Mais que uma lembrança [parte 24]
Parte da série Mais que uma lembrança
Bom, pessoal, essa semana eu fugi da rotina e postei um capítulo na terça feira, se não me engano! Então, se você ainda não leu aquele capítulo, sugiro que volte e leia antes de ler esse! Bom, vamos lá!
Acordei por volta das nove da manhã no dia seguinte. Senti que estava deitado em cima do meu celular, e meu fone de ouvido estava enrolado no meu pescoço. Sentei na cama rindo, tentei mexer no meu celular mas ele estava desligado. Eu não me lembrava de ter pausado a música antes de dormir no dia anterior... Provavelmente ele tinha tocado até zerar a bateria.
Levantei, peguei meu carregador na gaveta e pus pra carregar... Vesti uma roupa, já que eu tinha dormido de cueca fui ao banheiro e logo depois voltei ao meu quarto e liguei meu celular... Esperei um pouco e recebi uma mensagem dizendo que um número tinha tentado me ligar... Mas só reconheci o número porque era o número do telefone fixo da casa do Bruno. Me xinguei um pouco e depois saí do quarto.
Fui até a cozinha e sentei na mesa pra tomar café.
Jaqueline: Bom dia, filho. - ela veio lá de fora.
Lucas: Bom dia, mãe.
Ela se sentou de frente pra mim. Achei estranho ela fazer aquilo.
Lucas: Acoteceu aluguma coisa né?
Ela fez que sim com a cabeça.
Jaqueline: Você percebe as coisas bem rápido...
Lucas: É sobre o Bruno?
Jaqueline: Sim filho... É!
Lucas: Então fala!
Ela estava séria. Por um momento achei que eu estava prestes a ouvir a pior notícia da minha vida.
Jaqueline: A Elisa me ligou hoje de manhã... Ela tentou falar com você ontem de noite e hoje cedo, mas não conseguiu... Então ela ligou pra me avisar. - nesse momento ela deu um sorrisinho, eu não sei dizer que que senti, foi tudo tão rápido - O Bruno saiu do coma ontem de noite. A Elisa disse que ele ainda não estava 100% no momento que ela teve de sair, mas ele está bem.
Eu comecei a rir, por instinto, por felicidade! Meus olhos começaram a lacrimejar, mas eu os enxuguei antes que minha mãe percebesse.
Lucas: Quando eu posso ver ele?
Jaqueline: A Elisa não disse, mas acho que pra você ainda vale o horário de visitas.
Lucas: Não tem problema.
E não tinha mesmo... Claro que eu estava ancioso pra ver o Bruno, mas só de saber que ele estava bem, eu já me sentia bem, e podia esperar um pouco pra vê-lo.
Jaqueline: A Elisa estava tão feliz... Eu teria te acordado, mas ela não deixou.
Lucas: Que hora ela ligou?
Jaqueline: Devia ser mais ou menos oito horas.
Não falei mais nada, minha mãe se levantou e voltou a fazer o que estava fazendo. Que eu não tinha ideia do que era. Fiquei ali imaginando tanta coisa. Me lembrando de tudo o que eu tinha planejado pra depois que ele acordasse, e morrendo de vontade de dar um beijo nele. Por um momento eu esqueci de tudo, menos do Bruno.
Fiquei a manhã inteira procurandoa algo pra fazer... Eu estava meio impaciente. Depois do almoço o Davi me mandou uma mensagem.
Davi: boa tarde... dormiu bem?
Lucas: sim, e você?
Davi: muito bem... Sonhou com aquele sunday?
Lucas: Não não... kkk
Davi: Obrigado por ontem... Foi muito bom passar um tempo com você...
Lucas: igualmente =)
Mas ele não disse mais nada... Achei que ele já sabia que o Bruno tinha acordado, e estava querendo ver se eu sabia ou não... Mas pareceu que a intenção era só me fazer lembrar dele e da noite anterior!
Me sentei na cama e pensei no Vinicius... Como será que ele estava? Encarei meu celular... E pensei que talvez fosse melhor tentar falar com ele. Sei que seria melhor ter ligado, mas já era vício falar por sms.
Lucas: Vini, tudo bem?
Levou um tempo pra eu receber uma resposta.
Vinicius: tudo.. e com você?
Lucas: bem também...
Vinicius: Que bom...
