Mais que uma lembrança [parte 5]
Parte da série Mais que uma lembrança
Bom, como eu disse, esse capítulo vai ser um pouco diferente. Acho interessante eu "voltar no tempo" e contar melhor minha história com o Davi. Quem não quiser ler sobre isso, ignore e volte pra ler quando julgar necessário!
Eu estudava com o Davi desde a quinta série, e o conhecia há muito mais tempo, apesar de só nos tornarmos amigos inseparáveis na oitava série! Foi logo no começo do ano, os amigos do Davi mudaram de escola, e ele ficou sozinho, eu tentei me aproximar dele, e nós acabamos virando melhores amigos!
Naquele mesmo ano, começaram os problemas em casa com meu pai! As coisas mudaram da água pro vinho! Meu pai começou a se distanciar da minha mãe, e até de mim. Às vezes chegava mais tarde que o normal, e estava sempre cabisbaixo, volta e meia ele e minha mãe discutiam por alguma coisa, e como eu já disse para vocês, sou um pouco sensível com essas coisas!
Ao mesmo tempo que as crises em casa estavam começando, eu estava começando a ver o Davi como meu melhor amigo. Naquele tempo, ficar em casa era uma tortura pra mim, porque lá eu tinha que aturar meus pais brigando, e por estarem sempre de briga, eu perdi os dois que sempre me davam atenção e conversavam comigo!
Meu refúgio se tornou o Davi! Sem eu ter que falar nada, ele reparou que havia algo de errado comigo.
Davi: Você tem parecido triste... Tá acontecendo alguma coisa?
Estávamos indo para casa, tínhamos acabado de sair da aula.
Lucas: Não...
Davi: Fala pra mim, Lucas!
Lucas: São meus pais... Estão sempre brigando, e antes eles conviviam tão bem!
Davi: Por que eles brigam?
Lucas: Começou com meu pai se distanciando de nós, ele se tornou uma pessoa fria dentro de casa, sempre de mau humor, sempre evitando sair em público com minha mãe! Ele esconde o celular pra minha mãe não mexer! Até mesmo leva pra dentro do banheiro quando vai tomar banho! E isso trouxe desconfiança da parte da minha mãe, ela começou a se sentir ignorada... Essas brigas quase sempre são porquê minha mãe chama a atenção dele, ou porque ela faz algo que ele não gosta!
Davi: Ele sempre foi assim?
Lucas: Não... Sempre convivemos bem!
Davi: Que coisa... Deve estar sendo complicado! E como ele te trata?
Lucas: Comigo ele não briga, mas também não é um amor de pessoa. Ele tem me ignorado um pouco, no começo eu tentava conversar, mas ele sempre respondia com uma visão negativa, me desanima conversar com ele!
Davi: Poxa, Lucas... Deve ter um problema bem grande pra ele ser assim! Se eu puder fazer algo pra te ajudar...
Lucas: Não precisa se preocupar!
Davi: Talvez eu não preciso, mas ainda assim eu me preocupo com você...
Eu ainda não era apaixonado por ele, mas foi por coisas assim que me apaixonei! Ele sempre demonstrou se importar comigo! Era atencioso, sempre me ouvia e tentava dar conselhos.
Depois que soube sobre o que estava acontecendo em casa, ele começou a aparecer por lá com frequência, fosse para passar um tempo em casa comigo, ou para me levar pra casa dele! Essa convivência me deixou apaixonado de vez! E eu tinha mil e um motivos pra acreditar que ele era gay!
Como em uma vez que dormi na casa dele, no começo do primeiro colegial, sem motivo algum, como na maioria das vezes!
Foi em uma noite de sexta para sábado! Depois que jantamos, ele e eu fomos para o quarto. Ficamos um tempo mexendo no pc até os pais do Davi irem dormir.
Depois ele fechou a porta e nos sentamos na cama.
Davi: E seus pais?
Lucas: As coisas estão um pouco mais calmas! Mas não estão normais ainda!
Davi: Luka, já pensou que, talvez, seu pai tenha outra mulher?
Lucas: Já, mas essa é a última coisa que eu quero! Seria difícil pra minha mãe!
Davi: Você se preocupa bastantes com ela, né?
Lucas: Claro!
Ele tinha um jeito carinhoso de me olhar! Eu me sentia tão bem com ele por perto, ele fazia com que eu me sentisse importante pra alguem! E logo, ele se tornou minha motivação!
