O garoto da casa ao lado (parte 5)

Parte da série Meu amor se mudou pra casa ao lado

Bem, as coisas começaram muito bem sim. Nossa convivência era perfeita, nos amávamos muito. Depois daquele dia onde tivemos nossa primeira vez, minha vida mudou, eu passei a dedicar grande parte do meu tempo livre pra ficar com o Vini, o único problema era manter isso escondido das nossas famílias. Nem sempre era fácil.

No sábado seguinte, eu acordei muito mais cedo do que eu queria. Acordei sete e meia da manhã, e como eu não consigo ficar muito tempo deitado depois de acordar, levantei, vesti uma bermuda antes de sair do quarto (eu tinha me acostumado a dormir de cueca, e não conseguia mais dormir com roupa, a roupa me incomodava e eu não dormia direito). Fui ao banheiro, lavei o rosto, e desci até a cozinha.

Minha mãe estava esquentando água para fazer seu precioso café, sem o qual ela não consegue passar a manhã (entre nós, eu também gosto).

Fátima: Bom dia, filho. Caiu da cama?

Felipe: Bom dia... foi involuntário.

Fátima: Entendi. Mas já que você levantou, me faz um favor?

É claro que eu sabia o que ela ia me pedir. Só que eu não conseguiria negar um favor pra minha mãe.

Felipe: O que?

Fátima: Precisa buscar pão...

Felipe: Tá, eu vou.

No fundo eu não queria ir. Estava com muita preguiça, ainda assim calcei um chinelo, vesti uma camisa sem manga e fui saindo. Nós não morávamos no centro, então ninguém se preocupava em sair todo bonitão e arrumado na rua.

A padaria ficava uns três quarteirões no sentido da casa do Vini, eu fui andando meio devagar, sem pressa nenhuma, e alguns metros depois do portão do Vini, eu ouvi um estalinho de uma chave, olhei pra trás e vi o portão se abrindo. Desde meu corpo até minha alma torceram pra ser o Vini saindo, mas não era, era o Gabriel. Ele estava vestido igual a mim, chinelo, bermuda e camisa sem manga.

Gabriel: Bom dia.

Felipe: Bom dia.

Gabriel: Parece que nós dois acordamos bem cedo hoje hein.

Felipe: Também parece que nossas mães pediram a mesma coisa pra nós dois.

Gabriel: Pão?

Felipe: Exatamente.

Ele deu uma risadinha e fomos andando juntos. Procurei não pensar no que o Vini tinha me contado e mantive um bom humor com ele.

Felipe: Seu irmão já acordou?

Gabriel: Ainda não. Ele costuma acordar tarde.

Felipe: Hum.

Gabriel: Por que?

Felipe: Nada não...

Gabriel: Vocês já se tornaram muito amigos né?

Felipe: É. Nos demos bem.

Gabriel: Entendi. Ele nem é irmão de sangue, ele é adotado...

Felipe: Eu sei, mas isso significa algo ruim pra você?

Gabriel: Não, não, não foi isso que eu quis dizer. Foi só um comentário...

Ficamos um tempo em silêncio, entramos na padaria e saímos logo. Tinha só algumas pessoas mais velhas comprando algumas coisas. Na volta, o Gabriel tornou a puxar assunto:

Gabriel: Você faz academia?

Felipe: Não, por quê?

Gabriel: Eu queria saber se tinha uma por aqui. E pensei que você fazia...

Dei uma risadinha irônica...

Felipe: Tenho corpo de quem faz academia?

Gabriel: Tem.

Ele falou sério.

Felipe: Desculpa, achei que tava brincando.

Gabriel: Não. Na boa, você tem um corpo que muito cara da nossa idade quer ter. Não sei como você tem isso sem academia.

Felipe: Não faço ideia.

Ele tinha um bom papo, devia ser pegador com as meninas. E, sinceramente, era bonito. Um cabelo preto, rosto bonito. Olho castanho claro, corpo atraente... Mas o meu Vini era mais que ele em tudo!

Gabriel: Vai fazer o que mais tarde?

Eu pretendia passar um tempo com o Vini, né? Mas como eu ia dizer isso pra ele?

Felipe: Nada planejado ainda...

Gabriel: Quer dar uma volta de bike?

Felipe: Que hora?

Gabriel: Sei lá. Na verdade é mais gostoso pela manhãzinha. Que tal lá pelas oito?

Felipe: Beleza! A gente se encontra aqui fora?

Gabriel: Pode ser.

Felipe: Então tá.

Entrei em casa pensativo, ele não era chato como eu imaginava. A primeira impressão que tive dele foi meio negativa! Quem leu os capítulos anteriores sabe do que to falando.

