❦ Enfim - Capitulo 1
Parte da série ❦ Meu Chefe é a minha paixão ❦
- eu preciso que você faça duas ligações urgentes, a primeira é para a transportadora que ficou de nos enviar os tecidos hoje e ainda não chegou, a segunda é para a Ponteiro remarcando a minha reunião para as 13:00 horas, e esteja pronto pois eu precisarei de você lá – falou de cabeça baixa
- sim senhor – falei- e mais uma coisa, não esquece de... – parou
Ele estava me olhando, e juro que nunca havia visto alguém tão bonito quanto ele, se não fosse o medo e o nervosismo, eu estaria hipnotizado por aquela beldade de homem.
Três dias antes....
Eu me chamo Bernardo, mas todos, tipo todos que me conhecem, só me chamam de Ben, eles dizem que é mais curto. Tenho meus lindos 18 anos, o meu corpo hoje está com tudo em cima, mas eu já fui gordinho, tipo gordinho mesmo.
Tenho cabelos castanhos, olhos castanhos, pele clara devido à minha mãe já que meu pai é moreno. Enfim, sou normal, não chamo muita atenção em nada.
Moro com meu pai desde que minha mãe nos abandonou, ela trocou o meu pai por um homem rico que ela conheceu, hoje deve estar por ai curtindo a vida. Ao contrário de muitos, eu não me apeguei ao meu pai quando ela se foi, nisso eu tinha uns 8 anos de idade.
Eu não era assumido, até os meus 16 anos eu fingia para o meu devido ao seu jeito de ser, sempre sério, nervoso comigo em certas coisas, enfim, nunca nos demos super bem, mas vamos levando a medida do possível. Como eu disse, não era assumido, mas fui obrigado a me assumir devido a algo que aconteceu comigo quando tinha 16 anos. No colégio eu conheci um rapaz, bem legal, bonito, do tipo charmoso quando quer e sedutor sempre, gostava de conversar com todo mundo. Ficamos amigos depois de alguns meses de aula, ele passou a frequentar a minha casa e eu a dele, ficamos amigos e meses depois começamos a namorar.
Eu sempre ia à sua casa com a desculpa de fazer trabalhos de escola, mas nunca fazíamos, ficávamos mesmo era nos beijando na cama dele. Em um dia desses, estávamos a sós, ele disse que queria me comer, mas eu nunca havia dado a ninguém e não queria dar a ele naquele momento, ele insistiu e eu neguei, ele começou a ficar nervoso e eu peguei minhas coisas para ir pra casa, ele me bateu jogando o meu corpo na cama, minha mochila caiu no chão com meu notebook e tudo mais, tentei me livrar dos braços dele e não consegui.
Ele me comeu e eu não senti tesão nenhum, pelo contrário, eu senti nojo do meu corpo, nojo de existir, cheguei a vomitar na cama dele e chorei enquanto o pau dele deslizava pelo meu cu, ele não se importou e continuou, chorei o máximo que pude e ele só parou por que a mãe dele havia voltado, ele não havia nem gozado.
Depois desse dia eu não fui a escola, não queria sair e a única coisa que eu fazia era vomitar e chorar. Não que eu fosse covarde, mas a dor de ser usado era mais forte que qualquer sentimento de autoestima. Foi uma das únicas vezes que e vi meu pai preocupado de verdade comigo. Tive que contar a ele o que aconteceu, pude ver a raiva em seus olhos, ele estava com vontade de bater não só em mim como no Douglas, tive medo dele, dos gritos, dos murros na parede e chorei mais ainda.
Meu pai é policial e toda a fúria dele vem da vida que ele leva para manter essa sociedade em ordem, do desprezo que a minha mãe deixou quando foi embora, e agora, de ter um filho gay, pude perceber que ele não aceitou bem.
Perdi de ano, não fui mais ao colégio naquele ano, o Douglas não foi preso pois era menor de idade, não sei o que aconteceu com ele pois eu não quis saber, preferi excluir essa parte da minha vida. Rasguei todas as fotos e as queimei junto com as cartas que ele havia me dado, quebrei o meu celular e me exclui do mundo. Sei que tudo isso é muito chato e monótono, mas são confissões de uma vida.
No ano seguinte, repeti o segundo ano do ensino médio, onde conheci a Camila, um anjo que entrou na minha vida e me ajudou a sair da foça. Meu pai ainda não havia entendido que eu não escolhi ser gay, nasci assim, ele só falava comigo o mínimo.
Hoje, com 18 anos, estou cursando o 3º ano do ensino médio junto com a Camila que é minha flor e minha confidente. Meu pai continua com o mesmo jeito dele, o jeito sério de ser e comigo ficou pior ainda. Decidi que não iria mais viver desse jeito. Em um dia de trabalho dele, aproveitei que ele estava trabalhando a noite, coloquei minhas coisas em uma mala, o essencial, quer dizer, não tinha muita coisa mesmo. Enfim, coloquei o que deu na mala e peguei um taxi até a casa da Camila que ficava do outro lado do rio de Janeiro.
