Mais que uma lembrança [parte 31]
Parte da série Mais que uma lembrança
Ooi pessoal! Olha que milagre eu postando no meio da semana! Esse capítulo acho que vai ser bem legal! Ficou longo também, hehe. E como eu escrevi e postei pelo celular, me desculpem se tiver erros na escrita!
Naquele dia, um pouco depois que o Bruno foi embora, eu fiquei meio perdido. No final das contas, me arrumei e sai de casa. Fui andando sem pressa até o apartamento do Vinicius. Parei na portaria e o Afonso me cumprimentou.
Afonso: Bom dia, Lucas... Como vai?
Lucas: Bem, Afonso. O Vinicius está?
Ele curvou-se pra trás, olhou alguma coisa lá dentro, depois voltou e disse: Sim, está. Pode subir!
Hesitei, e falei: Melhor você dar uma ligadinha pra ele antes...
Afonso: Mas ele disse que você pode entrar direto...
Lucas: É... Mas aconteceram algumas coisas... Melhor ligar pra ele, por favor!
Afonso: Tudo bem então... - ele disse com cara de desentendido. Me deu as costas e ouvi ele ao telefone.
Afonso: Sr. Vinicius? O Lucas está aqui...
Não pude ouvir o que o Vinicius respondeu, claro. Mas o Afonso desligou, e quando ele voltou até a janela, eu meio que fiquei nervoso... E se o Vinicius tivesse dito que eu não podia subir? Mas antes que o Afonso dissesse algo, ouvi um estralo, o portão tinha sido destrancado.
Afonso: Pode subir, Lucas...
Lucas: Obrigado!
Afonso: Por nada! - ele respondeu sorrindo.
Passei pelo portão e o fechei apressado. Fui até o elevador que já estava parado no térreo... Entrei e apertei o andar do Vinicius. Quando a porta abriu, e eu sai, dei alguns passos até ver a porta do apartamento fechada. Talvez por coincidência, o Vinicius abriu a porta quando eu estava chegando perto. Fiquei um pouco nervoso, mas relaxei quando vi ele me olhando com um sorrisinho no rosto. Nos cumprimentamos e ele fechou a porta.
Lucas: Não to atrapalhando nada, né?
Vinicius: Não. Fica tranquilo! Não recebo visitas faz tempo, tive bastante tempo pra adiantar os serviços.
Lucas: Que bom...
Vinicius: Ou não...
Lucas: Por que não?
Vinicius: Porque não recebo visitas faz tempo.
Lucas: Desde quando?
Ele demorou um tempo pra responder.
Vinicius: Desde a última vez que você veio...
Aquilo me deixou mal.
Vinicius: Mas não se preocupa. Eu to bem...
Lucas: Que bom...
Vinicius: Deixa eu te contar! - ele disse todo animado.
Lucas: Conta!
Vinicius: Depois de amanhã vou fazer uma entrevista em uma empresa!
Lucas: Que bom! Tomara que você consiga!
Vinicius: É! - ele disse rindo. Ele estava bem mesmo.
Ficamos em silêncio por algum tempo.
Vinicius: Por que o Afonso me ligou? Eu disse que você podia subir sem precisar falar comigo!
Lucas: Eu que pedi pra ele ligar...
Vinicius: Por que? Achou que eu ia te mandar embora?
Lucas: Talvez...
Ele riu.
Vinicius: Mas e como vão as coisas?
Lucas: Não muito bem...
E por um momento, o sorriso sumiu do rosto dele!
Vinicius: O que aconteceu?
Lucas: O Bruno acordou há uns dias atrás. Mas ele perdeu a memória... Só se lembra do que aconteceu até o começo da adolescência.
Vinicius: Nossa!
Lucas: Tem mais... - e contei pra ele as coisas que tinham acontecido desde então. Contei até o momento em que o Bruno convrsou comigo e depois foi embora, e então eu me arrumei e fui até o apartamento do Vinicius.
Vinicius: O Gustavo não presta, Lucas... Pode ser que agora ele sossegue com o Bruno... Mas ele sempre foi assim. Se você ficasse sabendo das coisas que ele já fez...
Lucas: Já tive um exemplo. - falei rindo.
Vinicius: Como assim?
Lucas: Teve um dia, antes disso tudo acontecer, que ele foi em casa... E conversando, ele me disse que tinha transado com mais dois garotos ao mesmo tempo...
O Vinicius riu.
Vinicius: Isso não é nada pra ele...
Lucas: Caramba...
Vinicius: Mas acho que você não veio aqui pra falar sobre o Gustavo...
Fiz que não com a cabeça.
Vinicius: Me conta, Lucas! Sabe que pode confiar em mim! Eu confiei tudo em você...