Conversei bastante com minha mãe enquanto tomamos café, nós dois estávamos bem falantes naquele dia. Mesmo assim, o tempo parecia passar mais lentamente que o normal. Já percebi que seria um dia DAQUELES.

Quando foi chegando a hora combinada com o Gabriel, eu fui calçar um tênis, era a única coisa que eu precisava mudar antes de ir. Não adianta dizer que ainda faltava a roupa de ciclista, porque não visto aquilo não.

Voltando ao assunto, logo eu saí de casa, o Gabriel já estava me esperando, e, assim como eu, ele também só tinha calçado um tênis e trocado de camisa.

Gabriel: Aonde você quer ir?

Felipe: Você que manda.

Gabriel: Então tá.

Saímos um ao lado do outro, como morávamos num bairro um pouco mais tranquilo, não tivemos problemas com carros. A situação mudou um pouco depois de alguns minutos...

Gabriel: Você gosta de animes?

Felipe: Gosto, por que?

Gabriel: Nada, ué. Só to tentando te conhecer mais.

Felipe: Foi mal, eu gosto de anime sim, e você?

Gabriel: Também gosto! Já assistiu muitos?

Felipe: Cerca de 10 diferentes, comparado com muita gente por ai, ainda é pouco! Eu já fui criador de conteúdo de páginas de animes no facebook, mas eu comecei a ficar com pouco tempo livre por causa da escola, então abandonei a página, já que o dono não queria nem saber se eu tava ocupado com a escola ou não... ele só queria que eu postasse o tempo todo!

Gabriel: Aí não dá. Eu não assisti muitos não. Só os mais conhecidos, sabe?

Felipe: Sei bem.

Gabriel: Você namora?

Felipe: Não.

Gabriel: Pretende namorar?

Felipe: Não.

É claro que tinha o Vini, mas eu não podia contar pro Gabriel...

Gabriel: Por que não?

Felipe: Antes eu quero terminar essa vida corrida que tenho com escola. Depois eu penso em namorar.

Gabriel: Eu pensava assim...

Felipe: Agora pensa diferente?

Gabriel: Um pouco. Eu não consigo ficar sozinho, entende? Eu preciso de alguém pra conversar sobre tudo!

Felipe: Sei. Eu sou meio solitário. Geralmente prefiro encarar tudo sozinho.

Gabriel: Você acha que ter alguém contigo vai te atrapalhar quando você tiver um problema?

Eu nunca tinha pensado assim.

Felipe: Não acho que vai me atrapalhar, eu só prefiro estar sozinho.

O trânsito começou a ficar um pouco mais intenso. Já não podíamos andar um ao lado do outro. O que nos fez parar de conversar. Até chegarmos ao local planejado. Um parque perto do centro da cidade. Era bem grande, com um lago no centro e uma pista de caminhada ao redor. Também tinha espaço para ciclistas. Tinha bastante gente caminhando, principalmente pessoas de meia idade, alguns idosos e poucos jovens de bicicleta.

Gabriel: Você não vem muito aqui, né?

Felipe: Não.

Eu não quis contar pra ele, mas eu ia muito àquele parque com meus avós maternos, quando era criança. Mas os dois faleceram repentinamente, e depois eu fui poucas vezes com minha mãe.

Encarei o parque por um tempo, depois olhei pra ele tentando disfarçar. Paramos embaixo de uma árvore, sem descer da bicicleta, só apoiamos no chão com os pés.

Gabriel: Você não gostou de vir aqui?

Felipe: Gostei.

Gabriel: Não parece. Você ficou sério depois de ver que era pra cá que eu estava te trazendo!

Achei melhor não tentar uma desculpa esfarrapada, então contei sobre meus avós.

Gabriel: Eu sinto muito, você deve ter sentido saudade deles agora.

Felipe: Muita! Minha mãe ia trabalhar e eles ficavam cuidando de mim, todos os dias! Eles me traziam aqui, eu tomava um sorvete, caminhava um pouco com eles, brincava com meu vô, e depois a gente ia embora.

Gabriel: Parece uma família de filme...

Eu fiquei em silêncio...

Gabriel: Desculpa. Eu não quis insinuar que é mentira. Só quis dizer que você tem uma família especial. Muitos querem algo assim.

Felipe: Eu entendi. Posso perguntar uma coisa?

Gabriel: Claro.

Felipe: Você namora ou algo parecido? Você só disse que gosta de ter alguém pra conversar!

Gabriel: Tem razão. Mas eu não namoro ainda. Já tive meus amores não correspondidos, mas isso é outra história.

Felipe: Certo. Nem vou insistir nisso.

Gabriel: Um dia eu te conto.

Felipe: Se você pudesse, voltaria pra sua cidade?

Gabriel: Não. Aprendi a gostar daqui!

Felipe: Que bom.

Gabriel: E seu pai?

Felipe: O que quer saber dele?