Davi: Você é único...
Lucas: Que nada, tenho defeitos como todos os outros!
Davi: Pra mim você é único! Nunca tive e nunca vou ter um amigo igual você!
Juro que naquele dia eu achei que íamos ficar juntos! Antes de dormir, ele me perguntou se eu me importaria se ele dormisse de cueca. Falei que não, e ele tirou a bermuda! Ficou com uma cueca um pouco justa. Ele era bem dotado, e tinha uma bundinha muito gostosinha! Eu não entendia como o Davi podia fazer certas coisas, e depois me ignorar por saber que eu era gay!
Naquela noite, deveríamos ter dormido em camas separadas, mas acabamos dividindo a cama de casal dele! Pena que não acordei durante a noite com ele me abraçando, rs. Essa foi a primeira vez que dividimos a cama, e depois desse dia, todas as vezes que eu dormia na casa dele, acabávamos fazendo a mesma coisa! Sentávamos e ficávamos conversando até tarde. Quando o sono batia, só deitávamos, cada um em seu canto, e dormíamos. Eu podia dizer que, no começo, eu era feliz com ele! Mesmo amando-o em segredo.
A "segunda grande intimidade" que tivemos, foi quando ele dormiu em casa pra fazer um trabalho de escola. De manhã, acordei com o Davi me chamando, a mão no meu peito me chacoalhando, seu rosto bem próximo ao meu, sussurrando: "Luka, acorda". Ele era o único que me chamava de Luka, e ele não me chamava assim na frente dos outros.
Quando olhei no meu celular, era seis e meia da manhã! Nossa aula começava sete horas. Não sei porque minha mãe não nos chamou aquele dia. Levantamos apressados, descemos até a cozinha pra tomar café, e nem comemos nada! Voltamos logo ao meu quarto, nos olhamos no espelho, estávamos com o cabelo todo bagunçado, o meu cabelo estava meio "arrepiado" e não abaixava de jeito nenhum.
Davi: Vamos ter que tomar banho!
Lucas: Só tem um banheiro aqui em casa, e não vai dar tempo dos dois tomarem banho!
Davi: Vamos improvisar... Pega toalha e roupa!
Peguei minhas coisas, e quando olhei de novo pra ele, vi que ele também tinha pego roupas e toalha.
Davi: Vem...
Segui ele até o banheiro. Estramos e ele fechou a porta, comecei a ficar nervoso.
Davi: Escova o dente enquanto eu tomo banho!
Encostei na pia, ouvi o barulho dele tirando a roupa. Não tenho como negar que fiquei excitado! Tentei recuperar o foco. O espelho do banheiro de casa é parte de um armário. O espelho fica na porta do armário, suspenso na parede, e quando abri a porta do armário pra pegar minha escova e pasta, o reflexo do espelho passou pelo Davi. Fiquei nervoso, voltei um pouco a porta até pegar nele de novo. Estava de costas pra mim, ainda de cueca. Ele olhou pra trás, eu gelei, mas não percebeu que eu estava olhando-o pelo espelho, e tirou a cueca. Não o vi de frente, mas vi sua bunda gostosinha. =P
Recuperei a consciência quando ele fechou o box, só então eu peguei minha escova e escovei os dentes. Foi realmente rápido. Só alguns segundos se passaram depois que escovei os dentes, e o Davi saiu de dentro do box. Mas enquanto ele não saiu, eu fiquei olhando pro box, vendo seu vulto lá dentro. Me lembrando da cena no espelho, pensando como seria estar lá dentro, me lembrei das vezes em que o vi só de cueca, e tentei imaginar aquele volume. Fui ficando cada vez mais excitado.
Davi: Só uma observação, isso não é um banho! É como aquele momento que você sai correndo porque está começando a chover.
Deu risada, mas eu não. Estava ocupado olhando-o enrolado na toalha. Torcendo pra mão dele largar a toalha, ou mesmo um deslize dele que o fizesse larga-la! Normalmente eu não era muito pervertido! Mas naquela situação, foi incontrolável.
Acabei pegando minha toalha, tirei camisa e bermuda, mas a cueca tirei dentro do box, depois de fechar a porta. Eu estava com uma ereção desde que vi ele pelo espelho. Tomei aquele banho bem rápido, às vezes eu olhava pra fora e via o vulto do Davi vestindo-se. Depois escovando os dentes e saindo do banheiro.
