Capítulo 20 - Meu anjo

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Parte da série LOVE ONE

Meu anjo (narrado por Alex):

– Alex... Me perdoa, eu devia ter te escutado. – seus olhos mal conseguiam se manter abertos.

– Você não pode me deixar... – tive medo de perdê-lo, aproximei meus lábios dos seus e em um suave beijo senti seu corpo esfriar. – Brunooooooo...

– Mocinhos também morrem... Te amo!

– Jeniffer... Para o carro! – comecei a gritar, Thiago estava em outro carro com Alice, um garoto que devia ser o pai de seu bebe e Travor. – Para essa droga de carro agora.

– E todo esse drama por quê? – Jeniffer parou o carro e olhou para trás. – Ele pegou no sono?

– O Bruno... – não conseguia completar aquela frase tão difícil, era injusto que aquilo pudesse ter acontecido justamente com o meu Bruno, o que eu amei em segredo desde a quarta série, aquele que jamais fez mal a ninguém e que mesmo assim a vida insistia em lhe ser dura. Por ele eu matei e teria dado qualquer coisa para estar em seu lugar naquele momento.

Thiago também parou seu carro no meio da estrada e como médico tentou tudo o que pode pelo Bruno, mas já era tarde demais. Seu coração tão lindo e puro jamais tornou a bater. Todos ali partilhávamos de uma mesma dor, uma revolta. Thiago e eu amávamos aquele garoto com todas as nossas forças e abraçados em meio aquela estrada fria e solitária, despedaçados por dentro, ambos estávamos perdidos, sem chão, sem rumo algum, sem um lugar para voltar atrás e chamar de lar. Aquele maldito havia conseguido não só se vingar de Bruno como também me matar por dentro, eu me sentia culpado por não ter quebrado o pescoço dele ao invés do braço, preferia estar preso naquele reformatório por um ano se isso me garantisse que Bruno estaria bem, eu falhei!

– A culpa foi minha, eu devia ter feito alguma coisa assim que soube que esse tal de Arthur era um problema para ele... – disse Thiago com sua voz embargada.

– Não... A culpa é apenas minha. – me soltei de seu abraço sentindo remorso pelas atitudes que não tomei. – Eu devia ter matado aquele desgraçado, eu me odeio... – soquei a porta do carro com toda a raiva que eu estava sentindo de mim mesmo. – Eu nunca mais vou amar tanto alguém como um dia eu te amei e continuo amando, Bruno!

A cidade mais próxima do que deixou de ser Scott Hise era Menvill’s, seria ali que meu amor seria enterrado e onde eu havia decidido passar o resto do que me sobrou de vida sem ele. Thiago havia atestado sua morte como causa natural, ao longo toda a manhã seu corpo passava por pericias em uma pequena clinica da cidade e a tarde no cemitério de Menvill’s um padre fazia um discurso sobre Bruno, o padre Benário segundo ele, havia batizado Bruno quando bebe.

– Quis o pai de todos nós que seu destino fosse tão cedo voltar a seus braços, a nós como seres humanos o que ficam são as boas recordações de um... – no meio do discurso do padre, diante daquele caixão de longe avistei em meio a todas aquelas lápides sua imagem.

– Bruno! – comecei a seguir em sua direção.

“Desde o começo, antes de ter me dado coragem, eu sabia o que sentia. Durante todo esse tempo estive ligado a você e um flash se passou em minha mente.”

Tínhamos acabado de concluir a oitava série, logo entraríamos para o primeiro ano do colegial em Scott Hight. Bruno, Linda e eu éramos inseparáveis. Como estávamos de férias costumávamos passar boa parte de nosso tempo acampando no parque florestal da cidade, só os três em meio a toda aquela natureza.

– Nossa... Se eu não me tocasse de trazer repelente a gente iria ser banquete de mosquitos. – reclamava Linda em um ar mais brincalhão. – Ei rapazes, qual de vocês vai ser o cavalheiro a ascender à fogueira?

– Não seria melhor pedirmos uma pizza? – retruquei assim que percebi seus olhares insinuando que eu era quem deveria fazer todo o trabalho pesado, enquanto isso o Bruno lia um livro idiota dentro da barraca.

– Engraçadinho... – Linda revirava os olhos. – Okey, na falta de cavalheiros as damas mostram seu valor!

– Deixa que eu o faça! – disse Bruno saindo da barraca sem camisa (desde já uma visão do paraíso). – Mas o Alex vai ter que me ajudar!

– Isso! – comemorou ela. – Então mãos a obra rapazes!

