Mais que uma lembrança [parte 17]

Conto de LipeWriter como (Seguir)

Parte da série Mais que uma lembrança

No dia seguinte eu acordei quase onze da manhã. Levantei um pouco atordoado e fui ao banheiro. Depois voltei ao meu quarto e abri a janela, mas fechei logo em seguida por causa do frio! Vesti uma calça e camisa e desci até a cozinha. Esquentei um copo de leite e fui lá pra fora. Me sentei no "degrau" que havia na porta dos fundos que ia pra piscina e fiquei um tempo ali. Ali o vento frio não pegava em mim, mas ao mesmo tempo eu não me sentia trancado dentro de casa! E isso fez com que eu me sentisse mais confortável!

Fiquei ali mexendo no celular e tomando meu leite. Mas acho que me distraí demais com o celular, e quando cheguei na metade do leite, ele já estava frio. Voltei pra cozinha e esquentei no micro-ondas mesmo, depois tomei tudo de uma vez e lavei a caneca.

Minha mãe chegou um tempo depois, eu tentei almoçar, mas a comida não desceu muito bem. Talvez porque eu tinha acabado de tomar leite.

Comecei a lavar a louça antes mesmo da minha mãe voltar para o trabalho. Nós não conversamos muito naquele dia.

Jaqueline: Tá tudo bem?

Lucas: Sim... Por que?

Jaqueline: Parece que você tá com a cabeça em outro mundo...

Dei risada. Talvez parecesse mesmo.

Depois de alguns minutos ela pegou sua bolsa e foi trabalhar. E eu fiquei guardando a louça.

Fiquei me perguntando que milagre tinha feito o Davi ainda não ter me procurado, nem enviado mensagem. Depois de levar a louça, eu já estava com a mão dura, de tão gelada que a água estava. Parei por alguns segundos e me perguntei o que eu podia fazer agora... Eu não tinha o Bruno e não queria ir atrás do Davi. O Gustavo não ia render uma tarde animada, por mais que ele fosse meu amigo. Eu até tinha o celular do Vinicius, mas nunca tinha conversado com ele por mensagem, e nem me encontrado com ele, a não ser na academia e nas vezes em que fomos ver filme.

Acabei pegando meu celular e enviando uma mensagem pra ele.

Lucas: oi, td bem?

Depois de alguns minutos, eu já estava perdendo a esperança de que ele ia responder, e enfim meu celular tocou. Era a resposta dele.

Vinicius: oi lucas... bem, e vc?

Lucas: to bem... tá fazendo alguma coisa?

Vinicius: não... to num tédio... quer fazer algo?

Lucas: quero... mas o que?

Vinicius: não sei tbm... se arruma, já já eu passo daí...

Lucas: ok...

Quase não tive tempo de tomar banho e o Vinicius já estava tocando a campainha. Eu tinha acabado de sair do banheiro, estava só de cueca no meu quarto. Meio apressado, eu coloquei uma bermuda e camisa e desci abrir o portão.

Ele estava com uma camisa verde escura e bermuda que eu não lembro a cor. Uma camisa sem manga, e chinelo. Não deixei de reparar nos seus braços. Eu não conseguia me conter pra essas coisas. E acho que eu já tinha até me esquecido de que o Vinicius não sabia que eu também era gay.

Deixei ele entrar. Estava todo sorridente e perfumado. Ele não era muito mais alto que eu. E só olhando, não dava pra imaginar que era mais velho também, embora fosse só um ano mais velho do que eu!

Vinicius: Você salvou minha tarde!

Lucas: Acha... Você que salvou a minha...

Ele riu e me acompanhou até meu quarto.

Vinicius: Acho que nunca vim na sua casa...

Lucas: acho que não mesmo.

Ele se sentou na cadeira do meu PC e eu sai dali por alguns minutos. Fui até o banheiro pra ajeitar o cabelo, voltei ao quarto e ele ainda estava sentado lá, parecia concentrado em algo. Tentei acompanhar seu olhar e ver pra onde ele estava olhando, mas parecia olhar para o chão.

Lucas: Você também tá com a cabeça em outro mundo hoje?

Vinicius: Hã?

Lucas: Minha mãe disse que hoje eu to com a cabeça em outro mundo... Você parece que também tá.

Vinicius: To pensando nos problemas...

Lucas: Tem que esquecer dos problemas essa tarde... Combinado?

Vinicius: Tudo bem. - ele disse com um sorriso que cobria o rosto todo.

