Capitulo 01 - v.2.0

Parte da série O Principe e Eu

Oi gente. Pra quem acompanha a minha historia originalmente publicada no perfil http://www. casadoscontos .com.br/ perfil/ 176493, eu perdi a senha daquela conta portanto as versoes 2.0 da historia serao colocadas aqui. Mas nao achem que vai vir tudo ja, na verdade eu nao ia colocar esses capitulos revisados online, mas achei justo com quem espera ha tanto tempo :)

Um

O Novato

Era meu primeiro dia no colégio Griffin, a escola privada mais importante da Inglaterra. Daqui saiam futuros ministros, embaixadores, diretores de bancos e secretários de estado. Os meninos que chegavam à escola já traziam em seu nome títulos: duque, barão, conde e até príncipe. Todos importantes, a elite britânica. Todos menos eu.

John Smith é como me chamo. Um nome comum para alguém tão sem qualidades notáveis como eu. Minha chegada ao colégio tinha mais a ver com sorte e disciplina do que qualquer coisa. Enquanto os alunos mais inteligentes sucumbiam à pressão das provas para uma bolsa integral na escola, eu mantive meu desempenho e acabei prevalecendo. O governo me recompensou pagando todas as mensalidades do caríssimo colégio pelos últimos dois anos de meu ensino médio e foi assim que eu, de repente, me vi em meio à aristocracia inglesa. Nem preciso dizer que meus pais ficaram extasiados com a notícia. Com meu modesto passado social de pai italiano e mãe brasileira, uma educação de elite estava longe das possibilidades que eles imaginavam podem prover ao seu único filho. Quanto a mim, eu não sabia dizer se eu estava feliz naquele momento. A ideia me trazia um incomodo no estomago, e eu não sabia dizer ao certo o que eu sentia quanto olhava para todo o luxo e ostentação a minha volta. E eu estava em uma reles sala de espera, aguardando.

O orientador entrou sem cerimônias onde estavam eu e mais um grupo de novatos. Todos nós sentados, esperando aquela visita com olhares ansiosos. Mirei os outros garotos com suas complexões bem definidas, suas peles brancas e bem cuidadas e seus corpos elegante vestindo seus uniformes ajustados e me olhei no espelho, percebendo minha própria inadequação. Pude ver meus olhos castanhos e minha tez pálida. Meu cabelo fino e bagunçado combinando com o uniforme grande demais para meu corpo magro. Eu era o verdadeiro patinho feio entre os cisnes.

“John Smith” chamou o monitor e eu me levantei. Esfreguei as palmas de minhas mãos na calça para secar o suor que brotava de meus poros.

“Pode se sentar garoto”, ele respondeu. Era um homem ruivo, de olhos verdes e barba cerrada. Era muito bonito, apesar de que naquela época eu não teria a coragem de admitir a mim mesmo quanto a esse fato. O olhar de desaprovação que ele me lançara, porém, enterrou qualquer sentimento que eu pudesse nutrir por ele.

O homem se apresentou como Mark e continuou a andar pela sala chamando nomes de uma lista até que todos estivessem contabilizados. Por fim mandou que nós o seguíssemos.

Saímos através do grandioso pátio do colégio e parecia ser a hora do intervalo entre as aulas pelo número de aluno que transitavam pelo espaço. Nosso grupinho atraía a atenção de alguns veteranos apesar de nenhum deles parecer verdadeiramente interessado. À minha frente seguia grande parte do meu grupo, a maioria conversando animadamente. Pessoas que deviam se conhecer desde pequenos, dos encontros promovidos pelo restrito grupo que formava a alta sociedade inglesa. Eu os acompanhava a certa distância, tentando permanecer invisível, distraindo-me com a arquitetura de algum prédio ou com o rosto de algum aluno durante nossa curta caminhada.

O monitor nos dirigiu por uma escadaria que levava até nossos dormitórios. Cada alojamento era panejado para acomodar duas pessoas. Mark parou em frente ao dormitório número 106 e me indicou que aquela seria a minha morada pelos próximos dois anos. Encontrei minha mala já colocada em frente à cama forrada com lençóis nas cores da escola: vermelho e dourado e bordados com o brasão de Griffin, um grifo vermelho lutando com um leão dourado sob uma coroa. A cama ao lado aonde ficaria meu colega de quarto continuava vazia, e eu secretamente desejava que nunca fosse ocupada. Eu apreciava a solidão e sentia que ali o melhor seria ficar sozinho a ter que suportar algum dos meninos mimados que eu imaginava frequentar a escola.

Enquanto eu desempacotava uma voz ecoou dos alto-falantes espalhados pelo colégio.

“Todos os alunos devem comparecer ao grande salão para a cerimônia de boas-vindas”, falou uma mulher com um timbre infantil e amigável.

A voz repetiu a mensagem e logo o monitor surgiu no corredor, arrebanhando o grupo de novatos.