– Ela pensa que é a rainha francesa. – cochichei para Bruno.

– Você devia dar graças a deus por não sermos amigos da Jeniffer, isso sim!

– Que tal se da próxima vez acampássemos só nós dois? – eu não tinha coragem de dizer o que sentia por ele. – Daí vai ser mais tranquilo, sabe? Rapazes podem ficar mais a vontade!

– Que nem Tarzan, pelados no mato? – Bruno abriu um sorriso inigualavelmente perfeito. – Nem pensar, você é nudista de mais para o meu gosto.

– Hei... Gente, de quem são essas revistas aqui? – perguntou Linda enquanto saia da barraca com algumas revistas de homens nus. – Esse daqui é uma gracinha!

– São minhas... – respondeu Bruno com seu rosto corando. – Não escondi muito bem ou você tem vocação para detetive?

– As duas coisas miguxo! – Linda começou a folhar uma das revistas em sua mão. – Nossa... Que gato!

– Você é gay Bruno? – perguntei meio sem jeito, até então eu parecia ser o único a não saber. – Não que eu seja contra...

– Sim, eu sou gay e minha família inteira já sabe disso! – respondeu ele com uma expressão mais solta enquanto esfregava alguns gravetos em pedras.

– E como foi que seus pais reagiram?

– Você sabe como os meus pais são diferentes dos demais! – Bruno deu um risinho contido. – Quando eu contei pra eles, eles acharam que você fosse meu namorado porque vive lá em casa!

– Hei... Mas a Linda também não saí de lá! – protestei, no fundo até gostando do que havia acabado de ouvir de sua boca.

– Não coloque nessa história senhor Alex espertinho. – reclamou Linda. – Eu estou lendo!

– Antes de eu dizer que sou gay, eles pensavam que a Linda fosse minha namorada!

– Toma Linda! – disse em tom de brincadeira.

– Tomo mesmo! – ela se aproximou de Bruno e lhe deu um selinho. Ambos acabaram rindo com a cara de espanto que eu fiz.

– Do que é que vocês dois estão rindo?

– Você fez uma cara de... Ciúmes? – ironizou Bruno enquanto se abraçava a Linda.

– O amor é lindo! – continuou Linda. – Não vou rouba-lo de você, prometo!

Pela primeira vez eu não sabia onde enfiar a cara, todas aquelas brincadeiras tinham sim seu fundo de verdade. Já havia algum tempo em que eu sonhava com o Bruno e o imaginava comigo, só ele e eu em uma praia deserta ao pôr do sol! Não tinha coragem de assumir isso, meus pais não eram tão liberais quanto os dele.

– Não é melhor ascender o fogo com isso? – retirei um isqueiro do bolso da bermuda e entreguei-o a ele, nossas mãos se tocaram e eu sentia vontade de agarra-lo. – Eu vou fazer ir xixi.

À noite a fogueira que havíamos feito durante a tarde era a única fonte de iluminação naquela mata, estava quente e Bruno dormia como um bebe dentro daquela barraca. Linda tagarelava feito uma matraca em meu ouvido.

– Que foi? Você é sempre tão alegre e brincalhão... Você tá chateado porque o Bruno é gay?

– Eu tô chateado porque eu gosto dele mais do que devia!

– Sério? – Linda arregalou os olhos se demonstrando bastante curiosa. – Ele sabe e não te dá bola então?

– Não é isso... – esfreguei minha testa com as palmas das mãos. – Ele não sabe, eu não tenho coragem de dizer. Ele é tão perfeito!

– E você também é! – Linda me abraçou de lado. – Vocês dois parecem terem nascido um para o outro.

– Às vezes penso que talvez a gente nunca fique juntos. – desabafei.

– Bobagem. Quer que eu fale com ele?

– Não... Isso eu mesmo tenho que fazer mesmo que demore um pouco, sei lá? Você não vai contar nada disso pra ele!

– Tá certo, mas...

– Mas o que? Sua língua não se prende na boca?

– Não... – ela me deu um tapinha na cabeça. – Se você demorar muito para dizer o que sente pode ser que você o perca para sempre.

– É difícil Linda!

– Pode até ser, mas é melhor encarar isso agora do que esperar que algum dia em um passe de mágica seu príncipe acorde ao seu lado dizendo “Eu te amo”!

– Você acha que ele pode gostar de mim do jeito que eu gosto dele?

– Alex... Conhecendo o Bruno como só euzinha conheço é uma coisa que eu posso te garantir!

– Vou tentar reunir essa coragem toda, ele é tudo o que eu quero pra mim!

