Mais que uma lembrança [parte 2]
Parte da série Mais que uma lembrança
Olá, pessoal. Espero que tenham gostado do primeiro capítulo. Ou melhor, espero que, pelo menos, não tenham odiado. =)
No capítulo anterior, eu fiz uma "pequena" introdução falando sobre a segunda feira, dia 4 de fevereiro, meu primeiro dia de aula no terceiro colegial e dia em que eu conheci o Bruno!
Na terça feira, eu já não acordei tão sonolento quanto tinha acordado na segunda. Mas ainda enrolei um pouco pra sair da cama. Eu tinha sonhado com o Vinicius naquela noite. No sonho, ele estava me contando sobre quando pegaram ele com outro garoto. Talvez eu tenha sonhado isso por ter ficado reparando demais nele no dia anterior.
Quando levantei, quase sai do quarto sem vestir uma bermuda. Mas não faria diferença, pois eu ia simplesmente sair do meu quarto e entrar no banheiro pra tomar banho... Então só peguei uma roupa e sai do quarto. Como esperado, nem sinal da minha mãe! Provavelmente ela estava lá embaixo, na cozinha, preparando o café!
Eu estava suado, mesmo tendo dormido quase pelado! O calor estava de matar naquele dia, pensei bem e mudei a regulagem do chuveiro para "Desligado" antes de tomar banho.
Como sempre, eu tive que tomar banho apressado porque enrolei demais na cama. Quando sai, fui ao meu quarto, calcei o tênis, peguei minha mochila e desci até a cozinha. Comi metade de um pão com manteiga e tomei um copo de leite com nescau (apesar de gostar de leite com café, de vez em quando eu variava =P). Não tive nem tempo de voltar ao meu quarto, ou voltar ao banheiro dar uma conferida no visual. Só no caminho pra escola que eu dei uma ajeitada no cabelo no espelho do carro e amarrar o tênis bem a tempo da minha mãe parar o carro na esquina da escola. Me despedi e desci a tempo de ver o Bruno entrando pela portaria da escola!
Quando entrei na sala, ele estava sentado lá, na dele. Só o Gustavo tinha chego entre meus amigos. Cumprimentei os dois e, depois que me sentei, o Bruno se virou pra conversar.
Bruno: E aí, muito tédio ontem de tarde?
Lucas: Um pouco.
Bruno: Hehe... Eu não sabia o que fazer.
Lucas: Eu fiquei tocando violão.
Bruno: Legal, você toca violão?
O Gustavo interrompeu: "É, já pedi pra ele tocar uma pra mim. Mas to esperando até hoje". Aquela era uma piadinha que eu ouvia com frequência! O Bruno pareceu ficar sem graça com a brincadeira.
Bem nessa hora, o Igor entrou na sala. Nos entreolhamos e ele sorriu. Quando olhei de volta pro Bruno, ele estava olhando fixamente pro Igor. Levou alguns segundos pra ele cair na real e voltar a me olhar.
Antes que eu falasse qualquer outra coisa, o professor entrou na sala. Tentei continuar a conversa com o Bruno, mas ele se virou pra frente.
Mais tarde, na penúltima aula, a professora passou atividades em dupla, o Igor se juntou ao Gustavo, então toquei no ombro do Bruno e falei: "Faz comigo?".
Bruno: Claro!
Bom, o que posso dizer a respeito? O Bruno parecia não saber muito. Cada vez eu me convencia mais de que ele não se dedicava muito na escola. Enfim, a aula acabou, na última aula não tivemos trabalho em dupla, mas quando a última aula chegou ao fim, o Bruno ficou me esperando pra ir embora! Me despedi dos meus amigos e fui com ele!
Quando saímos da escola, ele começou a falar...
Bruno: Tem uma menina na sala que não para de olhar pra você... Tem algo entre vocês?
Eu não sabia de quem ele estava falando... mas não precisava saber pra responder.
