O garoto da casa ao lado (parte 3)

Parte da série Meu amor se mudou pra casa ao lado

Aquele dia eu me senti grandiosamente burro e infantil. Por que diabos tinha feito uma brincadeira tão besta? O que mais me surpreendeu foi a reação do Vinicius. Era visível o seu desapontamento.

Já fazia quase duas horas que ele tinha ido pra casa dele. Eu não tinha o número do celular dele, e não acho que pegaria bem ir até lá só pra dizer que eu não estava namorando.

Abri a janela do meu quarto e vi a janela do Vinicius aberta, mas nenhum sinal dele lá dentro. Eu tive uma ideia um tanto infantil. Mas eu iria gostar se ele fizesse aquilo pra mim, então resolvi fazer.

Peguei uma folha sulfite, caneta preta e escrevi no topo da folha: “desculpe pela brincadeira sem graça... Eu menti, não estou namorando! Quis fazer uma brincadeira pra quebrar aquele clima sério. E não pensei antes de falar... também não consegui desmentir o que eu disse. Só quis te avisar isso”.

Amassei a folha, fazendo uma bolinha de papel e fiquei encarando a janela do quarto dele. Em alguns minutos eu vi dois braços se esticando pra cima. Ele estava deitado na cama! Respirei fundo, torci pra que aquilo não resultasse em mais um mal entendido, e joguei a bolinha que entrou direitinho na janela do quarto dele.

Ele se ergueu com a bolinha na mão e olhou direto pra mim, fiz sinal com as mãos, tentando dizer para ele desamassar a bolinha. Em alguns segundos ele entendeu, desamassou a bolinha e leu o que estava escrito. Um sorriso, até então ausente, apareceu no seu rosto. Ele fez sinal de jóia, sorri e sai do meu quarto, sem aquele peso na consciência.

A cada momento que se passava, eu tinha mais esperanças de que o Vinicius fosse gay, e estivesse interessado em mim. Eu estava começando a perceber que era mais do que amizade, eu estava me apaixonando por ele. Aquilo me trouxe um turbilhão de pensamentos. Comecei a me preparar para mais uma decepção amorosa. Era provável que ele se demonstrasse ser heterossexual e eu ficaria triste, afinal, sempre acontecia assim com todos os garotos que eu me interessava.

Fui tomar um banho, não fiquei enrolando, pensando na vida nem nada. Enfim, quando voltei ao meu quarto, encontrei uma bolinha de papel no chão do meu quarto. Tive um estalo, percebi que era alguma mensagem do Vinicius. Olhei pela janela, mas ele não estava mais lá.

Estiquei o papel em cima da minha mesa e li: “bem que você disse que as janelas seriam boas pra passar recados... kkkk... não se preocupe com a brincadeira!”.

Aquela mensagem era meio neutra, não dava pra concluir se ele tava feliz ou indiferente.

No dia seguinte, nos encontramos de novo, as coisas já estavam ficando bem claras, mas nenhum de nós dois tínhamos coragem de abrir o jogo com o outro. Ele apareceu em casa dizendo que tinha ficado sozinho em casa e pensou em fazer uma visita. Foi a desculpa mais esfarrapada e fofa que eu ouvi, kkkk.

Infelizmente, eu não estava sozinho em casa pra conversar com ele. Andamos sem rumo e acabamos sentados na beira da piscina.

Felipe: Então te abandonaram em casa?<br>

Vinicius: Eu que quis, na verdade...

Olhei pra ele esperando o fim da frase, mas ele pareceu que não ia terminar.

Vinicius: Meu irmão foi com meus pais fazer sei lá o que. Não prestei atenção quando me disseram, eu tava meio distraído.

Felipe: Jogando?

Vinicius: Tomando banho.

Ok, talvez vocês não pensassem besteira nesse momento, mas eu pensei, ok? Porque ele não desviou sua atenção pra alguém falando do outro lado da porta? Ele devia estar fazendo algo muito prazeroso, rs.

Felipe: Pensando na vida?

Vinicius: Mais ou menos isso...

Felipe: Entendi...

Vinicius: Entendeu mesmo? – ele disse num tom “sacana”.

Ele parecia querer me fazer entender o que ele estava fazendo.

Felipe: Garanto que sim.

Vinicius: Você não curte muito né?

Senti a pele do meu rosto ferver. Eu devo ter ficado vermelho!

Felipe: Hã?

Vinicius: Você não curte piscina!? Nunca reparo em você nadando aqui.

Felipe: Quase ninguém aqui em casa é chegado em piscina.

Vinicius: Então porque fizeram uma?

Felipe: Não fizemos. Já tinha quando compramos a casa.

Vinicius: ah sim. Faz tempo que moram aqui?

Felipe: Pouco depois do divórcio dos meus pais! Não lembro exatamente quando.

Nessa hora o celular dele tocou. Ele mexeu, leu a mensagem que tinha recebido e fez um som de deboche com a boca.

Vinicius: Meu irmão sabe ser chato.

Felipe: Achei que você gostasse dele.

Vinicius: Gosto, mas isso não significa que ele não é chato às vezes...

Felipe: Ele parece legal.

Vinicius: Depois que você conhece ele é. Antes ele parece meio chato e arrogante, mas é falta de algumas coisas.

Felipe: De que?

Ele me olhou rindo.