Mas ele não tentou estender a conversa, e eu achei melhor não forçar. Depois me dei conta de que o Gustavo tinha me visto com o Davi na noite anterior, lá o shopping! Mas talvez fosse melhor não mandar mensagem pra ele. Conhecendo o Gustavo, eu imaginava o que ele ia dizer. Provavelmente ele diria que eu precisava decidir se queria ficar com o Davi ou não, antes de ficar reclamando do Davi pra ele... Por isso não mandei nenhuma mensagem ao Gustavo... Achei melhor esperar.
Liguei meu computador, eu não tinha costume de ficar muito tempo na internet, mas aquele dia eu fiquei mais de metade da tarde. Entrei no facebook e olhei as fotos do Bruno mais uma vez. Fiquei olhando as coisas que ele compartilhava e postava. Algumas eram engraçadas, outras eram sátiras ou críticas à "sociedade". Nada radical, e todas tinham sentido e eu concordava. Fui olhando aquelas coisas, rindo, pensando, sentindo ciúmes a cada garoto desconhecido que tinha comentado alguma coisa, e de cada garota também, por que não?
Não lembro o que fiz depois disso... Mas sei que desliguei o computador pra lá das cinco da tarde.
Desci até a sala e minha mãe disse: Lucas, eu vou te levar ao hospital depois... Quero ver o Bruno também.
Lucas: Tá bom...
Fui até a cozinha e comi alguma coisa. Depois não aguentei a ansiedade e fui tomar um banho e depois ja me vesti para ir ao hospital. Minha mãe não tomou banho porque já tinha tomado. No inverno ela sempre toma banho cedo pra evitar o fazer quando o tempo esfriar muito.
A Elisa ligou logo, pergunando se eu queria que ela fosse me buscar, mas eu disse que minha mãe me levaria.
Elisa: Tudo bem então!
Lucas: Tá tudo em ordem, né?
Elisa: Lucas, a gente conversa pessoalmente.
Achei aquela atitude dela muito estranha. Era só responder "sim" ou "não", podia perfeitamente ser por telefone! Mais alguns minutos, e FINALMENTE minha mãe disse: "Vamos?". Fiz que sim com a cabeça, tranquei a porta depois que ela saiu e montei no carro. Não conversamos muito no caminho. Desci do carro primeiro que minha mãe quando ela estacionou, mas fiz uma forcinha e esperei ela pra entrar.
No começo eu achei que a Elisa nos esperaria lá embaixo... Mas nem sinal dela, talvez tenha se esquecido! Passamos pela portaria, pegamos o crachá de visitantes e entramos. Eu fui na frente, já que minha mãe nunca tinha ido. Quando saímos do elevador, eu meu coração acelerou. Achei que ia ter um ataque cardíaco. Comecei a andar até o quarto, que me pareceu ter ficado mais longe de repente. Coloquei a mão na fechadura e entrei.
A primeira pessoa que vi foi a Elisa, que estava perto da porta, depois dela estava o Tiago, e depois uma moça que eu ainda não conhecia. Mas mais ao fundo, deitado na maca, estava o Bruno, sorri quando vi seus olhos abertos, me encarando. Cumprimentei todos rapidamente e me aproximei da cama, a Elisa por algum motivo se apressou e ficou ao meu lado.
Lucas: Oi Bruno...
Bruno: Oi.
Mas foi aí que eu fiquei confuso. No começo ele parecia bem, mas de repente ele disse com voz trêmula, quase chorando: "me desculpa".
O Tiago se aproximou e a Elisa colocou a mão no meu ombro e me afastou dizendo: eu vou falar com ele...
E me tirou do quarto. Paramos No corredor...
Lucas: Mas o que foi isso?
Elisa: Era pra eu ter esperado vocês lá embaixo, mas me distraí e quando vi... Vocês já estavam no quarto!
Lucas: O que aconteceu??? - insisti.
Elisa: O Bruno teve uma lesão cerebral... Ele não lembra do acidente, nem da viagem, nem da escola dessa cidade...
Ela parou por uns instantes.
Elisa: E eu acabei de confirmar que não lembra de você também.
Minha mente viajou, eu fiquei tão nervoso.
Lucas: Como assim?
Elisa: O médico atestou que ele não se lembra dos últimos anos da vida dele. O que sabemos é impreciso, mas ele se lembra mais ou menos até o começo da adolescência, ao que parece.
Eu não chorei, primeiro tive vontade de quebrar alguma coisa! Só depois meus olhos encheram de lágrimas.
Lucas: O que você disse pra ele?
Elisa: Quase nada... Tivemos que contar do acidente... E acabamos falando do pai dele também.