A Camila é linda e rica, os pais só colocaram ela em uma escola pública por que ele se meteu em encrenca durante dois anos seguidos na escola privada, gastava todo o dinheiro dos pais em coisas sem necessidade e estava virando a garota mimada. Mas, o bom é que ela mudou e hoje é outra pessoa, que sabe dar valor as coisas.
Avisei a ela que estava indo e chorei quando vi que o ultimo dinheiro que eu tinha era o do taxi. Parei em frente à casa dela com minha mala, iria ficar lá até encontrar um emprego e depois me mudar para um lugar baratinho, iria fazer a minha vida.
- você falou com seus pais? – perguntei parando de frente para ela
- ainda não, mas eu vou contar agora – falou
- você é maluca? Eu não vou entrar lá não, - falei
- vai sim, vem – falou puxando a mala
- solta – falei puxando do outro lado
- essa porra está pesada, tem o que aqui? Seu guarda-roupas? – perguntou soltando
- é tudo o que eu tenho contando com os livros da escola – falei
- coube tudo ai dentro? – perguntou
- não sou rico para ficar trocando de guarda roupas todo mês não – falei
- tá, tudo bem – falou
Passei pelo portão, entramos na casa e deixei a mala do lado de fora da porta, os pais dela estavam na sala, sua mãe vendo televisão e o seu pai no computador.
- Ben – falou sua mãe levantando
Ela me abraçou e deu um beijo no rosto.
- olá Srta. Rose, como vai? – perguntei
- ótima querido – falou
Cumprimentei o pai dele que acenou para mim.
- mãe, o Ben está aqui por que ele me pediu um favor e eu pensei que poderíamos ajuda-lo – falou
- aconteceu alguma coisa? – ela perguntou
- é que, desde que ele se assumiu que ele e o pai não se dão muito bem, e agora as coisas estão mais estranhas ainda, as vezes ele nem fala com o Ben direito, ele pediu se não poderia passar uns dias aqui – Camila falou
- olha se não der não se preocupe – falei
A mãe dela olhou para o pai e parecia que conversavam com olhares, fiquei assustado.
- bom, desde que não haja problemas com seu pai, tudo bem – ela falou
- não se preocupe, eu logo conseguirei um emprego e vou me mudar – falei
- não se preocupe com isso querido, fique o tempo que precisar – falou
A Camila quase voou na mãe beijando e abraçando, enfim, os pais dela eram modernos, mas não tanto, me impediram de ficar no quarto da Camila depois das 00:00 horas.
Havia deixado um recado em casa e no dia seguinte, meu pai me ligou feito uma metralhadora, eu não atendi pois estava na sala de aula. Na saída da escola ele estava me esperando no pátio, tentei me esconder na multidão e não consegui, ele havia me visto, caminhei até ele.
- que diabos você pensa que está fazendo? – falou gritando
- estou cuidando da minha vida – falei
- cuidado da sua vida? Ficando de favor na casa dos outros? Olha só, aquele seu recadinho gay me deixou com mais raiva ainda, parecia até recado de garotinha de 6 anos de idade. Você vai voltar para casa e vai parar com essa palhaçada – falou
- voltar pra que? Pro senhor ficar me ignorando, fingindo que eu não existo? Isso tudo por que tem vergonha do filho ser gay. Eu sou maior de idade e faço da minha vida o que eu quiser – falei
- olha como você fala comigo moleque, você pode ter 30 anos, se eu achar que você deve apanhar você vai apanhar, e quando eu falar com você não me responda desse jeito, eu quero você em casa entendeu? – falou entrando na viatura e arrancando
Fiquei morto com aquilo, todo mundo me olhando. Camila veio para perto de mim depois que ele saiu e ficou me olhando com cara de quem perguntava o que aconteceu. Quase chorei, mas seria vergonhoso demais. Como eu sou teimoso, não voltei para casa, eu sabia o que ele iria fazer, iria bater na porta da Camila e falar com os pais dela até que eles ficassem com medo e me mandassem embora, mas vejam só, eu fui mais rápido e conversei com eles. Foi dito e certo, a noite ele apareceu lá e ouvi ele conversando, falou que eles não tinham direito de estar fazendo isso, que eu era o filho dele e tudo mais.
Não voltei para casa. Já fazia um mês que eu estava na casa da Camila e não consegui nenhum emprego que desse para conciliar com a escola, até que em uma sexta à noite, no jantar o pai da Camila disse que tinha algo para me falar, já fiquei com o coração na boca esperando o intimado.