Lucas: Tem alguma ideia já?

Saímos andando, me surpreendi como o Davi estava sempre pra rua. Passei em frente a casa dele e ele estava na calçada conversando com alguns garotos. Ficou olhando o Vinicius e eu, não fez uma cara muito boa quando nos viu juntos, mas eu ignorei, ainda assim cumprimentei normalmente.

Vinicius: E aquele seu amigo que se acidentou?

Lucas: O Bruno? Ainda não acordou do coma.

Vinicius: Ele vai ficar bom logo!

Lucas: Espero que sim.

Andamos um pouco, o Vinicius me levou pra um parque não muito longe, havia um lago no centro, uma trilha de caminhada ao redor do lado, para ciclistas e pessoas a pé. Era um lugar legal, mas eu ia muito pouco pra lá. Fazendo uma observação não muito oficial, já vi outro autor falando de um parque em suas histórias, e a descrição que ele dá se encaixa bem com esse parque da minha cidade. Sempre quis saber se o autor é da minha cidade. A história dele é legal, seria bom conversar um pouco com ele.

Na beira do lago dava pra ver a "mamãe pata" e seus patinhos, rs. Havia bastante gente caminhando, principalmente idosos e pessoas de meia-idade. Poucos andavam de bicicleta e haviam vários sentados no gramado, conversando!

Do outro lado do lago, havia um quiosque, não tinha aquilo da última vez que fui lá.

Lucas: O que é aquele quiosque?

Vinicius: Cachorro quente, água, refrigerante... um pouco mais para trás tem banheiros.

Lucas: Faz tempo que não venho aqui.

Vinicius: Imaginei.

Só me perguntei porque ele tinha me levado lá... Andamos um pouco e ele se sentou na sombra de uma árvore. Eu sentei ao seu lado.

Ele suspirou e eu olhei bem pra ele.

Vinicius: Eu vinha bastante aqui... Com meus avós.

Lucas: Por que não vem mais?

Vinicius: Porque minha vó morreu faz um tempo... E meu vô morreu logo depois dela. Depois que ela se foi, meu vô ficou muito triste, acho que ele perdeu a vontade de viver.

Parei pra refletir um pouco... O que aconteceria comigo se o Bruno morresse?

Lucas: Poxa, sinto muito.

Vinicius: Tudo bem... Me faz bem vir aqui. Me faz lembrar de pessoas que gostaram de mim um dia...

Fiquei em silêncio... Pensando no que ele disse e me perguntando se eu tinha entendido direito.

Lucas: O que quer dizer com isso?

Vinicius: Alguém já te olhou nos olhos e disse que você é uma decepção?

Lucas: Não...

Vinicius: Já se sentiu sozinho no mundo?

Pensei bem, eu estava me sentindo assim nos últimos dias.

Lucas: Isso já.

Vinicius: Alguém já te julgou com base em um estereótipo, e não com base no que você realmente é?

Comecei a entender onde ele queria chegar.

Lucas: Ainda não...

Vinicius: Ainda?

Lucas: É.

Ele me olhou bem.

Vinicius: Eu não tenho mais ninguém, Lucas...

Lucas: Como assim?

Vinicius: Eu saí de casa, meus pais me rejeitaram e o amor da minha vida foi a mesma pessoa que destruiu minha vida.

Aquilo me deixou atordoado! Eu sabia que ele estava com problemas, mas não imaginei que a situação fosse tão complicada assim!

Lucas: Mas... Como?

Ele riu, devo ter feito uma cara engraçada! E ainda não entendi como ele podia estar rindo com aquela situação.

Vinicius: Achei que os boatos já contavam a história toda.

Lucas: Não contam quase nada!

Vinicius: Entendi. - ele disse sério. - Eu confio em você... Então, vou te contar.

Lucas: Obrigado. - foi tudo o que consegui responder.

Vinicius: Você deve pelo menos desconfiar que eu sou gay...

Lucas: É, isso os boatos dizem... - falei, fazendo ele rir de novo.

Vinicius: Eu estava namorando um garoto havia alguns meses. Eu não quero identificá-lo, então vamos chamar ele de Fábio! - ele fez uma pausa, esperando que eu dissesse algo. Pensei em dizer que eu sabia quem era o garoto. Mas achei melhor não. - Eu conheci o Fábio e me apaixonei por ele em pouco tempo. Ou melhor, nos apaixonamos um pelo outro em pouco tempo. Começamos a namorar depois de algumas semanas. Tipo, ele simplesmente chegou pra mim e me pediu em namoro... Do nada! Eu aceitei, claro. - Ele fez outra pausa.