Lucas: Ele tá ciente da perda de memória?
Elisa: Sim... Ele tá bastante abalado!
Lucas: Eu imagino... Vocês contaram mais alguma coisa?
Elisa: Não... achamos melhor dar um tempo pra ele!
Lucas: É o melhor...
Elisa: Você quer que eu fale sobre vocês dois?
Lucas: Não... Eu falo com ele quando eu achar que está na hora.
Elisa: Tudo bem... Mas tomar cuidado...
Lucas: Já prometi cuidar bem do seu filho, lembra?
Ela sorriu.
Elisa: Obrigado.
Lucas: Eu posso ir lá falar com ele?
Elisa: Claro...
Entramos no quarto de novo, minha mãe estava conversando com a mulher do Tiago em um canto. A moça estava contando pra minha mãe o que a Elisa tinha acabado de me contar! Tentei me controlar e me aproximei da cama. A Elisa veio junto, mas não foi pra me vigiar, e sim pra fazer o Tiago sair de perto.
Bruno: Eu não consigo me lembrar de você... - ele disse nervoso.
Lucas: Ei, se acalma... - falei tocando o braço dele.
Bruno: Como vou me acalmar? Nem do seu rosto eu consigo lembrar.
Lucas: Então vamos fingir que a gente não se conhece, que tal?
Ele me olhou como se eu fosse um retardado. Mas eu estiquei a mão, e quando ele a apertou eu disse: Meu nome é Lucas.
Bruno: O meu é Bruno.
Lucas: Prazer em te conhecer Bruno. Você vem sempre aqui?
Foi o primeiro sorriso que eu arranquei dele.
Bruno: Me disseram que passei muito tempo aqui na última semana...
Lucas: Ah é? Deve ser legal então...
Bruno: Eu não me lembro porque só acordei ontem...
Lucas: Então deve ser bem entediante pra ter dormido todo esse tempo...
Eu sabia que estava sendo idiota. Mas eu estava conseguindo fazer ele rir, então não me importei com mais nada.
Bruno: Somos amigos há muito tempo?
Lucas: Alguns minutos...
Bruno: Falando sério agora...
Lucas: Uns seis meses.
Bruno: Pouco tempo...
É, se ele soubesse tudo o que aconteceu nesse pouco tempo, não teria menosprezado.
Lucas: Éramos melhores amigos. Estudavamos na mesma sala, você sentava na carteira da frente.
Bruno: Eu devo ser o pior da sala né?
Lucas: Não, senhor... É um dos mais esforçados e inteligentes...
Bruno: E você?
Lucas: Bom... Eu tenho fama de nerd...
Bruno: Já entendi tudo...
Eu dei risada.
Bruno: Eles me disseram que meu pai morreu... - ele disse já sem sorrir.
Lucas: Sim.
Bruno: Você conheceu ele?
Aí ele me pegou, eu não sabia se a Elisa tinha dito sobre o divórcio. Então tentei improvisar sem mentir.
Lucas: Não muito...
Bruno: Moramos perto?
Lucas: Até que sim...
Bruno: Como nos conhecemos?
Pensei bem antes de responder... Eu devia contar a história exatamente como aconteceu, ou ocultar detalhes como a parte em que eu corri atrás dele?
Lucas: Bom, foi no primeiro dia de aula desse ano. Eu entrei na sala e me sentei atrás de você... Aí começamos a conversar e viramos amigos.
Bruno: Legal...
Lucas: Viramos bons amigos... Porque naquele dia eu corri atrás de você na hora do almoço.
Bruno: Pra que? - ele perguntou assustado.
Lucas: Pra ir embora com você... Nós vamos pra casa pelo mesmo caminho... Só que sua casa é um pouquinho mais longe.
Bruno: Entendi. Eu não fui um mala, afinal.
Lucas: Claro que não.
Bruno: Você veio me visitar esses dias?
Lucas: Sim, várias vezes.
Bruno: E como eu estava?
Lucas: Dormindo...
Ele deu um sorriso.
Bruno: Formulei mal a pergunta... Deixa pra lá...
Olhei pra trás e a Elisa estava sorrindo. A esposa do Tiago estava com cara de "não acredito".
Bruno: Eu queria lembrar de você... Acho que me diverti bastante contigo.
Lucas: Não se preocupe com o que você esqueceu... O importante é que você ainda tá aqui... Vai poder conhecer os amigos de novo, sua casa... E olha um ponto positivo, você odiava ver filme repetido... Agora tem um monte de filme pra ver de novo...