Foi aí que me toquei que eu já estava demorando. Fechei o chuveiro e saí, vesti a roupa e fui calçar o tênis no meu quarto. Passei perfume pra ficar mais convincente de que eu tinha tomado banho e desci. Os dois já me esperavam na porta da sala. O Davi estava sorrindo, ele era tão lindo. Seu cabelo curto, sua pele num tom "café-com-leite", seu corpo perfeito.
Apesar da escola não ser tão longe, minha mãe se apressou com o carro. Ela encostou e descemos com a maior pressa, a maior dificuldade era carregar a maquete com aquela pressa sem quebrá-la!
Por sorte o pessoal da portaria conhecia bem nós dois, e nos deixou entrar, mesmo atrasados! Entramos na sala sete e dez, o professor nos encarou! Era justo a aula em que tínhamos que entregar a maquete. Por um momento achei que ele ia dar bronca ou recusar nossa maquete por estarmos atrasados, mas o velho se aproximou de nós, olhou bem a maquete e disse: Muito bem! Sentem-se!
Nos entreolhamos e sentamos. Deu tudo certo, afinal!
Mais tarde, na hora do almoço, o Davi foi pra casa dele, mas disse que depois passaria da minha casa pra pegar as coisas que ele tinha deixado lá.
Durante o almoço naquele dia:
Jaqueline: Tiveram até que dividir o banheiro hoje?
Meu corpo gelou. Minha mãe tinha jeito de que não aceitaria se eu me assumisse como gay...
Lucas: É, ele tomou banho enquanto eu escovei os dentes e vice-e-versa.
Jaqueline: Entendo... Bom, vocês são dois marmanjos, e melhores amigos... Sabem o que fazem.
Lucas: Foi por causa da falta de tempo. A maquete era para a primeira aula... Não podíamos atrasar.
Jaqueline: Mas eu não disse nada. Só disse que entendo...
Juro que achei que ia tomar uns puxões de orelha. Mas o que ela disse depois doi pior.
Jaqueline: Eu sei que vocês tem muita intimidade, já devem ter visto um ao outro várias vezes com outras meninas...
Devo ter ficado vermelho pakas.
Lucas: MÃE...
Jaqueline: Que foi? Quer que eu acredite que vocês ainda não fizeram essas coisas?
Lucas: Quero, porque nós não fizemos...
Jaqueline: Então de onde vem toda essa intimidade? Normalmente eu não acho que dois jovens de segundo colegial dividiriam o banheiro desse jeito! E não só isso... Vocês parecem muito íntimos...
Lucas: Porque somos amigos há muito tempo. Ele estuda comigo desde a quinta série! Já dormi várias vezes na casa dele, e ele na minha... É normal surgir uma intimidade um pouco maior! Não tem nada a ver com nós dois fazendo juntos com outras meninas! Que falta de...
Parei de falar, foi a melhor coisa que fiz. Falar em falta de vergonha da parte da minha mãe não traria bons resultados. Pois eu sabia que eu estava errado também, não era comum uma intimidade como a nossa.
Jaqueline: Não precisa ficar tão nervoso... Eu acredito em você.
E não se tocou mais no assunto. Minha mãe realmente não pensava antes de falar, ou talvez pensasse, mas não se importava com o efeito que aquilo traria! Ou ainda ela dizia aquelas coisas pra mim por ser minha mãe. Meu pai já tinha nos deixado há quase um ano e meio, ela sofreu muito depois que ele se foi. Com o tempo, tornou-se super protetora e um pouco atrapalhada.
Já estávamos no começo de novembro, e mais tarde, naquele mesmo dia, eu estava tocando violão no meu quarto quando a campainha tocou. Eu odiava que me interrompessem quando eu estava tocando, mas pensei que poderia ser o Davi indo buscar suas coisas! Então me levantei num pulo e fui apressado abrir o portão.
De fato, era o Davi, ele estava com uma bermuda e camisa. Ele tinha um tom de pele tão lindo.
Lucas: E aí, veio buscar suas coisas?
Davi: Sim, e eu preciso falar com você!
Lucas: Beleza, entra aí...
Antes de conversarmos, ele pegou todas as suas coisas e depois fomos até a sala. Eu não tinha ideia do que ele ia falar. Mas eu estava decidido a me declarar pra ele... assim que tivesse coragem suficiente pra isso.
