Capítulo 02 - Estranha atração

Parte da série LOVE ONE

Um silêncio frio e distante se apoderou daquela sala, por dentro eu sentia vontade de gritar mas por fora tentava demonstrar-me superior de algum modo. Do sofá Lucas me encarava com uma expressão de divertimento, como se fizesse pouco caso de minha dor, de algo que me machucava bastante, ter perdido meu pai a um ano no dia em que eu completava 15 anos de idade, dentro de mim aquilo tudo ainda era muito recente. Perdi meu pai em um acidente de transito, desde então não conseguia sequer pensar na possibilidade de comemorar alguma coisa naquele trágico dia.

– Preciso ir! – disse ele se levantando do sofá em direção a porta.

– Você não respondeu minha pergunta e não vou te deixar sair sem que me esclareça! – disse entrando em sua frente, impedindo sua passagem.

– Eu só queria saber se você estava bem! – disse ele com um sorriso ensaiado.

– Não foi essa a minha pergunta, aliás... O que te importa se estou ou não bem?

– Bruno eu...

– Olá rapaz, ainda não sei seu nome mas por que não fica para o jantar? – disse minha mãe ao voltar da cozinha, interrompendo sua explicação.

– Não acho uma boa ideia. – respondeu ele com um sorriso simpático para minha mãe.

– Não será incomodo algum, fique! – insistiu ela.

– É isso, jante conosco! – falei em um tom de provocação.

– Então já que insistem eu fico! – Lucas abriu um sorriso largo ignorando por completo o meu mau humor.

Já sentados na mesa para o jantar, mamãe era muito atenciosa com seu convidado que para ela era um de meus amigos do colégio. Lucas ao contrário do que até então havia se demonstrado estava mais solto, relaxado e desinibido. Vez ou outra minha mãe conseguia achar graça no que ele dizia, a essas alturas eu sequer conseguia prestar atenção no que eles conversavam, eu só queria que aquilo terminasse logo. O ponto alto da noite foi quando minha mãe serviu sua famosa receita de torta de carne, Lucas não fazia a menor cerimonia em apreciar o prato. Enquanto isto minha mãe parecia cada vez mais admirada por aquele garoto lunático. Calado em meu lugar eu os observava como um mero telespectador, aquilo parecia um comercial de margarina de tão perfeito que o momento se mostrava. Se querer me deixei levar naquele belo sorriso e na forma tão angelical dos traços de seu rosto, o brilho ofuscante de seus olhos, num pequeno instante ousei me imaginar em seus braços, beijando seus lábios.

– Sua mãe é uma cozinheira de mãos cheias! – disse ele a minha frente, me puxando a realidade.

– Onde ela está? – perguntei assustado ao perceber que só estávamos os dois ali.

– Ela foi buscar uma foto para me mostrar, uma foto sua! – seus olhos brilhavam com duas imensas estrelas ao dizer isso.

– Foto minha? Você quer ver uma foto minha?

– Só quero ver como era o bebê mais lindo do mundo!

– Muito engraçado! – disse eu revirando os olhos sem a menor vontade de demonstrar simpatia.

– Aqui está, veja como ele era cute cute!!! – disse minha mãe ao voltar para a mesa com um álbum de fotos aberto e entrega-lo para Lucas.

– Isso é alguma espécie de castigo? – cochichei para minha mãe enquanto ele não parava de olhar página por página do álbum.

– Qual o problema? Seu amigo está interessado! – ela cochichou de volta.

– Senhora Tereza, com toda a certeza do mundo que o Bruno foi o bebe mais lindo desse mundo! – disse Lucas em um tom doce para minha mãe, naquele momento eu acabei engasgando com o suco que estava tomando.

– Não te disse, me chame apenas de Tereza!

Minha mãe já sabia sobre minha opção sexual mas aquilo pelo contesto que se apresentava parecia ridículo para mim, constrangedor eu diria. Minha mãe estava tentando me juntar com aquele Lucas? Balancei por dentro, apesar de até sentir uma atração por ele também havia algo nele que eu simplesmente não sabia o que era, mas que eu já podia antever que não gostaria nenhum pouco de sabe o que!

– Bom garotos, se me dão licença eu preciso fazer algumas coisas lá em cima. – disse minha mãe se levantando rumo ao corredor. – Divirtam-se!

– Ma...mãe... – tentei faze-la ficar mas ela seguiu em direção ao corredor, deixando-nos ali.

– Quer dar uma volta? – perguntou ele com um sorriso desafiador.

– Por que eu faria isso?

– Porque você gosta de mim e está precisando sair da rotina! – disse ele com a maior cara de pau.

Meu queixo caiu com aquilo, como alguém que eu acabara de conhecer poderia ser tão cara de pau? Fechei meus olhos e respirei fundo tentando não demonstrar meu nervosismos. Do lado de Lucas eu nunca sabia o que esperar, num momento eu o via como um psicopata e em outro ele parecia tão doce de pessoa, pretencioso mas simpático!

– E o que te garante que eu quero dar uma volta com você?

– Seus olhos, sua boca, seus gestos! – disse ele com a mão em meu rosto.

– Vamos, só quero que isso acabe logo. – disse entediado.

Ao sairmos no jardim a alguns metros a frente havia uma moto vermelha com algumas caveiras e dois capacetes, Lucas retirou um chaveiro do bolso e balançou as duas chaves no ar.

– Com medo?

– De você não, da sua bipolaridade talvez. – ele riu sem levar em consideração que minha intensão não era a de diverti-lo.

– Então vamos nessa! – disse ele logo antes de caminhar em direção a sua moto.

– Espera. – disse eu fazendo-o se virar em minha direção. – Você usa drogas?

– Isso te atrai? – perguntou ele com um sorriso malicioso. – Sinto decepciona-lo mas não!

Subimos na moto e eu me segurei em sua cintura. Antes de partirmos Lucas disse alguma coisa sobre segurança, algo que eu não pude entender muito bem devido ao capacete abafando o som e, talvez meu nervosismo por estar tão grudado a ele. Seu cheiro era de hortelã com canela, algo simplesmente incrível e sedutor!

Alguns minutos depois paramos em frente ao parque Daulther onde Lucas estacionou a moto próximo a uma arvore centenária. A noite estava linda e fresca, meus cabelos balançavam com o vento e uma forte sensação de paz me preenchia.

– Vamos, quero te mostrar algo! – disse ele me puxando para dentro do parque.

– O que você quer me mostrar?

– Você é muito desconfiado, desde o começo do dia você não para de fazer perguntas.

– E desde o começo você não para de me parecer um problema ambulante!

Caminhamos até a entrada do parque Daulther mas Lucas parou bem em frente ao portão, me olhou bem profundamente e acariciou meu rosto com seus dedos suaves, por alguns segundos aquilo parecia um sonho em que a qualquer momento se encerraria com um beijo.

– Vamos! – disse eu tentando não demonstrar a vontade que sentia em beija-lo.

– Eu não posso entrar, só você!

CONTINUA...

Curioso para saber o que é que espera por Bruno do outro lado do portão? Por qual razão Lucas não pode entrar no parque Daulther? Que mistérios estão por trás desse comportamento tão secreto do novato? No terceiro capítulo o enigma começa a ser exposto e a aventura está só começando. Continue ligado em LOVE ONE!

**música tema de Bruno e Lucas – Speechless (Lady Gaga)**