Lucas: Eu to meio perdido...
Vinicius: Como assim?
Lucas: Com tudo isso que aconteceu com o Bruno... Ao mesmo tempo tem o Davi... E eu não sei o que fazer, nem o que vai acontecer...
Vinicius: Cara... Não tem como saber o que vai acontecer... Desencana com isso. E o que tem o Davi?
Lucas: Ele gosta de mim...
Vinicius: Huum... E você gosta dele?
Lucas: Não sei direito...
Vinicius: Entendi... Se é um conselho que você quer... É melhor não tomar nenhuma decisão agora! Não só porque você tá nervoso! Deixa o tempo passar. Você vai ver que as coisas ficam mais claras com o tempo. Aí você toma decisões. E até lá, as coisas podem mudar.
Fechei os olhos e fiz que sim com a cabeça.
Ele se levantou da cadeira e abriu a geladeira.
Vinicius: Quer? Pra não perder o costume?
Lucas: Como sempre... - eu disse. Ele me deu um copo de coca cola. - Por que você não foi ontem?
Vinicius: Por causa do Igor...
Lucas: Entendi... Eu achei que era por minha causa.
Vinicius: Você não me fez nada de mau.
Lucas: E o Igor fez?
Vinicius: Não... Eu que fiz! Não com ele, mas com o primo dele. Ele ficou sabendo e agora acha que a culpa de tudo é minha.
Lucas: Você ficou sabendo o que aconteceu com o primo dele?
Ele fez que sim com a cabeça.
Vinicius: Por mais que ele tenha me magoado, eu não queria que acontecesse isso.
Lucas: Vi ele esses dias.
Vinicius: Como ele tá?
Lucas: Bem! Não tem marca de quem apanhou muito.
Vinicius: Que bom.
Lucas: Ele é lindo...
Vinicius: Sim, é! - ele disse sorrindo.
Passei o resto da tarde com o Vinicius, conversamos sobre muita coisa. Não só sobre Bruno e Gustavo. Quando eu estava indo embora, o Vinicius me parou na porta.
Vinicius: Lucas, obrigado.
Lucas: Pelo que?
Vinicius: Por tudo.
Lucas: Era eu quem tinha que agradecer!
Ele sorriu. Nós nos despedimos, sem selinho dessa vez, e eu fui pra casa. Cheguei apressado, troquei de roupa e fui pra academia. Cheguei com uns cinco minutos de atraso, e o Davi já estava lá! Fiquei por perto dele, como sempre.
Davi: E aí?
Lucas: Depois conto...
Davi: Então tá. Pelo menos me diz aonde você foi?
Lucas: Falar com o Vinicius...
Davi: Hum... Ok.
Não conversamos muito na academia porque tinha bastante gente naquele dia. E várias pessoas perto de nós. Só conversamos depois de sair. Na rua mesmo, andando até em casa.
Davi: E então?
Lucas: Resumidamente, ele disse que não me ama e quer ficar com o Gustavo.
Davi: Nossa... E a corrente?
Lucas: Devolvi pra ele.
Davi: Será que ele vai dar a corrente pro Gustavo?
Lucas: Acho que não...
Davi: E O Vinicius?
Lucas: Tá bem... Só conversei sobre o que aconteceu com ele.
Davi: Só isso?
Lucas: Só...
Davi: Hum... Então tá.
Bom, caro leitor, rs. Eu só tenho a dizer agora que aceitei o conselho do Vinicius e resolvi dar tempo ao tempo. Então, pra não tornar as coisas extremamente monótonas, vamos pulando alguns espaços de tempo que não vão fazer diferença pra vocês. Primeiro vamos pular até o dia do meu aniversário, 27 de julho, um sábado! Eu acordei tarde, era o último fim de semana antes das aulas voltarem! Minha mãe me perguntou alguns dias antes se eu queria fazer alguma coisa, mas eu disse que não.
Levantei e fui ao banheiro ainda com sono! Depois fui até a cozinha e encontrei minha mãe lá! Ela se aproximou toda sorridente e me abraçou bem forte! Disse várias coisas desejando um feliz aniversário (e também uma vida inteira feliz, rs), depois de um tempo ela me soltou.
O dia foi calmo, os telefonemas de parentes começaram depois do almoço! Eu gostava de falar com eles um pouco, mas era cansativo porque a cada ligação eu falava com todos os que moravam naquela casa! Por exemplo, se minha tia ligasse, eu teria que falar com ele, com meu tio e todos os primos. A única exceção era a minha tia Bete, irmã do meu pai! Ele falava em nome de todos os meus primos, e depois passava pro meu tio. Eu não esparava ligação dela, mas ela ligou! Toda a minha família por parte do meu pai ligou, mas ele não deu nenhum sinal de vida.