Gabriel: Tudo bem se não quiser falar sobre ele, mas como ele era?

Felipe: Talvez eu não devesse falar assim do meu pai, mas eu não quero mais saber dele.

Gabriel: É tão mal assim a situação?

Felipe: Não tem situação nenhuma. Ele era um cara frio, que não ligava pra própria família, e perdeu o que tinha.

Gabriel: Ele não era um bom pai?

Felipe: Eu não me lembro dele brincar comigo uma única vez. Eu ia na casa dos meus amiguinhos, e via os pais deles brincando com a gente, eu me perguntava porque meu pai não era daquele jeito. Eu pedia tanto pra que meu pai fosse igual ao pai dos meus amigos. Eu tentava tudo o que achava que ele gostava, mas quando contava pra ele, ele não dava muita atenção.

Gabriel: É uma pessoa da qual você não tem saudade?

Felipe: Com certeza!

Gabriel: Eu sou péssimo psicólogo, não sei o que falar agora.

Dei risada e falei: Não precisa falar nada! Não to depressivo por causa disso!

Gabriel: Desculpa.

Felipe: Você pede desculpa demais.

Gabriel: Sério? Desculpa por isso...

Ele deu uma risadinha depois de dizer aquilo, eu ri junto.

Gabriel: Você é legal. No começo achei que era meio metido.

Felipe: Já ouvi muito isso.

Gabriel: É sério, você conversando com meu pai como se tivesse a mesma idade dele. Eu fiquei meio surpreso e achei você meio metido.

Felipe: To acostumado a conversar com pessoas mais velhas que eu.

Gabriel: E qual foi sua primeira impressão a meu respeito?

Felipe: Você parecia mal humorado e antissocial.

Gabriel: Eu ainda estava meio rabugento por causa da mudança... Não aceitei tão bem como meu irmão.

Na hora eu me lembrei do Vinicius, tinha até me esquecido dele. Na verdade, eu tinha esquecido tudo durante a conversa com o Gabriel.

Felipe: É, ele me pareceu feliz desde o começo.

Gabriel: Acho que ele foi com a sua cara!

Felipe: Acho que sim...

Gabriel: Eu sou mais legal que ele?

Felipe: Hã? Por que essa pergunta agora?

Gabriel: Ele se afastou de mim de um tempo pra cá. Eu comecei a achar que eu era chato demais.

Felipe: Você não é chato. Nenhum de vocês dois! Só que não dá pra dizer quem é mais legal!

Gabriel: É, foi uma pergunta sem sentido.

Alguns segundos de silêncio, e ele disse: eu soube que você fez uma cena lá na sua casa.

Felipe: Tá falando do que?

Gabriel: Você peladão na frente das visitas.

Eu senti meu rosto pegar fogo. Com certeza fiquei vermelho! Por que ele tinha que ter falado daquilo?

Ele riu e falou: eu queria que visse sua própria cara agora! Parece um pimentão.

Felipe: Eu estava dormindo, e tenho essa mania de dormir sem roupa. Saí do quarto sem nem imaginar que tinha visita! Além disso, eu estava de cueca!

Gabriel: Calma! Relaxa! Eu só tava brincando! Você é bem tímido, né?

Felipe: Depende da situação.

Gabriel: É, parece que perdi a cena...

Felipe: Por que você não foi em casa naquele dia?

Gabriel: Como você disse, eu estava de mal humor e antissocial!

Felipe: Entendi...

Gabriel: Nada contra vocês... eu só não queria ter me mudado de cidade!

Felipe: Eu entendo, relaxa.

Gabriel: Bom, acabamos só conversando e nem mesmo demos um volta no lago.

Felipe: Ainda não é tarde.

Gabriel: Melhor a gente voltar.

Felipe: Que isso? Mudança repentina de humor?

Gabriel: Mais ou menos.

Felipe: Por que quer ir embora? Não tá gostando?

Gabriel: Claro que sim. Só que me deu vontade de ir pra casa.

Felipe: Besteira. Vem agora dar uma pedalada!

Não esperei ele responder e saí na frente. No mesmo instante ele encostou do meu lado.

Gabriel: Aproveitar esse tempo, não sei quando vou voltar aqui, né?

Felipe: Exatamente.

Eu até contaria o resto, até voltarmos pra casa, mas não tem mais nada interessante. E eu acho que já é hora de encerrar essa parte.

Até a próxima! ;)

Comentários

Há 2 comentários.

Por LordPi em 2013-09-05 00:36:18
Amo essa história! Linda, linda, linda! :D
Por Fernando em 2013-09-04 17:59:30
Olá caro escritor Gostaria que soubesse que admiro sua história real que você está contando, nos momentos que não tenho quase nada pra fazer fico relembrando das suas histórias aqui contadas. cordialmente Felipe