Mais que uma lembrança [parte 26]
Parte da série Mais que uma lembrança
Bom, pessoal... Aqui vai o capítulo 26 escrito pelo celular e publicado algumas horas depois do prometido. :P
No dia seguinte eu acordei com meu celular vibrando. Era uma mensagem do Davi! Não dizia nada demais, só me desejava um bom dia. Fiquei chateado, talvez eu tivesse dado esperança pro Davi, assim como dei esperança ao Vinicius. Eu estava meio instável, e naquele momento senti um pouco de culpa.
Não respondi a mensagem do Davi, deixei o celular de lado, virei e voltei a dormir. Acordei mais tarde, com a campainha tocando. Levantei reclamando, eu sabia que era o Davi e isso me deixou ainda mais nervoso.
Mas quando abri o portão, eu parei de reclamar, tinha me esquecido que o Gustavo e eu combinamos que ele iria em casa porque precisava falar comigo.
Lucas: Bom dia.
Gustavo: Bom mesmo. - ele disse me olhando da cabeça aos pés sem disfarçar.
Lucas: Nem vem...
Gustavo: Você vem abrir o portão de calça e sem camisa e não quer que eu olhe?
Fiquei em silêncio, dei espaço pra ele, que entrou dizendo: Só to brincando, Lucas...
Lucas: Acabei de acordar...
Gustavo: Hum, por isso o mau humor?
Lucas: Acho que sim...
Fechei o portão. E ele me acompanhou até meu quarto, onde eu vesti uma camisa e um tênis. E depois descemos até a cozinha, eu não estava com fome então só fiz um copo de leite quente, o tempo tinha esfriado de novo! Ofereci ao Gustavo, mas ele recusou...
Nos sentamos na mesa, eu envolvi meu copo com as duas mãos e comecei a falar.
Lucas: Sobre o que você precisa falar comigo?
Gustavo: Como o Bruno está?
Lucas: Já sabe que ele acordou, né?
Gustavo: To sabendo...
Lucas: Ele teve uma lesão cerebral e perdeu a memória... Ele só se lembra do que aconteceu até o começo da adolescência, segundo a Elisa.
O Gustavo ficou alguns segundos em silêncio, quase imóvel.
Gustavo: Isso é sério?
Fiz que sim com a cabeça e tomei um gole de leite.
Gustavo: Você visitou ele depois que ele acordou?
Lucas: Sim...
Gustavo: E então?
Lucas: Ele está bem, não teve nenhuma sequela, só perdeu a memória. Ele ficou nervoso quando entrei no quarto pela primeira vez. Começou a chorar, pedindo desculpas. Mas depois ele se acalmou e eu consegui conversar bastante com ele.
Gustavo: Desculpas pelo o que?
Lucas: Por não se lembrar de mim...
Gustavo: Nossa...
Lucas: Ele era meu namorado... - revelei.
Mais uma vez deixei o Gustavo sem saber o que falar. Ele me encarou enquanto tomei mais um pouco de leite.
Lucas: É tão difícil assim de acreditar?
Gustavo: Não... Eu só não esperava que fosse ele... E agora, com essa situação... Ele nem se lembra de você. Deve estar sendo difícil...
Fiz que sim com a cabeça, sem sorrir. Ele torceu os lábios e olhou pra mesa.
Gustavo: E o que você vai fazer? Contar pra ele?
Lucas: O Bruno tá muito sensível... Mesmo a Elisa tá contando as coisas aos poucos. Eu não posso contar uma coisa dessas pra ele agora. Pode piorar as coisas...
Gustavo: Mas e futuramente? Você pretende contar?
Lucas: Não sei... Depende de como as coisas se desenrolarem.
Gustavo: Mas e se ele se envolver com outra pessoa?
Lucas: Foi sobre isso mesmo que eu quis dizer...
Gustavo: Vai desistir dele assim?
Lucas: Quero que ele seja feliz... Se ele escolher outra pessoa e estiver feliz com isso, não vou interferir.
Gustavo: Eu já teria contado pra ele.
Lucas: Era sobre isso que você queria conversar?
Gustavo: Não... É sobre o primo do Igor... Eu não precisava falar com você... Só queria conversar um pouco.
Lucas: O que tem ele?
Gustavo: Você soube do vídeo do Vinicius que bombou no WhatsApp né?
Lucas: Sim...
Gustavo: O outro garoto era o primo do Igor mesmo. Parece que vários vídeos diferentes saíram do controle... - ele riu.
Lucas: Só dois deles, então. No que eu vi não dava pra ver o rosto do primo do Igor.