O grande salão se localizava no prédio central do conjunto. As lareiras estavam todas acesas, aquecendo o salão com um calor sufocante. Os alunos estavam divididos em mesas redondas espalhadas por toda a extensão do local e nós, os recém-chegados, tínhamos um número de mesas reservadas em um canto mais próximo à porta de entrada. Ao final do salão, sobre um estrado, se encontrava o corpo docente do colégio Griffin, todos impecavelmente vestidos em seus uniformes e esboçando sorrisos condescendentes. O diretor, um homem roliço e com nariz de porco, que mais parecia Winston Churchill, se levantou e falou em um microfone.

“Bem vindos novos alunos e bom retorno a todos aqueles que continuam sua educação em nossa gloriosa escola…”.

O discurso do diretor continuou nesse tom por mais um vinte minutos, com as palavras “gloriosa”, “imponente” e “magnânimo” se repetindo algumas porções de vezes. Todos os alunos e até mesmo alguns professores pareciam entediados e eu pude ouvir um veterano cochichar para um colega que não aguentava o falatório da cerimônia todo ano antes do banquete. A menção a comida me encheu de alegria e logo eu também estava desejando que o discurso terminasse de uma vez por todas. Quando parecia que por fim o diretor ia se calar um funcionário chegou discretamente ao seu lado e cochichou algo em seu ouvido que certamente o deixara extasiado, dado o largo sorriso que se plantou em seu rosto.

“É com grande prazer que anuncio a vocês a chegada do mais ilustre aluno que acaba de se transferir de seu colégio na França para a nossa instituição. Como todo bom filho à casa torna, uma salva de palmas para Sua Alteza Real, o Príncipe Thomas Kensington”.

A porta frontal se abriu com um ‘claque’ dramático às costas do alunos, forçando-os a virarem suas cabeças em trezentos e sessenta graus para acompanharem a entrada triunfal do monarca. Uma enxurrada de palmas acompanhou sua caminhada até o estrado onde ele apertou a mão do diretor e distribuiu acenos e sorrisos a todos os professores e alunos. Thomas era tudo que a nação procurava em um príncipe: ele era alto, atlético, com o maxilar forte e masculino. Seus cabelos loiros acinzentados estavam sempre perfeitamente arrumados. Falava três idiomas e era um excelente jogador de críquete e exímio equitador. Se a Disney quisesse criar um príncipe perfeito, bastava copiá-lo. A única coisa que podia ser “imperfeita” sobre ele era o fato de ser o segundo filho, fazendo do mesmo o segundo na linha de sucessão, atrás de seu irmão, Jacob. Portanto, não era surpresa para mim o tamanho contentamento do diretor. Uma adição desse calibre à escola com certeza traria gordos cheques à conta do colégio e muitos mais anos ao cargo do velho “Sr. Churchill”, como eu viria a chamá-lo daquele dia em diante.

Após a obrigatória introdução e um breve discurso do príncipe sobre como era bom retornar a Inglaterra e de como os franceses tinham um péssimo senso de humor, Thomas foi colocado em um lugar de honra logo à frente da mesa dos professores, como uma joia que merece ser admirada e vigiada ao mesmo tempo, e o banquete foi servido.

Diversos lacaios de gravata borboleta branca e terno adentraram o salão carregando os mais variados tipos de delícias gourmet em bandejas de prata. A comida estava soberba e aquela foi a minha primeira experiência agradável naquele ambiente elitista inglês, mesmo que a quantidade absurda da talheres na mesa me deixassem envergonhado e confuso, me fazendo esperar alguns minutos até que os outros garotos começassem a comer para que eu pudesse imitá-los e não parecer um completo plebeu inculto pegando o garfo e faca errados. Se quando eu voltasse ao meu dormitório e descobrisse estar sozinho no quarto, consideraria a possibilidade de um ano letivo promissor.

Todavia não fora de completa surpresa quando eu cheguei em meu dormitório e observei uma quantidade considerável de malas empilhadas sobre a cama do meu futuro colega de quarto. Bufei e irritado peguei meu exemplar de “Orgulho e Preconceito” dentro de minha mala, abrindo em uma página qualquer. Sem perceber cai em um sono sem sonhos.

Acordei no dia seguinte com a luz do sol batendo em meu rosto. Meu livro estava caído ao lado da cama e olhei para meu uniforme amarrotado depois de usá-lo como pijama durante a noite. Meu companheiro estava dormindo, enfiado debaixo das cobertas. No início não me importei muito, mas logo fui tomado por uma imensa curiosidade de saber quem era ele. Na ponta dos pés cheguei até a beirada da cama dele. Com o dedo cutuquei-o, primeiro com hesitação, e depois uma segunda vez, com mais força, fazendo-o se mexer um pouco. O toquei uma última vez, agora com firmeza e por fim o jovem virou, fazendo o cobertor deslizar para fora de cama. O garoto estava deitado de barriga para cima, com o peitoral desnudo e a boca aberta. Quando vi, só uma palavra me veio aos lábios.

“Merda”.

Ali estava Sua Alteza Real, o Príncipe Thomas Kensington.

Comentários

Há 1 comentários.

Por König em 2013-10-15 18:19:57
gostei