Lucas: Não...
Bruno: Você não namora?
Lucas: Não!
Bruno: Mas é porque não quer!
Lucas: Ainda não achei a pessoa certa...
Bruno: Sei...
Senti a ironia na voz dele, mas ignorei.
Lucas: E você?
Bruno: Também não namoro. Também não achei a pessoa certa ainda!
Lucas: E depois fala de mim...
Bruno: Falei brincando... Eu te entendo bem. Você quer alguém que se sinta do mesmo jeito que você se sente. Ou melhor, você quer alguém como você!
Fiquei um minuto em silêncio, tentando identificar qual sentido de "alguém como você" ele quis usar. Mas acho que fiquei tempo demais em silêncio!
Bruno: Não é?
Lucas: É, você tem razão.
Nessa hora ele pois a mão pela gola da camisa e puxou uma correntezinha pra fora com metade de um coração.
Bruno: Você vai rir de mim. Mas eu tenho a outra metade guardada em casa. Ganhei da minha cunhada... Ela e meu irmão usam um parecido. Ela me disse que é romântico, e que é pra eu dar a outra metade pra pessoa que for viver comigo pro resto da vida.
Lucas: Que bonitinho.
Bruno: No começo eu achei ridículo. Só que eu me apaixonei e depois fui rejeitado, aí fiquei mais sentimental.
Lucas: É, a rejeição não é fácil.
Bruno: Parece que você já passou por situação igual...
Lucas: Já... Rejeitado e depois ignorado pela pessoa. Estudava comigo.
Bruno: É aquela garota?
Lucas: Não...
Bruno: Desculpa a intromissão, mas quem foi?
Lucas: Ela foi embora... Se mudou!
Bruno: Entendi... Então deixa quieto. Virou passado!
Lucas: É.
Finalmente chegamos na minha casa. Eu me despedi do Bruno e entrei. Meus olhos estavam se enchendo de lágrimas. Fiquei um pouco nervoso. O Bruno me fez lembrar tudo o que eu passei com o Davi, ele até me tratava da mesma maneira! Enxuguei as lágrimas e entrei em casa.
O almoço estava muito bom! Por um minuto esqueci tudo o que estava me perturbando! Mas, quando minha mãe se despediu de mim, pegou sua bolsa... E quando eu ouvi o carro se distanciando, peguei meu celular e já coloquei uma música. Eu nao queria deixar a mente desocupada, como minha avó sempre dizia: "mente ocupada é oficina do Diabo", eu nunca entendi se era uma figura de linguagem, ou algo ambiguo, só sabia que tinha relação com um livro da bíblia, mas eu gostava de pensar naquela frase em seu sentido literal, eu precisava me distrair.
Tirei a camisa e fui lavar a louça. De vez em quando eu me dava conta de que estava cantando alto, e reduzia a voz. Mas era questão de pouco tempo até me distrair e voltar a cantar.
Quando terminei a louça, peguei meu celular, meu fone de ouvido e deitei no sofá ouvindo música no foninho. Depois que fiquei de saco cheio de música, liguei a TV, assisti um programa meio doido, nem lembro o canal que era. E depois voltei ao meu quarto. Fui tocar violão.