Ao final da tarde, eu estava vendo TV quando minha mãe me chamou pra ir ao mercado com ela! Ela nunca me chamava pra ir junto, mas como era meu aniversário, acho que ela queria ficar o tempo todo comigo! Coloquei uma roupa decente e fui com ela, que escolheu ir ao mercado no centro da cidade, coisa que era desnecessária, mas não falei nada.
Andamos pelo mercado, eu fui empurrando o carrinho, apenas seguindo-a enquanto ela ia pegando o que precisava e colocando no carrinho.
Enquanto estávamos lá, eu recebi uma mensagem do Davi, que dizia: "Cade você? Quero quebrar um ovo na sua cabeça!". Sorri ao ler aquela mensagem, até então eu estava achando que ele ia esquecer! Respondi dizendo que estava no mercado com minha mãe e que já iria pra casa. Nunca tinham quebrado ovo em mim no meu aniversário, apesar de sempre ameaçarem!
Levamos um tempo no mercado porque minha mãe ficou enrolando, procurando um amaciante de uma marca que não tinha lá, depois de uns quinze minutos ela se contentou e pegou outro. Eu não reclamei porque estava contente naquele dia.
Outro problema foi passar no caixa, todos estavam com fila e nós não podíamos passar no caixa rápido porque era só até quinze itens!
Foram uns vinte minutos até chegar nossa vez! A menina no caixa era bonita, loira, magra e me olhou sorrindo quando cheguei, mas só cumprimentei e não dei muita atenção porque já tinha me estressado um pouco com a fila.
Depois que minha mãe pagou eu saí empurrando o carrinho de novo até o estacionamento, colocamos as coisas no porta malas do carro e eu levei o carrinho de volta. Voltei e montei no carro, minha mãe foi até em casa conversando sobre o emprego. Mencionou um funcionário novo na empresa, que começou a trabalhar junto com ela, só que eu não reparei que, no final das contas, ela falou mais sobre esse cara do que sobre o resto da empresa.
Finalmente, quando chegamos em casa, abri o portão e minha mãe guardou o carro na garagem. Peguei a chave, abri a porta da frente e voltei pro carro pegar algumas sacolas, ao mesmo tempo que voltei, minha mãe entrou com algumas.
Peguei o máximo que eu pude e fui entrando... Cheguei na cozinha e vi que minha mãe tinha deixado as sacolas dela lá, voltei e peguei mais sacolas no carro, levei até a cozinha e voltei ao carro, peguei as últimas e levei até a cozinha. Quando as deixei sobre a mesa, falei mais alto pra minha mãe: "Valeu pela ajuda, mãe". Mas ela não respondeu. Subi pra procura-la, mas ela não estava lá em cima, desci, não estava em nenhum lugar dentro de casa, voltei pra cozinha, passei pela lavanderia e abri a porta dos fundos, chamei ela mais uma vez, mas antes mesmo que eu terminasse de falar "Mãe", muita gente soltou um "Aeeeee" bem alto e começaram a cantar parabéns. Eu cobri o rosto com a mão e comecei a rir.
Quando olhei pra eles de novo, vi vários amigos da escola, ou melhor, todos os que eu considerava amigos estavam lá! Desde os da escola até os da academia, e o Vinicius também estava! Além deles, algumas tias e tios que moravam na mesma cidade ou em alguma cidade próxima, assim como alguns primos! Meus avós e o último que eu vi foi meu pai! Ele estava no meio de todos, perto da minha mãe, sorrindo e cantando parabéns com todos!
Cheguei mais perto e fui cumprimentando um por um, comecei pela direita, onde estavam os parentes! Quando o parabéns começou a chegar no fim, alguém gritou "no parabéns" e todo mundo voltou a cantar parabéns desde o começo. Eu dei risada nessa hora, e quando cheguei no meu pai, ele me abraçou, me desejou muitas coisas boas que sempre desejamos nos aniversários e no final disse ter saudades de mim.
Quando passei pra minha mãe, comecei a rir de novo e falei: Você atuou bem!
Jaqueline: Obrigada!
Abracei-a mais uma vez, ela me desejou tudo de bom mais uma vez, e depois dela começaram os amigos. O primeiro foi o Felipe, da academia. Ele me deu um abraço amigável e não lembro mais quem cumprimentei depois! Mas fui um por um, cumprimentando todos. As meninas eram mais delicadas e falavam coisas mais fofas, também desejavam mais coisas do que só um "feliz aniversário e tudo de bom".
