ele coçou a orelha em um gesto só seu, parecia angustiado e com vergonha de falar. Coloquei minha mão em seu ombro, depois falei:

- Não tenha vergonha. Já te falei que sou teu amigo.

- Ontem fui buscá-la no trabalho - ele fez uma pausa longa, parecia querer encontrar coragem, ou palavras, mas depois concluiu. - e... ela estava beijando o Juliano na frente do consultório.

- O Juliano, teu amigo?

- Ele não é e nunca foi meu amigo, pois amigo de verdade não faz o que ele fez. Eles não me viram, eu estava no carro e depois que vi o beijo, não me controlei. Parti pra cima dele, dei duas porradas na cara daquele desgraçado. Estela o defendeu, disse que entre nós está tudo acabado e que ela e Juliano estão namorando. Depois disso fui para um bar e tomei todas. Lembrei de você, pois sempre foram amigos e Estela sempre falou o quanto tu significava pra ela... pensei que talvez, tu pudesse falar com ela, interceder por mim...

Quem suspirou fundo dessa vez fui eu. Todas aquelas revelações de uma vez só caíram como uma bomba no meu raciocínio que sempre foi bastante prático, mas naquele momento não sabia como agir.

- Brother, eu não sei no que posso te ajudar, mas vou tentar falar com Estela. Ontem liguei para a casa dela, mas a emprega me disse que toda a família estava no litoral e o celular dela estava desligado.

- Será que ela já apresentou o Juliano como namorado pra toda a família? Ela não pode fazer isso comigo! Não pode!

- Calma Marcus! Com a cabeça quente tu não vai resolver nada. Vamos fazer o seguinte, eu vou tentar falar com ela, e quando isso acontecer, vou te avisar. Mas você tem que manter a calma, a força, com violência física, nunca ira ter Estela de volta.

- Você tem razão... eu sempre troco os pés pelas mãos. Sou muito impulsivo, quando sinto algo não sei esconder.

- Mas tu vai ter que se controlar. Sou bastante realista, Marcus, e te digo que tudo na vida tem um começo, um meio e um fim... até as relações amorosas.

Ele coçou a orelha de novo. Percebi que ele sempre faz isso quando se sente contrariado ou nervoso.

- O que devo fazer agora, então? Esperar?

- Exatamente. De imediato é tomar um banho e se reerguer. Esta com cara de ressaca.

Ele olhou para o seu próprio corpo, depois falou:

- Esse pijama é teu?

Fiz um sinal de positivo com a cabeça, ele colocou uma das mãos em cima da minha e depois agradeceu.

- Obrigado por tudo, Chris! Me sinto até mau por ter tido ciúmes de você com Estela.

Fiquei um pouco constrangido e tirei minha mão de baixo da dele.

- Ciumes de mim? - questionei.

- Sim. Estela falava muito em você e eu não gostava. Não acredito em amizade entre homens e mulheres.

Eu ri com a declaração dele, não estava acostumado a conversar com héteros tão sinceros assim como Marcus, e uma dúvida surgiu em minha cabeça: será que ele sabe que sou gay?

- Bem coisa dos heterossexuais do gênero masculino. Mas Estela nunca te falou que eu prefiro meninos a meninas?

Ele se constrangeu com a minha sinceridade, ficou vermelho e seu olhar fugiu do meu olho.

- Falou... bem, não abertamente, mas eu notei e perguntei a ela.

- Entendi! Por isso que você mantinha certa distancia de mim, não é mesmo... preconceito?

- Veja bem, Chris, eu não quero parecer preconceituoso e nem falar essas coisas que eu mal sei da tua vida ou com quem tu se relaciona...

Nessas palavras dele eu percebi o quanto ele era preconceituoso e isso me magoou, mas não demonstrei.

- Tranqüilo brother! Eu to indo pra academia e assim que falar com Estela, te ligo!

Sai do quarto e fui para a academia do condomínio. Estava magoado. Não pelo preconceito que já estava acostumado, mas pelo preconceito do Marcus por quem senti um grande amor no passado. Corri na esteira durante uma hora, mas não o tirava dos pensamentos. Quando voltei pra casa ele já havia ido embora. Subi até o quarto e sobre a cama estava a toalha que ele usou no banho. Não resisti e confesso que cheirei, depois pensei "tão bonito e tão idiota". Sobre o criado mundo, um bilhete.

Não tenho palavras para agradecer tudo que fez por mim, Chris! Obrigado por tudo e me desculpa qualquer coisa. Esse é meu celular, assim que falar com Estela me liga.

Abraço

Marcus

Depois que li, pensei "Christopher, Christopher, Christopher... sempre se metendo em roubadas"

O fim de semana passou rápido. Não consegui falar com Estela nem por telefone. Marcus me ligou duas vezes no sábado e no domingo perdi as contas. Queria saber se havia localizado Estela, lógico, pra saber como eu estava é que não foi. Risos!

Em 2004 estava no último ano da faculdade, e como era ano de formatura, estava estagiando em turno integral no fórum de Porto Alegre. Eram tantos a fazeres que acabei por esquecer dos problemas de Marcus naquele dia. Quando estava no carro, já chegando em casa foi que lembrei e resolvi passar na casa de Estela, antes de ir para a minha.

Assim que cheguei fui direto a piscina e lá estava Estela, deitada em uma das cadeiras e ao seu lado, de mãos dadas com ela, Juliano. O amigo de Marcus, que parecia ser agora o namorado da ex namorada dele... confuso não?

Comentários

Há 2 comentários.

Por Dean Sampaio em 2013-11-23 08:41:15
Amo demais, continua logo Chris. Sua historia é tão boa que parece que estou lendo ela pela primeira vez hehehe
Por Angellix em 2013-11-23 02:13:42
Ah posta logo a continuacao, to adorando seu conto. Bjus