O Poder da Paixão - Capitulo 4
Parte da série O Poder da Paixão
Cap -4
Naquele dia em que eu sai da escola, deixei a Bia conversando com o Rafael. Cheguei em casa com uma vontade enorme de dormir, acho que pela noite passada. Tomei meu banho, desci e almocei, acabei almoçando sozinho já que o David e o Junior estavam fora e o Cadu na escola.
Depois do almoço eu subi e me deitei na cama, fechei os olhos na esperança de dormir um pouco, o sono parecia ter sido despertado. Me levantei e liguei o computador, coloquei uma playlist de músicas para escutar, coloquei em um volume razoável, deitei na cama novamente e comecei a acompanhar algumas músicas.
Me peguei pensando na minha mãe, no rosto dela que havia me aparecido no sonho noite passada, no jeito como ela falava comigo, como ela me olhava e isso doeu um pouco, a saudade bateu e a indignação também, ela não deveria ter morrido daquele jeito, sem nem ao menos dizer um adeus.
As lagrimas iam escorrendo dos meus olhos. Eu estava com medo, com muito medo mesmo, acho que mais do que eu senti quando soube de sua morte. Olhar aquele quarto tão grande, aquela casa grande, as roupas caras e tudo o que eu havia ganhado, será mesmo que valia apena ter tudo aquilo e sentir essa dor que eu estava sentindo?
(O que está acontecendo Hugo?) – pensei
Nem percebi quando dormi. Fui abrindo meus olhos lentamente, o quarto já não estava tão claro quanto estava quando eu havia deitado, o sol parecia estar indo embora. Me levantei devagar, peguei o celular no criado mudo e olhei as horas “16:28, dormi demais” – pensei.
Me levantei, as músicas haviam acabado, o notebook estava com a tela escura. Entrei no banheiro e me despi para tomar um banho, assim fiz, tomei um banho bem rápido e logo sai enrolado na toalha, me sequei, coloquei uma cueca e me sentei na cadeira da mesa do computador.
Estava colocando meus deveres em ordem, transcrevi tudo o que tinha que ser feito para o caderno, fiz alguns trabalhos individuais e nem percebi a hora passando, bateram na porta do quarto.
- Hugo? – chamou
- oi – falei
- o Sr. David está lhe chamando na sala – falou a Cintia
- tudo bem, estou descendo – falei
Me levantei e coloquei uma bermuda, vesti uma camisa e logo desci as escadas indo encontrar o David. Ele estava sentado no sofá conversando com a mãe do Junior que ao meu ver abriu um sorriso e veio me abraçar.
- como está meu anjo? – perguntou me abraçando
- estou bem, e a senhora? – perguntei assim que ela me soltou
- ótima – falou voltando a sentar
- Hugo, vamos sair hoje, temos que ir a um jantar na casa da Sofia, então as oito quero que esteja pronto – David falou
- tudo bem, e o Cadu? – perguntei
- está com o Junior na piscina – David falou
- com licença – falei saindo
Eu sabia como me comportar diante das pessoas, minha mãe havia trabalhado na casa de pessoas ricas e acabou que sempre me levava ao trabalho para que eu não ficasse sozinho em casa, via como os filhos se comportavam e são coisas que não esquecemos, era uma realidade diferente da minha até poucos dias atrás, mas isso acabou mudando.
Segui em direção a piscina e Junior estava dentro dela com o Cadu, era por volta das seis da tarde, eles riam e Cadu estava encaixado em uma boia que praticamente cobria seu corpo o deixando livre para flutuar na agua.
- não quer entrar? – perguntou Junior
- não, eu estou bem – falei sentando na cadeira
- apesar do horário a agua está ótima, pode acreditar – falou
- hum – falei
- o que aconteceu? Está tudo bem? – perguntou
- está sim, tudo ótimo – menti.
Claro que não estava bem, não estava nada bem. Eu chorei muito por causa daquele sonho que me trouxe lembranças um tanto quanto ruins, que me fizeram sofrer tudo novamente e isso estava me matando até agora.
- não parece, mas vou acreditar – falou me olhando
Eu logo subi. Entrei no quarto e deitei na cama. Meu celular tocou e era a Bia, eu atendi.