No final, teve o Bruno, que me abraçou e fez o melhor desejo de "feliz aniversário" até então. Depois veio o Vinicius, que me deu um abraço também e falou várias coisas... Quando eu já não aguentava mais abraçar e minha bochecha até doía de tanto sorrir, cheguei no último, o Davi... Ele estava com uma carinha muito fofa, e eu com os olhos lacrimejando, sorrindo, me deu um abraço forte e o que ele disse superou o Bruno. Antes de solta-lo do abraço eu sussurrei "obrigado por tudo" e me virei pra todo mundo! Por um minuto fiquei sem saber o que fazer. Só que no mesmo instante, senti alguem batendo atrás do meu joelho, me pegando no colo e me jogando na piscina. Por sorte eu tinha deixado meu celular em cima da mesa da cozinha com as sacolas. Sai da piscina rindo bastante, procurei e vi que quem tinha me jogado na piscina foi o Vinicius. Fui andando rápido até ele com a intenção de joga-lo na piscina também, mas não consegui, porque senti uma mão batendo na minha cabeça, parei e olhei pra trás, era o Igor. Fiquei sem entender nada, passei a mão no cabelo e olhei pra ela, vi algo amarelo e e fechei os olhos. Nessa hora todos os moleques empelotaram em mim quebrando ovo e pra fechar com chave de ouro, farinha! Não gostei muito da farinha, mas foi divertido. No começo eu tentei sair do meio deles, mas não consegui porque alguém sempre me impedia. Então só deixei rolar.
Felipe: Só falta leite e fermento e o bolo já ta pronto... - ele disse quando todo mundo se afastou.
Vi minha prima tirando foto, minha vontade foi pegar ela com máquina e tudo e jogar na água.
Lucas: Vocês me pagam... - falei olhando pros meninos, que riram.
Vitor: Cartão ou cheque? - ele disse fazendo alguns rirem de novo. Olhei pro Davi, ele parecia feliz. O Bruno também, assim como o Vinicius. Me dei conta de que o Gustavo não estava!
Leticia: Coitado, gente! Tá mais branco que o normal.
Vitor: Coitado nada! É o aniversariante!
Me levantei do chão e a Leticia se aproximou com uma toalhinha na mão. Achei que ela só ia me entregar a toalha, mas ela mesma limpou meu rosto, principalmente em volta dos meus olhos. Depois, com a mão mesmo, jogou meu cabelo todo melado de ovo pro lado e limpou minha testa. Depois ela se afastou e eu falei: Obrigado, Le...
Ela sorriu e então eu olhei pro Davi rapidamente. Ele estava com uma cara não muito boa!
Felipe: Velho, melhor ir tomar banho. - ele disse rindo - A gente espera.
Leticia: Só não demora, se não vão te dar ovada de novo. - ela sussurrou e se afastou.
Lucas: Obrigado.
Olhei pra todos os outros, meu vô não parava de rir e minha vó estava com cara de quem não se conformava com aquilo.
Quando cheguei na porta, minha mãe veio atrás. Ela fez com que eu me inclinasse e passasse a mão na cabeça pra tirar o excesso de ovo, pra pingar o mínimo possível dentro de casa. Depois me fez tirar a camisa e só então me deixou entrar.
Fui pro meu quarto, peguei outra roupa, minha toalha e fui ao banheiro. Tomei banho o mais rápido possível! Depois voltei lá pra fora. Estavam todos sentados em mesas que eu não tinha visto antes. Tinha umas duas ou três mesas enfileiradas. Eu me sentei no meio do Davi e do Vinicius. Meu pai e eus tios estavam juntos na churrasqueira. Fiquei feliz em ver todos bem!
Davi: Nós não sabíamos se era melhor fazer churrasco ou comprar salgados. Mas não achamos ninguém que fizesse tanto salgado em pouco tempo... Aí seu pai disse que ele podia ficar na churrasqueira, então teve que ser assim.
Lucas: Tá ótimo, Davi! Obrigado!
Ele sorriu e respondeu: Que bom! E por que você tava chorando?
Lucas: chorando?
Davi: É, quando você me abraçou tava quase chorando... - ele falou baixo.
Lucas: Não sei cara... Foi por ver todo mundo aqui pro meu aniversário, eu acho.
Davi: Você gostou?
Lucas: Muito!
Davi: Que bom. - ele disse olhando pro Vinicius!
Vinicius: Achei que te faria bem. Você tava meio deprê nos últimos dias! Queria que você lembrasse que ainda tem muita gente que te ama.
Lucas: Obrigado, vocês dois.
Em pouco tempo começamos a comer, e todos foram chamando minha atenção pra conversar, de vez em quando, quando alguém meio distante começava a falar comigo, eu tinha que mudar de lugar na mesa. Quando passei perto do Felipe, perguntei por que ele não levou a namorada.