Vinicius: Esquece...

Felipe: Essas coisas que você fala sobre ele, dão a entender que ele é gay...

A expressão dele ficou séria.

Vinicius: Eu sempre suspeitei isso. Teve uma fase da minha vida que eu era apaixonado por ele...

Ele parou de falar de repente. Percebi que ele tinha se assustado, mas eu levei alguns segundos pra me dar conta do que ele tinha dito. Só que isso fez parecer que eu não tinha prestado atenção, e eu levei a situação por esse caminho.

Vinicius: Tá me ouvindo?

Virei o rosto devagar e falei: desculpa. Eu tava com o pensamento longe.

Vinicius: Você é bem desligado né?

Felipe: De vez em quando.

Vinicius: Você parece ser o tipo de pessoa que vê tudo pelo lado positivo.

Felipe: Sério?

Vinicius: Sério! Você tem cara de quem agradece poder ouvir, ao invés de reclamar do barulho na rua.

Felipe: De onde você tirou isso?

Vinicius: Sei lá, intuição sobre você.

Dei uma risadinha.

Felipe: O que mais sua intuição diz?

Vinicius: Que to parecendo um idiota agora...

Felipe: Não é verdade! Você tem um pouco de razão, mas nem sempre eu sou tão otimista.

Vinicius: Mesmo assim, eu gosto de conversar com você. Você sabe ouvir... só uma vez ou outra que se desliga do mundo.

Felipe: É, eu paro pra pensar nas horas erradas.

Vinicius: E tem hora certa pra fazer isso.?

Olhei pra ele achando que ele tinha me tirado, mas ele piscou, e eu entendi que aquilo tinha sido uma tentativa falha de bancar o filósofo.

Felipe: Já vi crianças de 10 anos dizendo coisas mais filosóficas que essa.

Vinicius: Sem graça.

Felipe: Desculpa.

Vinicius: Também é educado.

Encaramo-nos por alguns segundos. Pela expressão dele, parecia que ia me agarrar. Eu me entusiasmei e falei sem pensar: minha mãe está em casa.

Ele fez uma cara de dúvida e disse: Legal, mas e daí?

Senti-me desanimado, em momentos assim tudo o que eu já tinha pensando sobre ele ia pelo ralo.

No mesmo minuto ele se levantou.

Vinicius: Eu tenho que ir.

Felipe: Ah, tudo bem.

Eu não sabia se eu tinha dado uma bola fora ou se tinha entregue tudo e ele quis se afastar pra pensar ou pra evitar que rolasse algo ali mesmo.

Mau nos despedimos e ele foi pra casa. Nesse momento, um turbilhão de pensamentos tomou minha cabeça. Pensamentos eróticos, comuns, sentimentais, duvidosos e amedrontados. Será que ele estava gostando de mim? Será que ia se aproximar mais ou se afastar? Quando eu ia vê-lo de novo? Como era o corpo por baixo daquela roupa?

Bem, aquele dia passou sem mais notícias do Vinicius. Assim como o dia seguinte, e o seguinte... Eu não tinha chances de falar com ele, por passar o dia todo na aula. E de noite eu não tinha coragem de bater na porta do vizinho pedindo pra falar com o filho dele.

Aconteceu que, na quinta feira, eu faltei no curso técnico por vagabundice, kkkk, e fiquei com o período da tarde livre. Cheguei em casa... almocei... passei uma água no corpo (tava muito calor)... e finalmente me acomodei no sofá e fiquei assistindo TV (não me tenham como exemplo, não faltem à aula por algo tão inútil).

Eu confesso que dormi por alguns minutos. Eu vivia cansado durante a semana. Dormia só de encostar num lugar confortável.

Quando acordei, era aquele horário chato de propaganda naquele canal chato. Ao invés de mudar o canal, desliguei a TV e fui pro meu quarto.

Eu ia mexer na internet, mas quando olhei pela janela e vi o Vinicius arrumando a cama, eu respirei fundo. Olhei pra ele dobrando um lençol por alguns segundos, me convenci de que sua expressão triste tinha o mesmo motivo da minha, tomei coragem, vesti uma camisa sem manga e em alguns segundos eu estava tocando a campainha da casa dele.

Em algum tempo o próprio Vinicius abriu o portão. Ele arregalou os olhos quando me viu.

Felipe: Tudo bem? Tá sozinho em casa?

Vinicius: Meu irmão tá no quarto dele. Mas porque?

Felipe: Eu tenho uma coisa pra te mostrar. Termina o que você tá fazendo e vem aqui em casa depois.

Ele pareceu confuso...

Vinicius: Tá bom.

Eu não pretendia esperar mais. Só que eu tive que adiar pelo fato do Gabriel estar em casa. O Vinicius tornou a entrar e eu voltei pra casa. Fiquei nervoso, minhas mãos gelaram, enfim, naquela tarde seria tudo ou nada.

Pessoal, encerro esse capítulo por aqui.

Quem quiser me adicionar no skype, fique a vontade: felipecontos2013@outlook.com

Eu não to podendo entrar com muita frequência, mas Às vezes eu entro. ;)

Espero que estejam gostando, até mais. =)

Comentários

Há 1 comentários.

Por Fernando em 2013-09-01 20:15:16
Muito boa sua história, estou gostando a cada capitulo.