Lucas: Continue!

Vinicius: Bom, isso faz pouco tempo... No dia em que ele me pediu em namoro, e eu aceitei, ele me convidou pra ir na casa dele, e nós acabamos transando. - Nesse momento eu quis perguntar se o boato era verdadeiro quando dizia que o Vinicius era passivo. Mas ainda não interrompi. - Tipo, foi perfeito, ele era lindo, carinhoso, atencioso e educado. Era tudo o que eu queria. Até aí está tudo bem, certo?

Fiz que sim com a cabeça. E ele continuou.

Vinicius: Bom, depois de um tempo juntos, meus pais saíram pra jantar, era aniversário de casamento deles, e o Fábio ia dormir em casa naquela noite. Meus pais saíram por volta das oito da noite e praticamente deixaram claro que não voltariam antes da meia noite.

Lucas: E então?

Vinicius: Bom, eu não vou falar muito... Porque ele e eu fizemos uma grande bagunça naquela noite. Você não vai acreditar se eu der detalhes, e acho que não vai gostar também, então vão pular...

Lucas: Pode dar algum detalhe se quiser.

Vinicius: Bom... - ele deu uma risadinha - ... vamos dizer que nós jantamos, tomamos um banho juntos, e depois nos fechamos no meu quarto e não saímos mais. Entendeu?

Lucas: Sim, pode continuar.

Vinicius: Naquela noite ele filmou parte do que fizemos. Eu não queria, mas ele conseguiu me convencer.

Lucas: Filmou com o celular?

Vinicius: Sim.

Lucas: Hum. - e "torci a cara".

Vinicius: Pois é... No começo você deve ter pensado que seria aquele clássico de que os pais voltam mais cedo que o esperado e flagram o acontecimento.

Lucas: É, se bem que vídeo assim tá virando comum já...

Ele riu, e continuou.

Vinicius: Bom, no final da noite ele tinha vários vídeos que tinha feito em diferentes momentos. Mesmo eu não gostando da ideia, mas como eu disse, ele me convenceu... - e então ele fez uma pausa, mas não esperando que eu falasse algo, ele só estava pensativo. Suspirou e continuou - A noite passou, acordamos cedo e demos uma geral no quarto. Abrimos a janela e eu fui ao banheiro me lavar. Foi mais um dia perfeito na minha vida. O problema começou uns dois ou três dias depois.

Lucas: O que aconteceu?

Vinicius: O Fábio teve a cara de pau de mandar alguns vídeos nossos para alguém no WhatsApp... Até hoje não descobri pra quem ele mandou... E esse alguém começou a espalhar o vídeo. Bom, sabe como as coisas se espalham, né?

Lucas: É...

Vinicius: Não sei como você não viu algum desses vídeos...

Lucas: Não sou muito ativo no WhatsApp... Mas o que aconteceu depois?

Vinicius: Não sei quem foi o infeliz que mandou o vídeo pro meu pai.

Meu corpo se arrepiou... Eu meio que me imaginei no lugar do Vinicius.

Vinicius: Foi um inferno... Eu achei que minha mãe me defenderia... Mas ela foi tão cruel quanto ele. Me disseram coisas horríveis... Meu pai me xingou de todos os nomes que sabia.

A essa altura da história, ele já não sorria mais. Por um momento ele pensou, e começou repetir as palavras do pai: "a maior decepção da minha vida é você... Prefiro uma filha biscate do que um filho viado... Seu bosta". Ele disse bem mais coisas que isso, mas eu não me sinto bem escrevendo-as, e acho que você não vai se sentir diferente lendo-as.

Lucas: E então?

Vinicius: Ele ameaçou me bater... Mas eu reagi. Não ia me submeter àquilo. Não machuquei ele, só impedi que ele me batesse. Foi quando ele ficou mais nervoso ainda. Disse que ele era meu pai, e eu tinha que calar a boca e abaixar a cabeça na frente dele. Falei que não, falei ainda que meu pai estava morto pra mim... Falei que todos naquela casa estavam mortos pra mim.

Lucas: E sua mãe?

Vinicius: Não derramou nenhuma lágrima... Ela reforçava as palavras do meu pai. Dizendo que eu era uma vergonha pra eles...

Lucas: Nossa cara! Eu odeio isso!

Fechei os olhos com força, e senti a mão dele segurando a minha.