- oi – falou
- oi – disse
- tudo bem? – perguntou
(Mais uma)
- tudo, e com você? – perguntei
- estou bem sim, ótima na verdade. Liguei para saber se vai para a casa do Diih – falou
- não vai dar, tenho um jantar hoje à noite – falei
- mais uma desculpa para se livrar da gente? – perguntou
- claro que não, fiquei sabendo agora a pouco, por que eu iria mentir para vocês? Nos conhecemos somente a dois dias – falei
- verdade, mas eu queria tanto que você viesse conosco – falou
- também queria ir, mas não posso faltar – falei
- tudo bem então, quem sabe na próxima não é? – falou
- claro, eu sinto muito – falei
- não se preocupe. Depois conversamos gatinho, vou me arrumar – falou
- ok então, tchau – desliguei
Eu logo me arrumei, David estava me ajudando. Ele pegou uma calça branca e me entregou, vesti, olhou e olhou no guarda roupas e tirou uma camisa de tecido e uma outra peça azul marinho.
- pra que esse negócio? – perguntei
- é um blazer Slim, não é como aquele comum que eu uso para trabalhar, esse aqui se adequada ao corpo, é mais curto na manga e justo, você pode usar ele em jantares formais, pode usar com camisas comuns e até aquelas de gola V, fica bonito e elegante.
Ele falou ajeitando em meu corpo o tal do blazer.
- legal – falei
Ele pegou um tênis baixo azul marinho também que eu nem sabia que estava ali naquele guarda roupas e me entregou, eu calcei depois de pôr as meias.
- está lindo – falou
Me olhei no espelho e vi uma outra pessoa, não era o Hugo de duas semanas atrás que vestia uma camisa rasgada na lateral e uma bermuda surrada.
- nossa, você deveria trabalhar com esse negócio de moda – falei
- acho que não – falou
- claro que sim, você leva super jeito – falei
- não foi fácil aprender essas coisas, mas eu consegui e logo você não vai mais precisar de minha ajuda, é questão de costume apenas – falou
- muito legal mesmo – falei me olhando
- pelo visto você gostou né, gosta de moda? – perguntou
- não sei, eu gostei do resultado, achei legal, nunca levei jeito pra desenhar ou coisas do tipo – falei
- hum, uma hora ou outra se aprende. Agora deixa eu ir e me arrumar, saímos em meia hora – falou beijando minha testa e saindo
Ele fechou a porta do quarto, eu continuei me olhando no espelho, realmente parecia outra pessoa, acabei tirando uma foto no espelho e deixei com tela de fundo do celular.
Fiquei sentado na cama mexendo no mesmo até a hora em que o Junior me chamou dizendo que iriamos. Cadu também estava lindo com sua calça azul e sua camisa branca. Entramos no carro do Junior e logo fomos.
Levamos alguns minutos para chegar, David conversava comigo sobre a roupa e Junior só brincava com ele. O carro entrou em uma casa enorme, enorme mesmo. Tinha uma espécie de fonte na frente da casa com luzes azuis.
Junior estacionou o carro e descemos, ele bateu na porta e logo vieram abrir. Entramos e os pais dele virem nos cumprimentar. Andamos pela casa, eu me sentei no sofá enquanto o David e o Junior mostravam o Cadu para algumas pessoas que ficavam encantados com ele. Vi uma varanda na parte de cima da casa, tinha uma escada que dava acesso a ela.
Caminhei até ela e subi, fiquei lá em cima olhando pra fora, a agua caia da fonte e as luzes piscavam forte, a brisa estava boa e leve, meus pensamentos foram interrompidos por uma voz que ecoou em minha mente me fazendo olhar para trás.
- te atrapalho? – perguntou
- não – falei
Ela era bonita, tinha os cabelos bem escuros e presos por uma presilha, seus olhos eram meio esverdeados e combinava no sua pele clara bronzeada de sol.
- me chamo Fernanda – falou
- Hugo – falei
- posso ficar aqui com você? Lá em baixo está um porre – falou rindo
- claro – falei voltando a olhar para fora
Ela se aproximou e ficou ao meu lado olhando, pude sentir o seu perfume que incendiou minhas narinas, um cheiro bom.
