Mais que uma lembrança [parte 14]
Parte da série Mais que uma lembrança
Bom, aqui vai o décimo quarto capítulo! Eu espero que estejam gostando. Vou tentar postar a décima quinta parte ainda hoje, pra compensar o tempo que fiquei sem postar! Mas não posso prometer nada! ;)
A Elisa entrou um pouco pra cumprimentar minha mãe, parecia deprimida, mas conversava e sorria pra nós normalmente.
Jaqueline: Como estão as coisas?
Elisa: Estáveis... O Enterro do meu ex-marido foi agora de tarde.
Jaqueline: Perdão por não termos ido!
Elisa: Não se sinta culpada... Você tem seu emprego e casa pra sustentar.
Minha mãe ficou em silêncio, as duas se encararam por alguns segundos e, enfim, a Elisa disse: Vamos, Lucas.
Lucas: Vamos!
Me despedi da minha mãe e fui com a Elisa.
Lucas: Você disse que eu sou primo ou algo do tipo? - perguntei quando estávamos chegando.
Elisa: Não, disse que é um amigo mesmo. Perguntei se era possível eles permitirem que um amigo visitasse o Bruno.
Lucas: Entendi. Muito obrigado por fazer isso por mim.
Elisa: Eu não entendo a amizade de vocês. Mas é uma coisa muito forte. Você merece essa chance.
Lucas: Obrigado.
Ela sorriu. Estacionou o carro e descemos. Estava ventando, algumas nuvens tinham coberto totalmente o céu, o tempo estava "cinza". E claro que estava frio, me arrependi por não ter levado uma blusa.
Segui a Elisa até a recepção do hospital, ela conversou com a recepcionista, que nos deu crachás de visitantes e liberou nossa entrada. Entramos no elevador, mas não reparei em que andar fomos parar. Havia um outro rapaz no elevador conosco, era bonito, mas estava com os olhos cheio de lágrimas. Ele permaneceu no elevador quando saímos.
Andamos um pouco, viramos alguns corredores, e quando a Elisa parou em frente a uma porta, meu coração bateu forte, me preparei para qualquer coisa. E então ela abriu a porta. Eu entrei e ouvi a Elisa fechando a porta atrás de mim.
O Bruno estava deitado em uma maca, haviam alguns aparelhos ao seu redor, mas não como eu imaginei que seria.
Ele tinha um corte e um hematoma um pouco grande na testa, eu não vi seu corpo todo por causa da roupa do hospital, mas seus braços também tinham hematomas, sua boca estava bem ferida, como se tivesse rachado muito com o frio.
Elisa: Disseram que foi um milagre ele não ter morrido na hora, pela gravidade do acidente.
Lucas: Ele já veio pra cá em coma, ou ele entrou em coma gradualmente?
Elisa: Parece que já estava inconsciente quando foi retirado do carro.
Ela chegou perto dele, passou a mão em seu rosto e ficou alguns segundos em silêncio, com os olhos fechados. Não sei se estava orando ou algo assim. Mas logo ela se afastou dizendo: "Lucas, vou te deixar aqui um pouco e descer comer alguma coisa... Eu não como nada desde o café da manhã hoje!
Lucas: Vai, eu quero ficar um pouco aqui.
Ela passou ao meu lado, pois a mão no meu ombro, deu um sorriso e saiu do quarto.
Eu olhei pra ele de novo, como se estivesse esperando ele abrir os olhos.
Encostei do lado da cama, alisei seu rosto. Eu sabia que ele não me ouvia, mas comecei a falar em voz baixa.
Lucas: Oi, meu amor... Queria que você pudesse pelo menos me ouvir. - fiquei em silêncio por alguns segundos. - To me sentindo culpado, acho que te magoei um pouco nesses últimos dias, você pegando o Davi na minha casa, eu indo ver filme na casa do Gustavo com um monte de garotos sem te contar... Queria te pedir perdão, mas agora eu nem tenho como saber como você se sentiu sobre aquilo tudo! - meus olhos encheram de lágrimas. E comecei falar com voz de choro. - Não quero perder você, Bruno. Não me deixa sozinho, eu te amo muito!