Vinicius: Calma.

Olhei pra ele e o vi sorrindo. Me senti um pouco mais calmo, e ele continuou a história.

Vinicius: Eu agradeço até hoje, alguém lá em cima me ama de verdade. Porque deu tudo certo, no final. Meu pai disse que as coisas iam ficar feias pra mim naquela casa. E então eu chutei o pau da barraca e gritei que eu não ia mais ficar lá. Perdi a cabeça e falei que odiava aquela casa. Foi quando ele parou, parece até que só então ele se deu conta da gravidade da situação. Ele me disse que eu podia ir então, mas que não era pra voltar, e era pra eu esquecer que eles existiam.

Ele fez mais uma pausa pra respirar.

Lucas: Poxa... Eu nunca ia imaginar que isso tudo estava acontecendo contigo. Só que, pra onde você foi e o que aconteceu com o Fábio?

Vinicius: Eu briguei com o Fábio e nós terminamos... Quando digo que alguém lá em cima me ama, me refiro a essa parte da história! Eu tinha um apartamento no meu nome. Não foi bem um presente... Mas meu pai passou no meu nome quando fiz 18. Ou seja, é propriedade minha.

Lucas: Entendo... Você foi morar lá?

Vinicius: Sim. Peguei a chave do apartamento no armário de casa, fiz as malas e fui embora na mesma hora. Eu sou bom em me virar sozinho. - ele riu.

Lucas: E como você se sustenta lá?

Vinicius: Bom... Eu sempre gostei de programação, computadores e essas coisas... Fiz uma cacetada de cursos... Fiz até curso técnico de programação junto ao ensino médio. E antes mesmo de sair de casa eu já fazia trabalhos Freelancers pra algumas empresas e lojas... Trabalho em casa, mas comecei a entregar currículos pra empresas de tecnologia da informação por aqui... Se alguma me chamar, maravilha!

Lucas: E dá pra se virar com esses trabalhos freelancer's?

Vinicius: Vai! Eu não vou ter a mordomia que tinha na casa dos meus pais... Mas aquilo me enchia o saco... Finalmente eu vou pagar minhas próprias contas e me virar sozinho na vida.

Algumas vezes eu me esquecia que os pais do Vinicius eram bons da grana. Mais até que os pais do Davi. Um apartamento não devia ser uma preocupação muito grande pra eles.

Lucas: Nossa cara! Não acredito!

Vinicius: É tão difícil assim de acreditar?

Lucas: Dói imaginar ouvir essas coisas de um pai e de uma mãe...

Vinicius: Dói muito mais do que você imagina... Eu passei aquela noite em claro no apartamento... Chorando o tempo todo... Arrependido de ter dito que odiava eles... Mas ainda assim com raiva dos dois. Foi logo no dia seguinte que eu me encontrei com o Fábio e nós acabamos terminando. Não sei se os pais dele ficaram sabendo de alguma coisa...

Lucas: Cara...

Meus olhos estavam cheios de lágrimas...

Vinicius: Não precisa chorar! Por favor, não chora.

Ele se ajoelhou, de frente pra mim e enxugou meus olhos.

Vinicius: Eu to bem... Pode ver? To feliz! Ileso!

Lucas: É a empatia, cara...

Vinicius: Calma, Lucas... Quer passear? Quer conhecer meu apartamento? Fica perto daqui.

Lucas: Tudo bem, vamos...

Ele se levantou e estendeu a mão pra mim, eu segurei e me levantei com a ajuda dele. Respirei fundo, olhei em volta de novo. Havia um grupinho de garotos na beira do lago, alguns olhavam fixamente pra nós. Talvez conhecessem o Vinicius, ou talvez estivessem tentando confirmar se nós dois éramos namorados. Enfim, ignorei eles, que acabaram não nos causando problemas.

Nós saímos do parque e andamos um pouco na direção da minha casa, mas viramos um pouco antes. Depois viramos de novo e eu não não sabia muito bem onde estávamos... Paramos de frente a um grande prédio. Um condomínio bem conhecido na região. Eu deveria ter suspeitado que era lá que ele estava morando...

Vinicius: Bom dia, Afonso! - ele disse quando chegou na portaria.

Afonso: Bom dia, Sr. Vinicius.

Achei engraçado ele chamar o Vinicius de senhor.

Vinicius: Afonso! Esse é o Lucas... Quando ele chegar, pode liberar pra subir, certo?

Afonso: Tudo bem, vou anotar aqui!