Davi: Lucas... Eu Tenho que te contar uma coisa.
Meu coração palpitou, rs.
Lucas: O que é? Pode falar.
E a primeira morte do dia: minha esperança.
Davi: Minha vó, por parte de pai, está velha e doente. E meu pai decidiu que vamos nos mudar pra perto dela, pra que ele e minha tia possam cuidar dela.
Me senti sem chão. Como assim... o Davi ia embora?
Lucas: Você... vai embora?
Ele respondeu fazendo que sim com a cabeça.
Lucas: Pra muito longe?
Davi: Vou pro Mato Grosso...
Realmente, era um pouco longe. Eu nunca disse, mas somos do estado de São Paulo.
Lucas: Mas por que ir pra lá? Seus pais tem empregos aqui! Porque não trazer sua avó pra cá?
Davi: Meu pai é dono do próprio negócio, ele pode deixar outra pessoa encarregada e cuidar de algumas coisas pela internet. Minha mãe trabalha porque quer, não porque precisa. Então fica mais difícil trazer uma senhora de noventa anos, que não anda, pra cá, do que meu pai e todos nós irmos pra lá.
Lucas: E sua tia, já mora lá?
Davi: Mora, mas não é casada. E não tem condição de cuidar da minha vó sozinha.
Lucas: Mas...
Davi: Você ficou bem abalado...
Meus olhos encheram de lágrimas, e minha voz ficou mais fina, meio descontrolada, eu estava por um triz de chorar! Fiquei sem argumentos, a não ser...
Lucas: Eu não quero perder você... Você tem sido tudo pra mim nos últimos anos!
Ele arregalou os olhos, e eu completei.
Lucas: Eu te amo, Davi!
Ele ficou alguns segundos parado ali. E então, veio a segunda morte: meu coração.
O Davi pegou suas coisas em cima do sofá, se levantou e saiu andando. Eu já sentia meu olhos inchados, parecia que iam estourar.
Quando o Davi chegou na porta, disse: Vou tentar esquecer que você disse isso. E é melhor você me esquecer também.
Quando ele fechou a porta da sala, eu me larguei no sofá, meus olhos já não seguravam as lágrimas. Fiquei ali me torturando mentalmente! E algum tempo depois ouvi o som do portão se fechando! Eu não tinha me dado conta do quanto ele tinha demorado pra sair.
Depois daquele dia, ele se distanciou de mim. Ele não fazia coisas pra me prejudicar, só me ignorava. Evitava contato visual, evitava ficar perto de mim... Enfim, nossa amizade já era! Só que o que eu sentia por ele, não ia acabar assim tão fácil!
O mês de novembro se passou, eu não sabia quando ele ia se mudar, afinal, ele me largou lá sozinho sem terminarmos a conversa!
No final de novembro, se não me engano, no último dia de aula em novembro, um dos meus amigos veio cochicar no meu ouvido. Dizendo que iam fazer uma despedida pro Davi no dia 2 de dezembro, domingo! Como eles não sabiam do que tinha acontecido entre o Davi e eu, me convidaram pra despedida dele. Mas eu disse que não ia, e não ouvi mais falar do assunto.
Eu quase não saí durante as férias, acho que só uma vez eu saí com alguns amigos comer pizza, alguns dias antes do Natal! Foi assim que eu soube que o Davi já tinha ido embora há alguns dias, e que não tinham vendido a casa! Também me disseram que ele perguntou de mim no dia da despedida, perguntou se eu iria! A pessoa que me contou isso, disse que ele parecia preocupado querendo saber se eu ia aparecer por lá ou não.
Pensei comigo mesmo que ele queria saber pra se preparar pra me ver chorando de novo. Ou até me me ouvir falando que amava ele.
Foi a última vez que vi meus amigos durante as férias. Também não tive mais notícias do Davi. Algumas vezes eu vi a tia dele, por parte de mãe, varrendo ou lavando a calçada da casa.
Pessoal, resumidamente, essa é minha história com o Davi. Se eu for contar em detalhes, vou ter que criar um romance a parte. Mas não acho que isso seja necessário. Vocês só precisam saber o que aconteceu entre nós. :)
O próximo capítulo eu já volto ao normal, contando sobre o Bruno e eu!
Então, até a próxima! Espero que tenham gostado!