Gustavo: Parece que tem um dos vídeos que o rosto dele aparece...
Lucas: Vai me dizer que mandaram pro pai do cara também?
Ele fez que sim com a cabeça.
Lucas: Alguém fez isso só por maldade, mew... Por que mandariam pros pais dos dois?
Gustavo: Certeza que foi por maldade. Mas o garoto se deu mal.
Lucas: Por que?
Gustavo: Bom, vamos dizer que ele não tinha pra onde fugir.
Lucas: Apanhou do pai?
Mais uma vez ele fez que sim com a cabeça. E completou dizendo: "e bastante".
Eu me levantei de uma vez, a cadeira quase caiu. Fui até o microondas e esquentei meu leite que já tinha esfriado.
Lucas: Eu não me conformo com essas coisas...
Gustavo: Infelizmente é o mundo em que vivemos...
Lucas: São pai e filho! Porra! - soltei - O que esses pais tem na cabeça? O filho já era gay antes que eles soubessem! Porque mudaria algo agora que sabem?
Ele ficou quieto. Eu acho que fiquei nervoso demais. Peguei meu copo de leite e me sentei de novo.
Gustavo: Eu me sinto do mesmo jeito. Só que não dá pra mudar isso num passe de mágica. Nem tudo é como a gente quer...
Fiquei em silêncio.
Gustavo: Vi você com o Davi no shopping.
Lucas: Não aconteceu nada...
Gustavo: Será?
Lucas: Só assistimos ao filme, comemos e fomos embora.
Gustavo: Hum...
Lucas: E quem eram aqueles com você?
Gustavo: Alguns amigos.
Lucas: Só amigos?
Gustavo: Só...
Ficamos em silêncio.
Gustavo: Fiquei com dois garotos esses dias...
Lucas: Hum...
Gustavo: Ao mesmo tempo.
Lucas: Sem vergonha...
Ele riu.
Gustavo: Foi bom. Eu fiquei no meio, sabe?
Lucas: Por que tá me contando isso?
Gustavo: Sei lá... Você é aquele tipo de amigo que eu tenho vontade de contar tudo... Desculpa se to forçando as coisas.
Lucas: Não... Só não precisa me contar como vocês transaram...
Achei que ele ia ficar chateado, mas ele riu.
Gustavo: Tudo bem, desculpa.
Lucas: Não vai querer mais o Davi?
Gustavo: Ele não me quer... Ele só quer você...
Lucas: Eu só quero ele como amigo.
Gustavo: Você é certinho demais...
Lucas: O que quer dizer com isso?
Gustavo: Vai curtir um pouco... O Bruno não lembra de você... Não vale a pena ficar esperando ele lembrar. - fiquei irritado com aquele brilhante conselho dele.
Lucas: Tá tentando me dizer pra ficar com o Davi e depois, se der certo com o Bruno, descartar ele como se fosse nada?
Gustavo: Não... To querendo dizer pra ficar sem compromisso...
Lucas: Dá quase no mesmo... O cara me ama, como eu vou ficar com ele e depois largar assim, sem mais nem menos? E não só por isso, Gustavo!
Gustavo: Pelo que, então?
Lucas: Você não entenderia se eu dissesse...
Gustavo: Tente...
Lucas: Vou esperar o Bruno até o último segundo possível... Até ter certeza que eu não tenho mais chance com ele.
Gustavo: Então tá... Você que sabe...
Ficamos em silêncio... O clima pesou um pouco.
Gustavo: Bom, deu minha hora, vou nessa...
Normalmente eu teria insistido pra ele ficar um pouco mais... Mas eu perdi a vontade de conversar com ele. Então me despedi, acompanhei o Gustavo até o portão, e depois voltei pra sala. Fiquei assistindo tv até minha mãe chegar pro almoço. Então desliguei a TV e fui até a cozinha com ela.
Jaqueline: Veio alguém aqui?
Lucas: O Gustavo... Como você sempre sabe?
Jaqueline: Duas cadeiras estão afastadas da mesa...
Lucas: Caramba...
Ela deu uma risadinha.
Jaqueline: Filho, acho que não vamos poder ir ao hospital hoje...
Lucas: Por que? - respondi triste.
Jaqueline: A Elisa me ligou, disse que o Bruno vai ter que fazer uma série de exames, e vai ser mais ou menos no horário de visitas.
Lucas: Hum...
Achei estranho aquilo. Mas não falei nada... Só concordei, disse que não tinha problema, nós almoçamos, ela falou sobre o trabalho e várias outras coisas, mas não falou de novo sobre o Bruno.