Felipe: Terminamos... Ela era muito obssessiva e ciumenta! Eu não podia nem falar o nome de outra menina perto dela! Começamos a brigar muito por isso, e eu acabei terminando.
Depois sentei do lado da minha prima.
Lucas: E aí... Quanto tempo!
Loana: Verdade... Da última vez que vim aqui você não tava!
Lucas: É... Tava no começo de uma longa história.
Loana: Como assim? - ela perguntou dando uma risadinha.
Mas tinha muita gente por perto, não podíamos conversar ali. Acho que ela entendeu isso.
Loana: Quer ir conversar pra lá? Já comi demais.
Fiz que sim com a cabeça e deixamos a mesa. Saímos andando em direção a piscina e nos sentamos na beirada. Eu coloquei os pés dentro da água, mas ela sobrou as pernas. Olhei pra mesa e vi várias pessoas nos olhando. O Davi olhava fixamente, com cara de ciúmes, assim como a Letícia. O Vinicius estava distraído conversando com minha mãe.
Loana: Me conta...
Respirei fundo e contei como conheci o Bruno, depois pulei pro dia em que ficamos pela primeira vez. Contei um pouco como foi o tempo que passamos juntos e então falei do acidente. Contei como ele acordou e tudo o que aconteceu desde então. Pode parecer que foi rápido, mas eu fiquei um bom tempo contando tudo pra ela.
Loana: Esse Gustavo tá aqui?
Lucas: Não... Ele não veio.
Loana: Sem apontar com o dedo, tenta me mostrar quem é Davi, Vinicius e Bruno, por favor.
Lucas: Vinicius é aquele conversando com minha mãe. O Bruno é o que tá na ponta direita da mesa, com camisa preta, e o Davi é o de cabelo preto e pele café com leite do lado do Vinicius e que tá olhando pra cá toda hora.
Loana: O Vinicius é lindo, mas o Davi é perfeito, meu Deus...
Lucas: Acorda, filha! - falei cutucando ela com o cotovelo.
Loana: Foram só comentários. O Bruno é bonito também, mas eu ficaria com um dos outros dois. Com o Davi, se possível.
Lucas: Você não tem jeito.
Ela riu.
Loana: O Vinicius tá certo... Você tem que dar tempo ao tempo antes de qualquer coisa. Nunca é bom decidir as coisas quando a gente tá muito nervoso, triste, e nem muito feliz. E quando a gente se machuca assim, eu sei que dói, Lucas, e às vezes pode parecer que só vamos nos sentir melhor se ficarmos com outra pessoa, mas o melhor é dar um tempo. Ao invés de procurar outra pessoa pra amar, nessas horas é melhor reaprender a se amar. Pelo menos eu penso assim.
Lucas: Entendi...
Loana: Eu só não entendi direito, o Vinicius te ama ou não?
Lucas: Acho que não. Falei com ele esses dias e ele não demonstrou nada.
Loana: Deve ter sido só uma paixonite.
Lucas: Acho que sim. - sorri.
Nessa hora eu ouvi meu pai falando: "Cadê o Lucas?".
Jaqueline: Com a Loana lá. Vi meu pai esticando a cabeça lá da churrasqueira, e ouvi ele sussurrando: "deixa eles lá. Estão conversando". Mas isso fez com que todos reparassem em nós e nos olhassem por um momento. Coloquei a mão dentro da água e balancei a mão.
Lucas: Tenho saudade de conversar com você todo dia.
Loana: Eu também. Você é meu melhor amigo, Lucas. A única pessoa no mundo que eu confio totalmente.
Lucas: Obrigado! Posso dizer o mesmo sobre você.
Ela deu uma risadinha.
Loana: Se um dia começar a namorar com um desses gatões, não vai esquecer de mim, hein...
Lucas: Como assim?
Loana: É... Deu um duplo sentido... Eu quis dizer pra você não esquecer que eu existo! Pra continuarmos conversando como sempre conversamos!
Lucas: Não vou esquecer.
Estávamos falando bem baixinho pra que ninguém na mesa ouvisse, apesar de estarmos do outro lado do quintal!
Lucas: Você ainda continua sem namorar?
Loana: Sim. Eu tentei um namoro recentemente... Só que eu não me sinto bem, Lucas... Todos os garotos parece que só querem saber de sexo! Eu não quero só sexo! Quero um campanheiro! Alguém que se preocupe comigo, e não com minha coisinha.
Lucas: Por que não tenta com o Felipe? Ele tem cara de ser assim.
Loana: Quem é Felipe?
Lucas: A noite inteira e ainda não sabe quem é quem...
Loana: Não começa a me zoar...