Ele riu de novo. Nem eu estava achando engraçado, mas ele parecia achar, por isso eu fazia uma piadinha hora ou outra.
Bruno: Aquela é sua mãe?
Lucas: Sim. Ela se chama Jaqueline.
Bruno: E seu pai?
Lucas: Bom... Meus pais de divorciaram faz um tempo. Eu moro com minha mãe.
Bruno: Eu não sabia, desculpa.
Lucas: Não tem problema. Eu não me importo.
Bruno: Quantos anos você tem?
Lucas: Dezesseis. Vou fazer dezessete dia 20 de julho.
Bruno: Eu faço dia primeiro dia agosto.
Lucas: Eu sei... Vai ter festa?
Bruno: Depende dela ali... - ele disse apontando pra Elisa. Que sorriu e fez que sim com a cabeça.
Elisa: Se ele quiser...
Bruno: Não sei ainda... Se eu estiver melhor!
Lucas: Vai estar... Você vai ver.
Bruno: Será que eu posso recuperar essa memória?
Lucas: Não sei dizer...
Bruno: Eu me sinto meio perdido.
Lucas: É normal. Sua memória apagou muitos anos.
Bruno: É...
Ficamos em silêncio, eu estava ficando sem o que falar.
Bruno: Até que hora vocês podem ficar aqui?
Elisa: Eles podem ficar até sete e meia, filho. Eu posso ficar um pouco mais.
Bruno: Mãe é mãe... - ele disse com uma risadinha. Aquela enfermeira é meio doida.
Lucas: Por que?
Bruno: Parece que ela tá dando em cima de mim...
Lucas: Qual enfermeira?
Bruno: A Josiane.
Lucas: De você também? Ela não perde um hein...
Bruno: Como assim?
Lucas: Teve um dia que eu vim te visitar e ela ficou de conversinha comigo também...
Ele deu risada.
Bruno: Mas você ainda é bonitão, faz academia... E eu?
Lucas: Como você sabe que faço academia?
Bruno: É meio óbvio né? Um braço desse só com academia.
Fiquei meio constrangido. Ouvi alguém dando risada lá no fundo. Olhei meu braço e falei: Nem sou tão malhado assim, vai...
Bruno: Mas dá pra perceber...
Lucas: Então tá...
Bruno: Eu fazia academia também?
Lucas: Não...
Bruno: Eu fazia algo interessante?
Se nós estivéssemos sozinhos, e ele se lembrasse da nossa relação, eu teria brincado e respondido: "entre quatro paredes faz umas coisas legais". Mas aquele tipo de brincadeira teria que esperar um bom tempo ainda.
Lucas: Depende do que você quer dizer com interessante...
Bruno: Eu praticava algum esporte? Fazia aula de algum estilo de luta? Tocava algum instrumento?
Lucas: Não...
Bruno: Hum...
Lucas: Você tinha o costume de escrever...
Bruno: Escrever o que?
Lucas: O que estava pensando... Você escrevia tudo... Acabava jogando fora depois, mas ainda assim escrevia.
Bruno: Entendi. Você faz alguma coisa diferente?
Lucas: Toco violão... Só...
Bruno: É mais do que eu...
Lucas: Não são essas coisas que importam.
Bruno: Eu sei... Mas é legal. Vou entrar na academia quando sair daqui.
Lucas: Vai ficar bonitão pra enfermeira.
Bruno: Deixa pra lá... Essa aí não me convenceu.
Todos riram, menos eu, porque fiquei me mordendo de ciúmes. O resto do tempo o Bruno conversou mais com os outros. Até com minha mãe. Conversou comigo também, mas eu fiquei mais observando-o. Ele não ria com os outros, só fazia perguntas e ouvia histórias. Ninguém contou nada que pudesse deixa-lo nervoso. Então tudo ficou bem.
Quando deu a hora de irmos embora. E eu me levantei. Ele disse: mas vocês precisam ir mesmo?
Lucas: Sim. Voltamos amanhã.
Bruno: Promete?
Lucas: Prometo.
Bruno: Então tá.
E então eu fui me afastando. E quando cheguei na porta, me virei, nós nos entreolhamos, e falei: "Boa noite, Bruno... Até amanhã".
Bruno: Boa noite! Até amanhã...
E fui embora.
Bom, talvez fique difícil de acreditar nas coisas que vou contar daqui pra frente. Mas não tenho como provar pra todos vocês, então, paciência...
Até o próximo capítulo!