Vinicius: Ok...

E então o Afonso abriu o portão pra nós. E nós entramos.

Lucas: Pra que isso? - perguntei quando entramos no elevador.

Vinicius: Eu confio em você... Você é meu melhor amigo, Lucas!

Me assustei com aquilo...

Lucas: Obrigado, Vinicius!

Vinicius: Não, sou eu quem tem que agradecer! Você soube da verdade e ainda tá aqui. Não são muitos que agiriam como você agiu.

Lucas: Porque nem todos te entendem como eu entendo.

A porta do elevador abriu, e nós saímos. Era um dos últimos andares. Chegamos na porta do apartamento dele e entramos. Não era grande, como esperado de um apartamento. Havia uma sala, cozinha, um banheiro e dois quartos. Um dos quartos estava meio bagunçado. Tinha uma cama de solteiro com algumas pastas em cima, uma escrivaninha com um notebook, um roteador ao lado e uma impressora.

Vinicius: É aqui que eu trabalho...

Lucas: Trabalhar em casa deve ser bom.

Vinicius: É, tem suas vantagens... Algumas empresas fazem isso hoje em dia. Contratam o funcionário, mas ele trabalha em casa... Assim ele pode ter um rendimento melhor e dá menos gasto para a empresa, tipo comida, energia, água, papel higiênico. - eu ri quando ele disse esse último - Ele pode fazer entrega de projetos e reuniões pela internet. E a documentação pode enviar por e-mail, ou pode até fazer uma visitinha pra empresa pra algumas coisas.

Depois ele me mostrou o outro quarto. Acho que era nesse que ele dormia, porque a cama estava bagunçada, era uma cama de casal. Tinha uma cueca jogada no chão e uma camisa em cima da cama.

Vinicius: Eu comecei a dormir aqui porque tem noites que trabalho até tarde e fico com preguiça de tirar aquelas pastas de cima da cama do outro quarto.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

Lucas: Você tem muita sorte.

Vinicius: As pessoas dizem isso... Mas eu acho que a única coisa que tive sorte foi com esse apartamento, do contrário eu não teria pra onde ir. Provavelmente meu pai teria dito pra toda a família que não era pra me darem abrigo. O resto, meu curso e a chance de fazer esses trabalhos, eu consegui porque me esforcei.

Lucas: E ainda tem tempo pra malhar e manter a boa forma.

Ele ficou meio vermelho, e sorriu.

Lucas: Quem cozinha pra você?

Vinicius: Eu almoço num restaurante aqui perto... Mas a janta eu tento fazer sozinho... Tenho que aprender a cozinhar, porque fica mais caro eu comer fora do que cozinhar minha própria comida.

Lucas: Entendo...

Sentamos no sofá na sala, havia uma TV comum, e tinha uma porta de vidro, que saía pra uma pequena sacada e tinha vista pra cidade toda. O Vinicius abriu a porta e nós saímos na sacada, aquele vento frio bateu no meu rosto. Mas ainda assim fiquei ali, admirei a vista e por um momento senti inveja do Vinicius. Não foi uma inveja ruim, foi uma coisa boa, quase como uma admiração, apesar de ter passado tudo o que passou com os pais, e que ele ainda tinha muita coisa pra superar, eu quis estar no lugar dele.

Lucas: Você recebe visitas aqui?

Vinicius: Você é o primeiro. - ele riu. Não imaginei que ele entenderia o tipo de visitas a que eu me referi! Mas então ficou sério. - Não quero namorar qualquer um, quero ter certeza de que vai ser um bom namorado. Acima de tudo, responsável!

Lucas: Você tá certo.

Vinicius: Você é bem compreensível. Né?

Nesse momento, tudo o que eu pensava era: "Conto pra ele, ou não?".

Lucas: É... eu acho que sim.

O Vinicius entrou de novo e se sentou no sofá.

Vinicius: Obrigado, Lucas... Obrigado por tornar meu dia melhor!

Lucas: Sou eu quem tem que agradecer... Me promete uma coisa?

Vinicius: O que?

Lucas: Quando quiser conversar ou passear com alguém, não vai pensar duas vezes antes de me ligar?

Ele sorriu.

Vinicius: Eu prometo.

Comentários

Há 3 comentários.

Por Victor *) em 2014-03-03 13:12:07
Ta ótimo *-*, tadinho do Vini ;/
Por jv em 2014-03-03 01:04:21
Own ;)
Por _hunter em 2014-03-02 23:39:14
:)