Depois de alguns minutos tocando, olhei pela janela, fechei os olhos e lembrei do Davi, um sentimento nostálgico me tomou.Lembrei da vez que ele dormiu em casa por causa de um trabalho da escola. Tínhamos que fazer uma maquete, e ficamos até uma da manhã pra terminar. No outro dia, foi ele quem me acordou. Lembro como se tivesse sido ontem! Ele pois a mão no meu peito e me chacoalhou devagar, eu já tinha acordado, mas ainda assim ele sussurrou ao meu ouvido: "Lucas, acorda". E depois tivemos que dividir o banheiro, pra que os dois pudessem tomar banho, ou melhor, bater uma água no corpo, rs! O banheiro da minha casa tem um box opaco, só dá pra ver um vulto do que está do outro lado. Naquele dia, enquanto o Davi passava uma água no corpo, eu escovei os dentes, depois, ele escovou os dentes enquanto eu passei uma água no corpo. Me lembro de olhar por alguns segundos o vulto dele tomando banho. Imaginando como seria estar dentro daquele box com ele. Quando ele saiu do box enrolado na toalha, eu fiquei só de cueca e entrei no box (claro que eu olhei bem pra ele, e vi um certo volume na toalha em sua cintura, sem contar sua barriga e seu peito). Só tirei a cueca dentro do box e vi o vulto dele desenrolando a toalha e vestindo a roupa pra ir à escola. Ainda assim, chegamos um pouco atrasados naquele dia.
Voltando à realidade: Mais tarde, quando deu minha hora de ir à academia, eu calcei um tênis, vesti uma camisa e fui.
Na academia: tudo a mesma coisa. Acostumem-se, nunca vai acontecer nada aqui.
Quando voltei pra casa, tomei um banho e depois entrei no Facebook. Vi uma atualização do Bruno no feed, uma nova imagem de perfil. Ele estava com uma camisa sem manga tirando a foto no espelho. Ninguém comentou, apenas curtiram... Eu ousei e dei um like na foto dele. Poucos segundos depois, eu estava quase saindo do facebook quando recebi uma notificação... Bruno acabara de dar um like na minha foto de perfil! Eu não sabia se aquilo significava algo... Mas eu sai do Facebook. Tive medo de deixar aquela situação me contagiar e acabar da mesma maneira que acabou com o Davi!
Desci até a cozinha, encontrei minha mãe na escadaria... Ela disse que estava indo me chamar pra jantar, e voltou comigo.
Jaqueline: E então, filho... Tudo em ordem na vida?
Lucas: Por que pergunta?
Jaqueline: Você parece distraído... E mais quieto que o normal!
Lucas: Tá tudo bem... Só to pensativo.
Jaqueline: Sei... Tá mais pra apaixonado! Chega da escola com um sorrisinho bobo na cara... Fica por aí, com a cabeça nas nuvens...
Me atrapalhei um pouco. Apaixonado?
Lucas: Tá doida?
Ela riu...
Jaqueline: Você sabe que eu estou certa! Se não sabe, ainda não se deu conta do que tá sentindo. Nisso você é igual seu pai... Ele nunca foi bom com palavras e nem com sentimentos!
Lucas: E só por me observar você já pode dizer o que nem eu mesmo sei?
Jaqueline: Eu sou mulher, e além disso, sou sua mãe!
Lucas: Não me convenceu...
Jaqueline: Mas pensa bem nisso! E corre atrás antes que perca...
Fiquei quieto... Se eu continuasse falando, ela insistiria naquilo. Não concordei nem discordei, apenas dei um sinal de que tinha ouvido e continuei comendo. Se ela fosse um pouco mais esperta, eu estaria com um probleminha. Pois ela sabia que eu ia embora junto com o Bruno... Se ela associasse as coisas, ficaria "com a pulga atrás da orelha"! Ou talvez ela já tivesse pensado isso, mas eu só não tinha percebido, ou talvez ela tivesse descartado essa possibilidade. Mas, ainda assim, eu não estava apaixonado, só interessado! O que estava me deixando daquele jeito era a junção de tudo: o Bruno, e o Davi.
Acho que parte de mim tinha medo de tentar um novo relacionamento e passar pela mesma coisa de antes.
No outro dia, quando cheguei na escola, o Bruno estava com uma cara um pouco cansada. Seus olhos pareciam querer fechar.
Lucas: O que foi, Bruno? Parece cansado!
Bruno: Não dormi bem! Ou melhor, quase não dormi!
Lucas: Por que?
Bruno: Alguns problemas aí...
Lucas: Huum... Sei.