– Tudo bem, mas lembre-se. O tempo passa e não volta mais para trás!

– Vou ir dormir...

– Troca de lugar comigo e dorme abraçadinho com seu futuro namorado! – Linda deu um sorriso alto-explicativo. – Você não tem opção!

Entrei na barraca e me deitei ao lado de Bruno que dormia de bruços, tão lindo e tão destemido, coloquei meu braço sob sua cintura e colei meu rosto bem próximo a ele que se virou sem acordar e com um belo sorriso no rosto parecia entender que alguém ao seu lado o amava tanto quanto pudesse respirar, ou seja, ou amor sem fim.

– Te amo Bruno e vou te amar até o último de todos os momentos de nossas vidas! – sussurrei de leve em seu ouvido antes de adormecer em seus braços!

– Alex... Tudo bem? – perguntou Alice, novamente estávamos naquele cemitério. Não havia ninguém onde a imagem de Bruno havia se projetado. – Alex, todos entendemos e partilhamos a mesma dor!

– Adeus meu pequeno grande guerreiro! – disse Thiago jogando uma rosa branca sobre o caixão de Bruno que já era preparado para ser coberto pela terra.

– Sei que não é o momento, mas quero que saiba que pode contar comigo! – Travor apoiou sua mão em meu ombro. – Fui injusto com você, você amou meu primo com todo o seu coração e sei que se pudesse o teria salvado novamente!

– Uma vez me disseram que o tempo não volta atrás, naquela época eu devia ter tido coragem... – as lágrimas me tomaram com intensidade e Travor me puxou contra seu peito, me dizendo que não valia mais a pena se arrepender do que se foi.

– O Bruno me salvou mesmo quando eu havia contribuído com todo o mau que aconteceu em sua vida... Se eu não tivesse sido cumplice daquele homem? – Jeniffer caiu de joelhos perante todos nós. – Nada disso teria acontecido... Perdoem-me!

– Você é uma maldita cobra... – me soltei dos braços de Travor e me ajoelhei perante ela. – Primeiro tentou mata-lo por despeito. – olhei-a com desprezo. – Depois você só revela sua culpa quando você mesma já o havia colocado como alvo daquele psicopata maldito. – agarrei em seus braços com raiva. – Se você não tivesse feito o que fez... Aquele desgraçado estaria na cadeia e seu secreto filhinho igualmente monstro jamais teria feito o que fez...

– Eu não sabia que as coisas poderiam chegar a este ponto. – disse ela entre soluços.

– Agora você se arrepende? – apertei-a. – É meio tarde, não acha?

– Eu não matei ninguém! – gritou ela.

– Não diretamente, mas saiba que tudo isso também tem seu dedo. – a soltei percebendo o mal estar que aquilo me provocava. – Jeniffer, de patricinha fútil e mimada você se tornou um ser sem alma, uma coisa vazia!

Deixei-a no chão jogada como um farrapo e segui andando sem olhar para trás, eu havia acabado de perceber que de uma certa forma, por ironia do destino tudo o que havia acontecido de ruim com o Bruno, que só havia acontecido porque em algum momento todos agimos errado, nos calamos, fingimos, fugimos, traímos, enganamos e até nos omitimos. Bruno foi um ser incrível do começo ao fim, sempre disposto a ajudar ao próximo, mesmo em momentos em que qualquer outro teria se recusado, no entanto este foi seu destino. Nós o deixamos partir com nossas atitudes desmedidas.

E no céu o sol brilhava intensamente, era como uma festa de boas vindas. Neste dia enquanto muitos choravam e lamentavam pela tragédia que destruíra Scott Hise, em algum outro lugar havia alegria! Como podemos entender essa vida se nada costuma ser tão previsível quanto pareça à primeira vista? Andando sem rumo por aí com seu sorriso brincalhão preso em minha mente decidi voltar para casa, em minhas lembranças. Quanto tempo essa dor me acompanhará pela estrada? A pesar de tudo não haveria dor maior que essa. Foi meu o seu último “Eu te amo”!

FIM?

Música tema do capítulo = MADNESS (MUSE).

Faltam mais 17 capítulos para a grande final de LOVE ONE, esta foi a final da segunda fase narrada por Alex. A partir do próximo capítulo iremos conhecer Diego. Então o que você achou do destino de Bruno? Pensa que acabou por aí? Eu posso garantir que essa trama ainda vai dar muitas viradas surpreendentes nessa última fase! Deixe seu comentário e expresse sua opinião a vontade, tudo bem. Beijos e amaços de saudades!

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