- estava correndo também? – perguntou
- não, claro que não. Só vim mesmo ver como era aqui em cima – falei
- eu estava correndo, lá em baixo só tem pessoas falando em trabalho, outra falando em roupas e fofocas do dia a dia, e algumas outras meninas estão conversando mais bobagens – falou
- deve ser um saco então – falei
- muito, muito chato. Na verdade eu nem queria vir – falou rindo
- você é de onde? Daqui mesmo? – completou
- sim, sou daqui mesmo – falei
- legal. Sabia que eu ajudei a desenhar essa fonte? – falou
- serio? – falei olhando pra ela
- eu amo desenhar, a dois anos atrás eu fiz esse desenho e minha mãe mostrou a Sofia que é uma grande desenhista de joias, ela gostou e mandou fazer – falou
- nossa, que legal – falei rindo
- pois é, eu nem acreditei quando vi pronto, era só um esboço de nada – falou
- é muito bonita, você tem muito talento – falei
Ficamos conversando, ela era super legal. Arruamos duas cadeiras e sentamos ali mesmo, estávamos tomando uma bebida que haviam trazido. Ela me falava dela e eu contei um pouco sobre mim, começamos a rir de algumas piadas.
Ela levantou dizendo que iria pegar outra bebida, saiu e eu fiquei sentado ali esperando ela. Junior apareceu e sentou-se ao meu lado.
- alguém está se divertindo mais do que eu – ele falou rindo
- do que você está falando? – perguntei
- estou falando de você e da Nanda, de que eu falaria – disse
- só estamos conversando – falei
- eu e o David começamos conversando também – falou dando um gole na bebida
- voltei – ela falou vendo o Junior
- Nandinha – falou ele levantando
- oi lindo, quanto tempo – ela falou cumprimentando ele
- está grande e muito bonita – ele falou
- obrigado, você continua o mesmo ogro de sempre – falou rindo
- nossa, quanta consideração – falou rindo
- sabe que eu te amo não é pequena? – falou
- você conhece o Hugo? – perguntou
- claro, conheço muito o Hugo – falou me olhando
- que legal, - ela falou
- bom, eu vou descer que o David está me esperando lá embaixo, divirtam-se – falou me olhando
Ele despediu-se dela e saiu.
- se conhecem de onde? – perguntou
- eu te disse que fui adotado, tá ai quem me adotou – falei
- o Junior? Nossa que bacana – falou rindo
- pois é, ele é super legal mesmo
- esqueci de te perguntar, você tem namorada? – perguntou
- não, não tenho – falei
- ótimo, muito bom – falou
- nossa, por que muito bom? – perguntei
- por que assim eu posso fazer isso – ela se aproximou de mim e encostou os lábios dela nos meus.
Ela estava apenas deslizando os lábios dela nos meus e logo começamos a nos beijar. Ficamos em pé e eu a encostei na parede e ficamos nos beijando.
- você beija bem – falou me soltando
- você também - falei
(E como beija bem) – pensei
- você quer descer ou quer ficar aqui em cima? – perguntou
- depende, você vai descer? – perguntei
- não – falou
- então eu também não
Ela voltou a me beijar e ficamos nos amassos por alguns minutos. O povo estava todo na parte de baixo da casa, entre a sala e a sala de jantar. Bebendo, conversando.
Tivemos que descer e participar do jantar, as mesas tinham os nomes de cada um, ela ficou de um lado e eu do outro, distante até, mas ela não parava de me olhar, tinha muita gente naquela mesa ainda conversando e falando coisas que eu nem entendia o que eram.
Depois que terminamos o jantar David nos chamou para ir pois ele e o Junior iriam trabalhar no dia seguinte e eu teria que ir para a escola. Fernanda me entregou o seu número e ficamos de nos falar, ela estudava perto da minha escola e disse que passaria lá pra me ver qualquer dia desses.
No caminho foi inevitável, Junior disse que havia visto os beijos, ele e David ficaram comentando e rindo enquanto eu morria de vermelhidão no banco de trás do carro e o Cadu dormia no meu colo.
Em casa eu entrei no quarto e me despi. Tirei minha roupa e fiquei somente de cueca, apaguei as luzes do quarto e me deitei na cama. Meu celular vibrou e era a Fernanda me mandando uma mensagem no Whatsapp, conversamos um pouco mais e ela me disse que passaria na escola pois tinha uma amiga que estudava lá.
Eu fui dormir depois que nos despedimos. No dia seguinte eu acordei e fiz todo o processo matinal. No café Junior ainda perguntou se eu havia dormido bem depois do beijão que eu havia dado na Fernanda. Tive que rir da cara que ele fazia.