O Gustavo disse brincando: "Vou ficar com ciúmes de vocês dois, hein". Nessa hora, o Bruno olhou pra ele com uma cara de deboche. E o Gustavo completou: "Ele é meu, tá bom?".
Bruno: Ah é? Então deixa o Lucas escolher o melhor.
Ele falou brincando, mas fiquei um pouco constrangido. Seu tom de voz deixava claro que era só uma brincadeira, mas também deu um sentido malicioso.
Tentei entrar na brincadeira: Calma, gente. Tem Lucas pra todo mundo.
Gustavo: Ah não, gato! Não divido...
Não estranhei, essas brincadeiras eram comuns vindo do Gustavo. No começo eu não gostava muito, mas me acostumei.
E por ali mesmo morreu aquela conversa. Mais tarde, ao final da aula, eu sai andando com o Bruno. Ele estava um pouco quieto... Já não parecia cansado, mas sim nervoso.
Lucas: Que foi?
Bruno: Nada.
Lucas: Então sorria!
Ele forçou um sorriso que não me satisfez! Então cutuquei-o na cintura, fazendo cócegas. O que fez dar um pulo pra longe de mim, com um sorriso no rosto!
Lucas: Você sente cócegas!
Bruno: Até demais! Eu faço escândalo. Pára!
Lucas: Se é assim, te deixo em paz, por enquanto.
Durante os dias seguintes, minha amizade com o Bruno continuou a mesma! Ele continuava um pouco distante do Gustavo. Mas eu não ligava. Eu reparei que, depois de fazermos alguns trabalhos juntos, o Bruno começou a evitar trabalhos comigo. Ele sempre procurava outro parceiro antes que eu o chamasse. Fiquei um pouco chateado, eu tinha feito algo errado? Sempre tentei ser o mais legal possível pra ele. E, como ele não ia muito bem nas atividades individuais, eu tentava ajudar.
Depois das primeiras provas, eu vi que o Bruno realmente não era bom aluno! Tirou notas muito baixas. E eu percebi que ele evitava falar sobre o assunto. Eu só soube quais foram suas notas porque me sentava atrás dele e conseguia ver as notas quando ele recebia a prova corrigida, mas eu evitava falar sobre isso, já que ele sempre desconversava.
Nos dias seguintes eu notei que o Bruno ficou um pouco mais quieto que o normal, tinha dias que ele ia pra aula muito sério! Mas eu não tinha coragem de perguntar qual era o problema! Eu não sentia essa liberdade.
Na sexta feira da terceira semana de aula, quando saímos ao meio-dia, o Bruno estava normal, conversando e rindo, até fiquei contente por ver que ele me acompanharia bem humorado! Mas, ao sairmos da escola, ele suspirou, vi que olhou direto para um carro preto com uma mulher ao volante, eu não pude ver bem como ela era, mas o próprio Bruno disse: "é minha mãe! Nós vamos almoçar na casa da minha vó".
Lucas: Entendo... Vai lá!
Bruno: Até segunda!
Consegui ver a mulher um pouco melhor quando o Bruno abriu a porta do carro. Tinha o cabelo liso, aparentemente preto, usava óculos e tinha um sorriso simpático.
Não tive outra escolha, a não ser ir andando sozinho para casa! Naquele dia eu não fui à academia. Estava me sentindo mal, não de saúde física, mas mental. Quanto mais próximo da noite chegávamos, mais triste eu me sentia. Não entendi bem o motivo da minha tristeza, mas não era a primeira vez que eu me senti daquele jeito! Mas o maior problema foi explicar pra minha mãe o porquê eu não ia. Inventei que estava com dores no joelho, e ela parou de me questionar!
Bom, encerro esse capítulo aqui. Eu acho que disse que a história ficaria mais interessante nesse capítulo... Acontece que essa segunda parte tinha ficado muito grande! E eu dividi ela. Perdão! ^^