- olha Ben, eu percebi que você não conseguiu um emprego, e a Camila me pediu para ver se eu conseguia algo para você. Bom, tenho um amigo da faculdade que é dono de uma empresa de moda aqui no rio de Janeiro e ele precisa de uma assistente, conversei com ele e falei de você, ele precisa de uma mulher, mas eu consegui uma brecha para você fazer uma experiência, se você se sair bem, fica com o emprego – falou
- sério? Eu não acredito – falei
- sim, lhe passo o endereço e tudo certinho depois – falou
- muito obrigado, muito obrigado mesmo, não sabe o quão importante isso é pra mim – falei
- por favor, capriche pois eu falei bem de você lá, e até hoje eu nunca recomendei alguém ruim, e tem mais uma coisa – falou
- o que? – falei
- você só pode trabalhar lá se tiver algum dependente, nesse caso é seu pai, você vai ter que falar com ele – ele disse
Não digo que eu fiquei triste, até por que era uma oportunidade que estava aparecendo em minha vida. Na segunda feira eu acordei cedo, fui a escola somente para me transferir para a tarde, pois pela manhã era quando mais iria trabalhar, estava emocionado e claro, nervoso. Camila mudou para a tarde também, éramos inseparáveis. Nisso eu já havia ido até a empresa, peguei os papeis e teria que voltar até as dez, era quando o Sr. Caio, dono da empresa chegaria. Fui até a delegacia e meu pai estava lá, conversando com mais dois policiais, me aproximei dele e cumprimentei os colegas dele.
- preciso falar com o Sr. – disse
- o que você quer? – perguntou me olhando
- preciso que o Sr. Assine esse papeis aqui, são seguros de uma empresa que eu vou começar a trabalhar – falei
- e por que eu tenho que assinar isso? – perguntou
- são questões de segurança, coisas legais – falei
- eu só assino com uma condição – perguntou
- que condição? Não vem com essas coisas pra cima de mim não – falei
- só se você voltar para casa, ou do contrário eu não assino nada – falou
Eu fiquei pensando, ele estava tirando com a minha cara, mas eu não poderia fazer nada, estava em cima da hora e teria que voltar logo.
- tudo bem, assina logo – falei
Ele pegou o envelope das minhas mãos.
- a que hora tem que entregar isso? – perguntou
- até as 18, mas tenho que estar lá daqui a 20 minutos – falei
- bom, então façamos assim, você vai e como sei que você vai ter que estudar ainda hoje, leve suas coisas para casa e eu levo esse documento as 17 – falou
- não, e como é que sabe que eu mudei de turno? – perguntei
- do mesmo jeito que eu sei com quem você anda e o que faz, acha que eu sou o que em Bernardo? – perguntou
- chato, isso sim – falei
- estamos de acordo? – perguntou?
- infelizmente sim – falei
- olha lá como fala comigo garoto – falou
- por favor, preciso disso ainda hoje – falei
Ele acenou e virou o rosto. Ótimo, desejei atenção e agora eu tinha. Corri para a empresa, peguei um moto taxi que voou feito avião, morri de medo mas fazer o que né? Enfim eu cheguei, mostrei meu crachá na entrada, subi no elevador, parei no andar e corri até a sala da Adriana, ela iria me ajudar a começar.
Faltavam 2 minutos para as 10 horas, ela me mostrou a agenda do chefão, me mostrou a minha mesa e disse que eu teria 2 dias para fazer tudo certo, se conseguisse eu estaria com o emprego, ela mal fechou a boca e entraram na sala.
- Adriana, pede ao novo assistente para ir até a minha sala, preciso de urgência aqui – falou uma voz grossa
- tudo bem Sr. Caio – ela respondeu
Eu nem me virei, de costas eu estava, de costas eu fiquei. Também foi tudo muito rápido.
- você ouviu, corre logo, e leve o bloquinho para não se perder, anote tudo – ela me falou
- tudo bem, obrigado – falei saindo
Entrei na sala e estava de cabeça baixa, fechei a porta de vidro com cuidado e me aproximei da mesa ficando em pé a frente.
- com licença – falei
- ainda bem que chegou, eu preciso que você faça duas ligações urgentes, a primeira é para a transportadora que ficou de nos enviar os tecidos hoje e ainda não chegou, a segunda é para a “Ponteiro” remarcando a minha reunião para as 13:00 horas, e esteja pronto pois eu precisarei de você lá – falou de cabeça baixa
- sim senhor – falei
- e mais uma coisa, não esquece de... – parou
Ele estava me olhando, e juro que nunca havia visto alguém tão bonito quanto ele, se não fosse o medo e o nervosismo, eu estaria hipnotizado por aquela beldade de homem. Meu Deus, meu chefe era realmente um gato, e com aquela voz grossa...