Na escola a Bia feio falar comigo e me sentei no mesmo lugar do outro dia. As primeiras aulas foram normais. Estávamos sentados e a professora parou de escrever no quadro.
- tenho um trabalho surpresa para vocês – ela falou e o coro se formou na sala reclamando
- não adianta reclamar, será em dupla e vocês terão que fazer aqui mesmo, mas eu vou escolher quem será par de quem, depois do intervalo conversamos – falou ela
Estávamos liberados para o intervalo. Eu sai da sala junto com o pessoal e a Bia ficou conversando com a professora. Na cantina Rafael continuava me olhando sério, eles comentavam sobre a noite anterior dizendo que havia sido legal, que eu perdi e que devia uma a eles, Rafael continuava a me olhar serio enquanto mordia seu lanche.
Pela primeira vez eu resolvi encarar também, fiquei olhando pra ele que desviou o olhar, eu continuei encarando ele. Rafael estava muito bonito, não tinha como negar, seus cabelos castanhos estavam jogados para trás, eram lisos. Ele usava um brinco na orelha esquerda.
Voltamos para a sala e nos sentamos. A conversa foi interrompida pelo apito da professora que iria anunciar as duplas para que pudéssemos fazer os trabalhos.
Ela começou a falar a falar, a Bia ficou com o Roger. Diego com uma garota chamada Clara, Alice e Diana ficou com outras meninas que eu nem reparei naquela sala.
- Hugo e Rafael – gelei
(Não, não, não, ódio) – pensei
Eu não olhei para ele, me recusava a olhar. Assim que ela terminou de falar eu me levantei e me aproximei dela.
- professora, posso te pedir um enorme favor – falei
- claro – falou
- me põe com outra pessoa por favor – falei
- por que isso Hugo? – falou
- é que eu não me dou bem com o Rafael e ele não vai com a minha cara, acho melhor evitar atrito – falei
- mas vocês andam com as mesas pessoas, como pode isso? – perguntou
- ele não vai mesmo com a minha cara, fica sempre me encarando sério e com raiva em acho, por favor professora – falei
- mais um motivo para fazerem o trabalho juntos, evitar brigas e aprender a se darem bem, estamos formando cidadãos, tem que aprender a por as diferenças e as intrigas de lado – falou
- só não quero evitar desentendimentos – falei
- Hugo meu lindo, sei que está tentando evitar possíveis atritos com o Rafael que por sinal não é flor que se cheira, mas vocês jovens tem que aprender a deixar essas intrigas e briguinhas bobas de lado, hoje podemos estar bem, mas amanhã acabamos podendo precisar do outro. Vá fazer o seu trabalho e garanto que ficará tudo bem, depois vocês irão me agradecer – falou
Agradecer no inferno – pensei
- tudo bem
Eu peguei a apostila em cima da mesa dela e me sentei em meu lugar, Rafael trouxe a mesa dele e colocou ao lado da minha sentando-se. Olhei para a Bia que ria igual a uma hiena.
- está tudo bem – ele me perguntou
- está sim, acho melhor adiantarmos logo, quanto mais cedo terminar melhor é – falei
Ele me olhou como se perguntasse o que eu queria dizer com aquilo. Começamos a fazer o trabalho, ele conversava comigo nunca boa, como se me conhecesse a anos e eu apenas balançava a cabeça com medo daquela reação repentina.
Passamos a limpo em uma folha de oficio e colocamos os nossos nomes, faltavam apenas 6 minutos para terminar a aula quando entregamos o trabalho.
Ele continuou sentado ao meu lado. Meu celular vibrou e era uma mensagem da Fernanda.
“Ei gatinho, estou passando ai” – mandou
Eu olhei e dei um sorriso simples. Ele me olhou.
O sinal tocou e eu peguei minhas coisas saindo da sala, andei até a saída e antes que eu pudesse cruzar a porta a Bia me chama apressada.
- espera ai – gritou
- o que foi? – perguntei
- está correndo de mim? – falou
- não, é que tem uma pessoa me esperando ali fora – falei
- eu vou com você – falou
Saímos do prédio e eu me dirigi até a Fernanda que estava em pé na frente de um carro vermelho conversando com uma outra garota.
- quem é ela? – Bia perguntou
- uma amiga – falei me aproximando dela
- oi lindo – Fernanda falou me beijando na boca