I can't live, if living is without you...
Parte da série Dois Amigos e um Segredo
- Não sabia que você curtia esse tipo de música, cara. - comentou Andrei mais tarde, enquanto seguiam de carro para o apartamento dele.
- É a nossa música. - respondeu Leon, enterrando mais o gorro preto na cabeça e acariciando o amigo por cima da calça. - Diz o que eu sinto.
- E o que diz a letra? - quis saber Andrei. - Você sabe, eu sempre matava a aula de inglês...
Os olhos de Leon estavam fixos ao longe, num ponto qualquer da movimentada avenida.
- Diz, tipo assim, não posso viver, se for pra viver sem você. - olhou para o amigo. - É isso que eu sinto. Que eu não sei mais viver sem você.
O vocalista riu baixo, estreitando de leve os dedos do outro.
- Caraca, meu! Nunca uma mulher me disse isso, sabia?
- É que nenhuma mulher jamais vai amar você como eu. Nem outro homem...
Deixaram o carro na garagem e subiram pelo elevador de serviço. Ao entrarem no apartamento, Leon pôs a tocar o CD de Mariah Carey na faixa " Without You". Olhou demoradamente para Andrei, enquanto ia jogando suas roupas no chão.
Ficaram cerca de um ano juntos. O apartamento de Andrei era o esconderijo daquele amor secreto. Foram felizes, embora Andrei nunca dissesse claramente o que sentia por Leon, se também o amava ou não. Mas Leon era feliz mesmo assim, entregava-se sem cobranças nem questionamentos. Para ele era suficiente que Andrei se deixasse adorar. Porém uma coisa o preocupava, o vício do companheiro em cocaína. Andrei negava, dizia que estava parando aos poucos, mas Leon sempre encontrava no apartamento canudos e trouxinhas de pó branco. Ele também agora estava cheirando mais um pouco. Mas, sentia que Andrei se aborrecia ao tocarem no assunto e não queria repetir o mesmo erro que a ex-mulher dele.
A banda tinha um show e viajariam no dia seguinte. Leon tentava ligar para o celular de Andrei e só dava fora de área.
Pensou, Andrei se esqueceu de por o celular pra carregar outra vez, ele sempre esquecia, e resolveu ir até o apartamento dele, pois logo teriam se seguir para o aeroporto.
- Andrei! - chamou ao abrir a porta e entrar. Não houve resposta. - Andrei, onde você se meteu, cara? Daqui a pouco a gente tem de viajar, sabia? O celular de Leon tocou nesse momento, era o Rafa, ele colocou o aparelho no silencioso. = Andrei, você está aí, cara?
Silêncio... Leon entrou no quarto e então viu Andrei, estendido sobre a cama de casal, a cama onde haviam feito amor tantas vezes. Pensou que ele estivesse dormindo e o sacudiu.
- Acorda, querido! A gente tem...
Mas, ao tocar no amigo, sentiu que ele estava diferente... gelado.Uma espuma sangrenta escorria pelo canto de sua boca. Os olhos cor de mel estavam abertos e vidrados.
No primeiro momento Leon recusou-se a entender. Depois gritou como se estivessem lhe arrancando o coração.
" Eu não matei o Andrei. Quando cheguei aqui ele já estava morto.Eu vou ao encontro dele. Peço que nos enterrem juntos no mesmo cemitério."
Leon terminou de escrever o bilhete e o deixou sobre a mesa da sala. Estava estranhamente calmo, sem lágrimas. Havia enlouquecido. Pôs a tocar a música da Mariah Carey no modo repeat, de forma que tocasse sem parar. Foi até a cozinha cantarolando e pegou uma faca para churrasco, super afiada, da gaveta. Voltou ao quarto onde jazia o corpo sem vida de Andrei.
- Não posso viver sem você, meu amor... - murmurou... e perdido, louco, desvairado, Leon cravou a faca profundamente em ambos os pulsos, abrindo as veias.
O sangue brotou em profusão, manchando o chão, as paredes, os móveis, caía quente sobre o corpo de Andrei. Leon, sofrendo terrivelmente e pálido como a morte que se aproximava, beijou pela última vez os lábios gelados de seu grande amor.Lembrou confusamente dos caras transando no matinho, da prancha de skate que dividiam, do pacto de sangue que haviam feito, e que agora se realizava... esvaindo-se em sangue, caiu sobre o corpo do outro e morreu pouco depois.
Foi assim que a polícia os encontrou no dia seguinte. A música continuava a tocar.
Agradeço a todos que lerem e comentarem meu conto. Esse é um conto de ficção, qualquer semelhança com fatos ou pessoas reais terá sido mera coincidência.