Enxuguei as lágrimas e reparei que a corrente não estava no seu pescoço. Olhei ao redor, mas não a vi em lugar algum. Seria possível ele ter perdido no acidente? Ou talvez tivesse tirado antes de viajar.
Logo a Elisa entrou no quarto de novo, e a primeira coisa que perguntei foi: Você sabe alguma coisa sobre a corrente que ele usava?
Elisa: Sim, ele estava usando quando chegou aqui. Me entregaram ontem, está aqui. - ela disse abrindo a própria bolsa e tirando a corrente com metade de um coração da bolsa.
Me senti melhor quando soube daquilo...
Lucas: Ele adorava essa corrente.
Elisa: Sim, é verdade.
Lucas: Elisa?
Elisa: O que foi?
Lucas: Ele vai acordar, não vai?
Elisa: O médico disse que é provável que acorde. Mas tem a chance de não acordar.
Lucas: Vamos torcer pra ele se recuperar.
Cheguei perto dele de novo e mexi no seu cabelo. Talvez isso tenha ficado estranho aos olhos da Elisa, mas eu não me importei.
Olhei pela janela e vi o tempo fechado. Eu não queria chorar na frente da Elisa, mas não consegui me segurar e as lágrimas escorreram de novo.
Senti a mão da Elisa no meu ombro.
Elisa: Ele vai se recuperar, querido. Se acalma. Vamos lá pra baixo, quer um café?
Lucas: Vamos voltar aqui depois?
Elisa: Sim. Eu prometo.
Hesitei, mas fui com ela até a cantina no térreo do hospital. Pedi um cappuccino e me sentei em uma mesa com a Elisa.
Elisa: Não quer comer nada?
Lucas: Não, obrigado.
Eu já tinha parado de chorar, tomei meu cappuccino devagar.
Elisa: Quer vir todo dia vê-lo?
Lucas: Não sei...
Elisa: Eu te ligo antes de vir pra cá, aí você diz se quer ou não.
Lucas: Combinado.
Logo em seguida a Elisa olhou por cima do meu ombro (eu estava de costas para a porta), me pediu pra esperar e saiu apressada. Poucos segundos depois ela voltou acompanhada de uma moça jovem, com pele clara e cabelos pretos, longos, parecia ter uns 25 anos, não mais.
Elisa: Lucas, essa é a prima do Bruno, ela se chama Renata.
A moça se aproximou, demos um beijo no rosto enquanto a Elisa dizia pra Renata que eu era um amigo do Bruno.
Renata: Então você é o Lucas?
Lucas: Sim. Já me conhecia?
Renata: Ouvi falar de você. E como o Bruno está?
Elisa: Na mesma. Eu trouxe o Lucas pra vê-lo, mas ele ficou um pouco nervoso e então eu o trouxe pra cá.
Renata: Entendo.
A moça me olhava de um jeito diferente, como se fosse muito importante me conhecer!
Elisa: Terminou, Lucas? Vamos subir com a Renata?
Lucas: Vamos.
Pegamos o elevador de novo até o andar do Bruno, saímos do elevador em silêncio e entramos no quarto. A Renata se aproximou da cama e passou a mão na testa dele devagar. Depois se afastou, falou algo pra Elisa que eu não entendi. Depois olhou pra mim, sorriu e disse: "Vocês são bons amigos, não é?".
Fiz que sim com a cabeça. Eu sabia que não estava com uma cara muito boa, mas não fiz nada pra tentar melhorar.
Renata: Fica tranquilo, o Bruno vai melhorar.
Logo que ela disse isso, a porta do quarto se abriu mais uma vez, e um homem com uma barba rala, cabelo loiro, pele bem clara, olhos verdes e magro entrou na sala. Eu não tinha ideia de quem era, nunca tinha visto ele antes.
Elisa: Ai, Ti. Obrigado por vir...
Ti? Seria ele era um namorado dela ou algo assim?
Ti: Não podia deixar de vir, mãe.
Me assustei ao ouvir aquilo. Era o irmão do Bruno! Ele olhou pra mim e, sem sorrir, estendeu a mão dizendo: Oi, eu sou o Tiago! Irmão do Bruno.
Lucas: Eu sou Lucas... Amigo dele.