Durante a tarde eu lavei a louça e organizei meu quarto. Peguei algumas roupas que estavam sujas e pus pra lavar. Depois fiquei na internet até dar a hora de me arrumar e ir à academia. Não encontrei ninguém conhecido lá.
Voltei pra casa e minha mãe estava recolhendo a roupa atrás da casa. Fui até lá só pra dar um oi e dizer "cheguei". Logo em seguida entrei e fui até meu quarto. Minha mãe veio atrás.
Jaqueline: Vai tomar banho?
Lucas: Vou... Por que?
Jaqueline: Não vamos poder ir ao hospital mesmo...
Lucas: Tudo bem... - falei, mesmo que nem tudo estivesse bem. Eu queria ver o Bruno!
Peguei uma cueca na gaveta, a calça que eu costumava usar pra dormir em dias de muito frio, e uma camisa branca de algodão que eu usava pra dormir também. Por último peguei minha toalha e fui tomar banho.
Enrolei um pouco no banho, a água entava quente, numa temperatura boa! Bom, como posso dizer... Eu tive uma ereção durante o banho. Pra ser sincero, eu não me masturbava desde que comecei a namorar o Bruno, e já havia um tempo desde que transamos pela última vez. A tentação foi forte, mas eu não me masturbei porque já estava no banho há mais tempo que o normal.
Fechei o chuveiro, peguei a toalha e me enchuguei sem pressa alguma. Depois coloquei a cueca e a calça, saí pelo corredor com a camisa na mão, ajeitando ela pra vestir. Entrei no meu quarto e tomei um susto com o que vi. Simplesmente era o Bruno, sentado na minha cama! Com uma calça moletom preta e camisa cinza, sua pele mais clara do que nunca e seu cabelo bagunçado, a barba malfeita e os ematomas ainda bem visíveis, mas ainda assim, muito lindo.
Lucas: Mew, que isso?
Bruno: Surpresa! - ele disse baixinho.
Acho que extrapolei, me aproximei e dei um abraço, mas me afastei quando senti suas mãos frias nas minhas costas. Fiquei arrepiado, não pelas mãos geladas, mas pelo abraço. Ele tinha retribuido!
Lucas: Tudo bem? - perguntei enquanto vestia a camisa.
Bruno: Tudo... E você?
Lucas: Bem também! Já teve alta?
Bruno: É... O médico disse que to bem pra ficar em casa já... Só me passou alguns cuidados que preciso tomar e algumas coisas que tenho que observar... Além disso ele quer me ver de novo daqui alguns dias. Mas acho que ele queria mesmo era liberar o quarto... A Josi disse que estão mantendo internados só os casos que precisam muito estar lá.
Lucas: Eita... País saudável esse...
Bruno: Pois é...
Lucas: Mas você não ia fazer exames agora? Porque tá aqui?
Bruno: Foi invenção da minha mãe... Ela disse que queria fazer uma surpresa pra você...
Lucas: Hum, entendi...
Bruno: Eu já estive aqui antes?
Lucas: Muitas vezes. - deixei escapar.
Bruno: É estranho eu não me lembrar...
Lucas: Eu imagino...
Bruno: se eu pudesse pegar tudo o que você lembra e copiar pra mim, seria tão bom...
Talvez não fosse, pensei.
Lucas: Faz tempo que você chegou? Cade sua mãe?
Bruno: Lá na sala com a sua mãe... Cheguei faz uns dez minutos...
Lucas: Entendi... Você já foi pra sua casa?
Bruno: Não... Viemos direto pra cá...
Lucas: Nossa, me sinto honrado.
Ele deu uma risadinha. Eu abri a porta do guarda roupa pra passar desodorante e me deparei com a corrente lá dentro, ultimamente eu estava tirando ela pra tomar banho. Fechei a porta do guarda roupa e me voltei para o Bruno. Ele não parava de olhar em volta, como se esperasse se lembrar de algo que fosse encontrar ali, pude ver que ele não estava usando a corrente dele, talvez a Elisa ainda nem tivesse entregue.
Quando ele fixou o olhar em mim, esticou o braço e passou os dedos na minha bochecha dizendo: "Precisa se barbear".
Eu gelei por um momento, eu tinha feito a mesma coisa com ele quando ele estava em coma. Pode não significar muita coisa, mas ainda assim eu me senti estranho.
Lucas: Eu ando meio relaxado...
Bruno: Se cuida... Vamos lá com elas?
Lucas: Vamos lá...