Lucas: Felipe é aquele do outro lado da minha mãe.
Loana: Ele é bonitinho.
Lucas: Posso te passar o facebook dele... O resto é contigo.
Ela riu.
Loana: ok. Vou tentar fazer amizade com ele, pra começar.
Lucas: Só não faz muita amizade, ou vocês vão ser best friends, como as meninas costumam dizer...
Loana: Certo...
Me distrai por um momento e ouvi barulho de alguém mergulhando na piscina, e depois outro, e outro e outro! Todos pularam na piscina, com exceção dos parentes.
Igor: Estamos atrapalhando? - ele disse saindo da água e sentando do lado da Loana.
Loana: Acha... De onde você tirou isso?
Ele riu. E então o Davi se sentou ao meu lado! E ao lado dele sentou-se o Vinicius. Todos se sentaram na beira da piscina, e os mais velhos levaram as cadeiras mais pra perto.
Jaqueline: Você não tinha suspeitado de nada, filho?
Lucas: Não...
Jaqueline: Nossa, você tava tão tranquilo enquanto eu enrolei no mercado que achei que já sabia.
Lucas: Sabia de nada...
Leticia: Você não ouviu a gente gritando antes de você vir aqui pro fundo?
Lucas: Não.
Leticia: O combinado era que sua mãe te faria vir pra cá primeiro. Só que ela acabou vindo primeiro! Aí quando ela abriu a porta alguns meninos gritaram achando que já era você...
Vitor: E a gente te esperando vir pra ca depois da sua mãe!? A gente já tava achando que você não vinha... Que tinha parado pra ver TV ou sei lá... - ele disse rindo.
Lucas: Cara, não percebi nada... Eu vi que minha mãe sumiu... Só que eu achei que ela tinha ido no banheiro ou sei lá... Aí continuei descarregando o carro... Depois que eu vi que ela não tava dentro de casa eu resolvi vir aqui procurar ela.
Vitor: Nem nessa hora você desconfiou?
Lucas: Não... Eu tava viajando! Nem esperava festa surpresa.
Felipe: Foi uma correria, cara! Decidimos tudo hoje de manhã! Sua mãe passou o telefone dos seus tios e nós mesmos começamos a ligar e convidar. Tipo, o Davi que começou com a ideia né?
Davi: Não, cara! Quem me deu a ideia foi o Vinicius, só que ele me pediu pra cuidar das coisas...
Olhei pro Vinicius e ele sorriu pra mim, depois piscou um olho e eu sorri de volta.
Leticia: E pra arrumar alguém que fizesse um bolo assim de última hora?
Igor: É, se não fosse a Leticia você tinha ficado sem bolo...
Leticia: Minha mãe que fez! - ela disse me olhando.
A Leticia era uma das meninas mais humildes da sala! Eu gostava dela por isso! Todas as outras eram meio metidinhas. Eu ainda não tinha visto o bolo, mas a mãe da Leticia fazia bolos e doces pra festas. Ela sempre estava cheia de encomendas e pra conseguir um bolo pra uma data específica você tinha que ligar com uns dois meses de antecedência! Ela devia ter se apertado pra fazer um bolo pra mim.
Isabela: Verdade... e o Davi que ficou de plantão esperando vocês sairem?
Davi: Fiquei espiando pelo portão pra ver quando sua mãe e você saíssem! Aí que começou a correria! Mas deu pra ajeitar as coisas antes da sua mãe mandar a mensagem.
Lucas: Que hora que você mandou mensagem que eu nem te vi mexer no celular?
Jaqueline: Depois que guardamos as sacolas no carro, e você voltou pra guardar o carrinho... Eu não fiz as coisas a toa!
Vitor: Verdade, cara! Sua mãe planejou algumas coisas certinho! Desde a chave que ela deixou com o Vinicius. O problema foi passar as mesas pelo portão pequeno.
Jaqueline: Se eu tivesse dois controles pro portão grande eu teria deixado um com o Davi... Mas eu não tinha.
Davi: Aah, mas deu certo. Então tá bom...
Lucas: É... - completei - Que bom que vocês pensaram em mim com antecedência e organizaram tudo certinho. - falei rindo.
Igor: Pra você ver como te amamos!
Davi: Aah cara... Você disse que não queria festa... Aí ninguém se animou... Quem animou o povo foi o Vinicius!
Vinicius: Deu raiva, cara! Todo mundo falava: "mas ele disse que não quer festa!". Só o Davi topou de primeira.
Leticia: Ei, eu também!
Vinicius: Verdade.
Lucas: Mas quando minha mãe deu a chave pro Davi?
Davi: Hoje cedo... Dorminhoco!