Mas ele não deu muita bola pra mim, se aproximou da cama, mas não tocou no Bruno. Ficou um pouco em silêncio, parado ali. Só depois cumprimentou a Renata! Ela até parecia não vê-lo há muito tempo.
Não liguei pra eles, eu me sentei em uma cadeira e fiquei lembrando do passado. Lembrei do primeiro dia de aula, quando saí correndo pra alcançar o Bruno. Acho que o pensamento foi tão intenso que eu tive a sensação de que estava vivendo aquilo de novo.
Fiquei por um tempo ali, quando me dei conta de que estava com cara de bobo, sorrindo, olhei pros outros, a Elisa era a única que estava me olhando. Ela sorriu quando nossos olhares de cruzaram.
Elisa: O que te fez sorrir aquela hora? - ela perguntou no carro, quando já estávamos indo para casa.
Lucas: Eu tava lembrando de algumas coisas.
Elisa: Sobre o Bruno?
Lucas: É...
Elisa: Pode me contar?
Lucas: Lembrei do primeiro dia de aula. Quando eu conheci ele.
Elisa: Como foi?
Lucas: Ele pareceu quieto no começo. Na verdade, ele era quieto. Desde o começo pareceu se identificar melhor comigo do que com os outros.
Elisa: Sei... Continue!
Lucas: Quando a aula acabou, ele se levantou e olhou pra mim como se esperasse que eu fosse acompanhá-lo! Mas quando viu que eu estava esperando meus amigos... - dei uma risadinha - Ele ficou sério, olhou pra frente e foi sozinho.
Elisa: Mas ele me disse que vocês foram embora juntos...
Lucas: Porque depois que eu vi ele indo embora, deixei meus amigos lá e fui atrás dele.
Elisa: Por que fez isso?
Lucas: Não sei... Não sei o que me fez ir atrás dele.
Elisa: Você foi o primeiro amigo dele aqui... Ou melhor, é o melhor amigo dele.
Me perguntei se ela realmente não tinha percebido a verdade, ou se estava fingindo que não tinha percebido pra ver até onde eu iria.
Elisa: Vou pro hospital amanhã no mesmo horário. Eu te ligo antes, pra confirmar se você quer ir. - ela disse parando com o carro em frente o portão de casa.
Lucas: Ok, obrigado!
Elisa: Por nada, querido!
Desci do carro, e ela virou a esquina antes que eu conseguisse abrir o portão e entrar.
Jaqueline: Como foi?
Lucas: Tomei um cappuccino.
Jaqueline: Seu insensível...
Lucas: Brincadeira, mãe. Não foi agradável... Ele tá inconsciente...
Jaqueline: Não quer falar sobre isso, não é?
Fiz que não com a cabeça e então ela me deixou em silêncio. Subi e tomei outro banho quente, depois voltei pra jantar. Não conversei muito com a minha mãe, não porque eu estava triste, nem porque estava bravo. Na verdade, não sei o que estava sentindo, estava desnorteado, parecia que eu mesmo não estava ali.
Jaqueline: Você deixou seu celular em casa. O Davi ligou...
Lucas: O que ele queria?
Jaqueline: Falar com você, ué... Eu disse que você ligaria de volta quando chegasse em casa.
Lucas: Tá bom.
Deixei meu prato dentro da pia e ajudei minha mãe a arrumar a mesa, depois deixei-a lavar a louça e fui ao meu quarto. Parei em frente ao espelho, eu estava com uma calça moletom, camisa comum e tênis. Peguei meu celular e liguei pro Davi.
Davi: Lucas?
Lucas: Oi.
Davi: Tá tudo bem?
Lucas: Tá.
Davi: Tem certeza?
Lucas: Tenho. O que você quer?
Davi: Bom, amanhã de noite nós vamos nos reunir na minha casa pra ficar vendo filme. Você vem?
Acho que demorei muito pra responder.
Davi: Lucas?
Lucas: Não sei, Davi. Eu preciso de um tempo sozinho... Ligo pra você amanhã cedo.
Davi: Tá bom.
Nem me despedi direito, desliguei e joguei o celular na mesa do computador. Tirei o tênis e me joguei na cama sem nem mesmo apagar a luz ou colocar uma roupa mais confortável pra dormir. Me senti tão sozinho... E dormi.