Todos riram. Eu tinha mesmo acordado tarde! O Davi devia ter passado em casa antes que eu acordasse.
E então minha vó interrompeu: E agradeça muito ao pai do garoto moreno! Se não fosse ele nós não teríamos vindo!
Lucas: Por que vó?
Minha Vó (pra facilitar, o nome dela é Luciana), respondeu: Foi o único que pôde buscar nós dois!
Eu tinha me esquecido que meu vô não podia dirigir mais e minha vó nunca dirigiu na vida.
Lucas: Qual menino moreno, vó?
Luciana: Esse que tá aí do seu lado!
Tinha que ser! Olhei pro Davi e sussurrei: valeu mesmo, Davi!
Davi: Não foi nada...
E então foi a vez do meu pai falar: E quem foi que me ligou? O cara tava com tanta pressa que nem falou o nome!
Olhei em volta e dei risada quando o Felipe levantou a mão.
Felipe: Vish, desculpa...
Meu pai começou a rir: Qual seu nome?
Felipe: É Felipe!
Jaqueline: Lucas...
olhei pra minha mãe e ela apontou pros meus avós na porta. Os dois, ao mesmo tempo, fizeram gesto pra que eu fosse até lá.
Davi: Vai lá... Eu guardo seu lugar...
Me levantei e fui até meus avós.
Luciana: Você tá muito bonito, meu querido! Continue assim, uma pessoa simpática e humilde! Temos muito orgulho de você.
Lucas: Obrigado, Vó.
Luciana: Sabe que seu vô e eu não temos muito... E é tudo o que podemos te dar... - ela disse estendendo a mão com uma nota de vinte reais.
Meus avós recebiam muito pouco de aposentadoria e os filhos, todos os meses, tinham que se juntar pra ajudar os dois a pagar as contas e conseguir viver. Eu não me segurei, mais uma vez senti meus olhos enchendo de lágrimas, dessa vez, de emoção!
Lucas: Vó, não precisa!
Meu vô, Antônio, respondeu: Aceita! Nós nunca te damos nada... Aceita, filho!
Peguei a nota, pus no bolso e abracei os dois.
Lucas: Foi o melhor presente que ganhei hoje! Obrigado.
Eles me abraçaram firme! E quando nos soltamos, minha vó enchugou a lágrima que escorreu pelo meu rosto.
Luciana: Pode voltar pra lá, vamos ficar ali com os mais velhos.
Quando ele sairam de perto, eu esfreguei os olhos, abri a porta e coloquei o dinheiro em cima do armario da cozinha. Depois voltei até a piscina, já que todos os meninos tinham tirado a camisa pra entrar na piscina, eu tirei a minha antes de sentar, ouvi alguém assoviar, provavelmente tinha sido o Vitor ou o Felipe, e me sentei no mesmo lugar. Acho que a Loana foi a única ali que entendeu tudo! Ela pois a mão no meu ombro, nós nos entreolhamos, ela sorriu e então continuamos a conversar até minha mãe falar: "vamos cortar o bolo? ta ficando tarde!".
Concordei, todos sairam da piscina e se juntaram na mesa de novo. Parei atrás da Leticia de propósito, e falei baixinho: "Obrigado pelo bolo! Agradeça sua mãe também". Ela se virou tão sorridente, e disse: "não precisa agradecer, Lucas".
Lucas: Mesmo assim, fala pra ela que eu agradeço! Ela deve ter se prejudicado pra fazer um bolo assim de última hora.
Leticia: Tudo bem, eu digo.
Jaqueline: Cade o aniversariante? - disse colocando o bolo sobre a mesa. Eu passei na frente e começaram a cantar parabéns mais uma vez! Mas dessa vez ninguém tentou prolongar a cantoria! Nem cantaram o "com quem será". Ao invés disso, quando o parabéns acabou, começaram a bater palmas dizendo: "discurso! discurso! discurso!". Aos poucos, todos começaram a fazer o mesmo. Até minha mãe largou os pratinhos e garfinhos na mesa pra bater palmas.
Lucas: Tá legal... Tá legal. - com isso, todos se calaram - Primeiro eu queria dizer oi pra todos. - Fiz uma pausa e falei, fazendo todos rirem - Oi pra todo mundo! - Depois continuei - Agora é sério, gente. Hãã... Eu não sou muito bom com essas coisas, só que eu queria dizer que muita coisa aconteceu nesse meu ano. Algumas me marcaram mais do que outras, muito mais. Tipo, coisas que eu vou lembrar pra sempre, e daqui a quarenta, cinquenta ou sessenta anos, quando eu parar e pensar nessas coisas, com certeza vou sentir saudade! Não importa o que aconteça daqui pra frente! - nessa hora eu tive certeza que o Bruno, Vinicius e Davi tinham entendido bem o que eu quis dizer. - Esse dia é uma dessas coisas... Só tenho a agradecer por ter uma família e amigos como vocês!
Foi difícil falar aquilo com toda minha timidez. E talvez tenha soado estranho ou idiota... Só que eu achei que não teria outra chance de falar algo assim com o Bruno, Vinicius e Davi juntos. Todos bateram palmas e alguns até gritaram "aeeeee".
Cortei o primeiro pedaço do bolo e então chegou a hora do aniversário que eu menos gostava! A hora do suspense do primeiro pedaço do bolo. Pensei no Bruno, mas isso deixaria o Davi enciumado. Se eu desse ao Davi, talvez o Vinicius ficasse magoado, e se eu desse ao Vinicius, o Davi ficaria enciumado! Em poucos segundos decidi e sai andando. Dei o primeiro pedaço à minha prima, Loana! Ela sorriu e eu voltei peguei dois pedaços e dei ao Davi e ao Vinicius ao mesmo tempo! Depois ao Bruno e então à Leticia. Depois dei aos meus avós. E então segui qualquer ordem! Minha mãe e eu fomos os últimos a pegar! Depois que comi o bolo, me jogaram na piscina de novo! Dessa vez foi o Davi! Mas quando sai, não jogaram ovos nem farinha em mim.
O tempo foi passando com as conversas e brincadeiras. E quanto mais tarde foi ficando, mais parentes iam embora! A última foi minha tia, e minha prima Loana. Ela se aproximou de mim, nos abraçamos e ela disse: Me liga quando tiver novidades ou quiser conversar!
Lucas: Você também!
Loana: Pode deixar! Te adoro, primo!
Lucas: Também adoro você, prima!
E assim só sobraram os meus amigos. Eles ficaram mais um pouco, comeram mais bolo e falaram muito sobre muita coisa! Sobrou na mesa minha mãe, e meus avós, que dormiriam em casa. Nós estávamos na beira da piscina de novo. Dessa vez eu me sentei entre o Vinicius e o Davi. O Bruno se sentou longe, e a Leticia bem de frente comigo! Do outro lado da piscina.
Teve uma hora que minha mãe chegou mais perto, se abaixou atrás de mim e susurrou: Filho, alguém vai ter que dormir no sofá. Só tem duas camas aqui em casa!
Lucas: Coloca o vô e a vó pra dormir na sua cama, que é de casal, e você dorme na minha.
Jaqueline: Você dorme no sofá?
Fiz que sim com a cabeça. Mas o Vinicius interrompeu.
Vinicius: Ele pode dormir em casa, tem uma cama sobrando!
Davi: Ou na minha!
Jaqueline: Tudo bem... Depois vemos isso.
Ela se levantou e levou meus avós pra dentro. Meus amigos começaram a ir embora mais ou menos uma da madrugada. Por último ficaram o Davi e o Vinicius.
Jaqueline: Onde você vai dormir, filho?
Davi: Pode ser na minha, é mais perto!
Mas eu sabia que na casa do Davi não tinha lugar pra mim. Ele teria que dormir no sofá! Nos entreolhamos e acho que ele leu minha mente. Fez uma cara muito fofa. olhei pro Vinicius e ele disse: "você que sabe, Lucas". E então escolhi dormir no Davi. O Vinicius pareceu não se importar, digo, pelo menos não ficou chateado.
O Vini foi embora logo depois. Eu peguei algumas coisas, dei um beijo na minha mãe e fui com o Davi.
Lucas: Vai me dizer que seus pais estão viajando de novo?
Davi: Não...
Lucas: Então... Não tem cama sobrando pra mim!
Davi: Ué... Já dividimos a cama esses dias... Qual o problema de dividir de novo?
Não respondi.
Davi: Relaxa, Lucas... Meus pais compraram outro colchão pra mim. Tá sobrando um agora.
Lucas: Menos mau...
Ele não respondeu, só deu uma risadinha.
Lucas: Obrigado por ter feito tudo isso hoje.
Davi: Não fiz sozinho.
Lucas: Mesmo assim! Obrigado!
Davi: Por nada...
Logo eu estava no quarto dele, entramos em silencio pra não acordar seus pais. Ele buscou um colchão e colocou no chão. Mas fui obrigado a dormir na cama, e o Davi dormiu no colchão mais velho. Depois que demos boa noite um ao outro, eu ouvi o Davi sussurrando "te amo, Lucas". Mas eu não soube o que responder, e acabei ficando em silêncio, fingindo que já tinha dormido.
Abraço pra todos e comentem! Adoro quando vocês comentam! Hehehe. Até logo.